Sesimbrense de 26 anos desenvolveu, com um grupo de amigos, um dispositivo que vai permitir aos médicos suportarem decisão clínica
Com apenas 26 anos, Diogo Tecelão carrega já aos ombros uma grande responsabilidade: é o líder da start-up que no primeiro trimestre do próximo ano vai “revolucionar a prática clínica e a forma como a tosse é hoje abordada”.
Isto tendo em conta que, através da empresa que o engenheiro biomédico de Sesimbra criou com cinco colegas de curso, vai ser lançado para o mercado um dispositivo inovador que “vai permitir monitorizar a tosse dos doentes”.
“No fundo, o C-mo [Cough Monitoring Medical Solutions], que é o nome do nosso produto, consiste num dispositivo confortável, que os próprios utentes ou os médicos colocam na região abdominal e mantêm durante o período de monitorização”, explica.
O intuito da ferramenta é “não só acelerar o diagnóstico de várias doenças, como também é encontrar qual a medicação e dose que funciona melhor para cada doente”.
“É um dispositivo que os médicos vão poder utilizar para suportar a sua decisão clínica. Também os doentes crónicos vão poder gerir o processo e melhorar a sua qualidade de vida e os seus cuidados de saúde”, descreve.
Apesar de os resultados serem acessíveis através de “uma aplicação móvel, que os próprios doentes podem utilizar”, o C-mo foi pensado para “funcionar com os vários tipos de utilizadores”. “O dispositivo funciona tanto em populações pediátricas como em adultos. Funciona em regiões mais remotas, que não têm tanta ligação à internet. Depois está preparado para utilizações mais avançadas, como, por exemplo, para telemedicina”.
Ferramenta criada após desabado de professor de Fisiopatologia
Para se compreender com precisão como surgiu a oportunidade, é necessário recuar aos tempos de faculdade do jovem. “Estávamos em 2019, no curso de Engenharia Biomédica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa quando, numa aula, um professor de Fisiopatologia desabafou que precisava, enquanto clínico, de ter uma ferramenta que permitisse monitorizar de forma objectiva a tosse dos doentes”.
Esta necessidade, justifica Diogo Tecelão, surge devido ao facto de “a tosse crónica ser um dos sintomas mais comuns na prática clínica”, sendo que o problema “é que de momento não existe forma de obter informação objectiva sobre a mesma”.
Ao reconhecerem a importância de se “conseguir monitorizar as várias características peculiares da tosse do doente”, Diogo Tecelão, Sara Lobo, Filipe Valadas, Miguel Andrade e Alexandra Lopes aceitaram o desafio e colocaram mãos à obra.
“Decidimos avançar de imediato não só para aprendermos e para nos desenvolvemos, mas porque acreditámos que isto era algo que poderia realmente mudar o mundo. Começámos logo a desenvolver o produto, mas fora do horário escolar. Reuníamo-nos depois das aulas. Fomos nós, com recursos próprios, a desenrascarmo-nos”, conta.
Já para conseguirem “validar a tecnologia”, o grupo tem contado “com a ajuda preciosa de vários médicos”. “Têm-nos dado acesso a doentes, nomeadamente o Dr. Nuno Neuparth, imunoalergologista que faz hoje também parte da equipa da start-up e que permitiu que tivéssemos acesso a vários contactos de médicos do Hospital D. Estefânia”.
Jovens desenvolvem versão final do dispositivo desde 2020
Os primeiros resultados surgiram “passado um ano, sensivelmente”. “Começámos por desenvolver um protótipo muito rudimentar, sem muito custo associado, e só depois passámos para um mais avançado, que nos vai permitir fazer a validação clínica”. Desde 2020 a esta parte, o engenheiro biomédico revela que têm “estado a desenvolver a versão final do dispositivo, que vai realmente para o mercado”.
“Estamos muito orgulhosos por sabermos que isto poderá salvar vidas e acelerar diagnósticos. No fundo é essa a nossa motivação e foi para isso que tirámos o curso”, garante o jovem, que nos tempos livres diz gostar de passear e de aproveitar o sol.
Cem mil euros em bolsas e prémios alavancam projecto
Além de quererem “ganhar prática e experiência de trabalho”, os jovens acreditaram desde sempre que a ferramenta poderia “realmente revolucionar a medicina”. Ao início, começaram a desenvolver o projecto com “fundos monetários próprios”. O passo seguinte passou “inevitavelmente pela criação da start-up Cough Monitoring Medical Solutions”, sediada em Almada, no Madan Parque. “Já tínhamos um produto com bastante potencial e tínhamos de reflectir isso na criação de uma empresa que permitisse meter o dispositivo no mercado”.
No entanto, a empresa, que surgiu “oficialmente em Junho de 2020, “tem estado efectivamente a crescer através de bolsas e prémios”. “Além de termos ganho uma bolsa de 40 mil euros da EIT Health, também recebemos 50 mil euros do Altice Internacional Innovation Award”, descreve Diogo Tecelão.
Actualmente, além do jovem de 26 anos, cuja especialização “é mais na área do processamento de bio sinais e inteligência artificial aplicada à saúde, também Sara, de Almada, dedica-se a 100% à start-up, apesar “de todos se manterem activos no projecto”.
“Fazem-no de forma pós-laboral, mas com o novo investimento vão transitar mais alguns para tempo inteiro. Até porque cada um tem a sua função”. Além dos cinco elementos iniciais, “a empresa tem hoje mais dois funcionários: o Pedro Silva e o Ricardo Sá”.
Já o futuro próximo passa por “fechar uma ronda de investimentos, que vai permitir obter aprovações regulamentares necessárias para entrar no mercado europeu e americano”. “Enquanto vamos ganhando reputação, o dispositivo vai ser vendido numa fase inicial apenas aos hospitais, talvez por 600 euros, sendo que é reutilizável, com a premissa que o mesmo é pago através da prescrição aos doentes em menos de um ano”, revela.
Diogo Tecelão à queima-roupa
Idade 26 anos
Naturalidade Sesimbra
Residência Sesimbra
Área Engenharia Biomédica
Com o seu grupo de amigos, unidos por uma causa comum, está a desenvolver uma solução que poderá revolucionar a medicina