27 Abril 2024, Sábado
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Márcio Souza: “Não há oposição à CDU no executivo, foi feito um governo de coligação”

O autarca ex-Chega admite que, tal como o PS, assumiu um acordo de entendimento com a maioria liderada por Francisco Jesus, a quem promete apoio incondicional. Diz continuar a acreditar na direita, mas que governa ao lado da CDU

 

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Entrou para o executivo municipal de Sesimbra pela porta da direita, mas acabou a dar respaldo à gestão de esquerda da CDU. Márcio Souza, 47 anos, vereador independente eleito pelo Chega, desfiliou-se do partido e assumiu o pelouro da Protecção Civil.

Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM, o autarca faz um balanço “positivo” à metade do mandato já cumprida e arrasa o PS. “O que fizeram em campanha foi passarem um atestado de burrice aos sesimbrenses, que esperavam oposição”, considera. Diz ser rotulado como “vereador do povo” e garante que se recandidatará em 2025, por outra força política ou como independente. Porém, promete apoiar Francisco Jesus, caso o presidente da autarquia se recandidate pela CDU.

Que balanço faz ao trabalho desenvolvido pelo executivo na metade do mandato?

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Tem sido positivo, independentemente das dificuldades que enfrentamos. Os desafios são constantes, diários, e acredito que o trabalho que tem sido desenvolvido em conjunto com a CDU é um trabalho de futuro. Quando sou questionado, costumo dizer: o que está feito até agora, está bom, mas poderia ser melhor.

Como avalia o contributo da oposição, nomeadamente do PS?

O PS em Sesimbra não é oposição. Deparei-me com um PS de mãos dadas com a CDU. Não posso aceitar que o PS seja aqui oposição. O que foi dito em campanha eleitoral pelo PS veio por água abaixo a partir do momento em que fizeram um acordo de entendimento com a CDU.

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E Márcio Souza não fez? Não se considera o “fiel da balança” para a gestão CDU, tendo em conta que o executivo é composto por sete elementos (três da CDU, três do PS e Márcio Sousa)? Não está refém de acompanhar a CDU, por ter recebido o pelouro da Protecção Civil?

O entendimento com a CDU veio depois da minha ruptura com o Chega. [Primeiro] O PS propôs-me que alinhasse com eles, que trabalhasse com eles, que fizesse uma coligação com eles, quando eu já era independente. Achei por bem dar conhecimento disso ao presidente Francisco Jesus, mas antes informei o líder do PS de que o ia fazer. E ele disse-me: “Vais vender-te à CDU”. E respondi: “Assim como vocês fizeram”. A grande diferença entre eu e os três vereadores eleitos pelo PS é que eles representam um partido. O que fizeram em campanha foi passarem um atestado de burrice aos sesimbrenses, que esperavam oposição. Mas foi feito um governo de coligação…

… Não existe oposição à gestão CDU?

Com toda a franqueza, não!

Quais foram as condições que o PS lhe apresentou?

O líder do PS [Nelson Pólvora] procurou-me, propôs-me que alinhasse ao lado deles. No entanto, eles já tinham pelouros, já tinham acordo feito com a CDU, e perguntei qual seria a minha posição. O objectivo era eu fazer parte do conjunto socialista, assim governaríamos o município. Não achei bem, não respondi na altura. No dia seguinte fui ao gabinete de Nelson Pólvora e disse que aceitaria a proposta, se ficássemos os quatro sem pelouros. Ele disse que não e eu respondi que iria ouvir a proposta do presidente. Falei com Francisco Jesus que me disse que não me poderia oferecer nada, porque a força política dele não aceitava, não lhe dava abertura para me oferecer nenhuma pasta. Nesse momento informei-o da proposta que Nelson Pólvora me tinha feito e aquela que tinha sido a minha resposta: que aceitaria, caso eles ficassem sem pelouros como eu.

O que está a dizer é que toda a gente na oposição sucumbiu à entrega de pelouros por parte da CDU?

Tenho alguns princípios que não perco. Um deles é o carácter. Quando o presidente me disse que o representante do partido Chega não teria direito a nenhuma pasta, aceitei a condição porque sabia de onde estava vindo.

Mas não acha que foi desleal para com o partido que o elegeu? Como é que um defensor de Bolsonaro, que representa a direita no Brasil, acaba a assumir pelouros num executivo de esquerda, comunista, em Sesimbra?

Foi um divórcio que não pensava que fosse acontecer tão cedo. Acho que André Ventura tem uma capacidade impressionante como político. Nunca escondi isso ao presidente nem aos outros vereadores. Vindo do Brasil, de uma família tradicional brasileira, cresci na Igreja, fiz o serviço militar obrigatório, estive três anos numa unidade militar, vi sempre a direita como expoente máximo…

… Então como passa para o “extremo” oposto em Sesimbra? Deixou de acreditar ou ainda acredita na direita?

Acredito na direita. A mudança não foi assim tão radical, não ando com um cartão da CDU no bolso. O PCP tinha algumas valências e este executivo municipal mostrou-me que nem todos na esquerda são aquilo que me venderam. Acreditei no projecto deles. Quando transmiti ao presidente a proposta que o PS me fez, ele disse que não me podia oferecer nada. Então respondi: o sr. sabe que sou o fiel da balança, votarei como achar bem nas reuniões [do executivo], para sim ou para não. Quando eu ia a sair a porta, ele disse: “O que te posso dar é meio pelouro da Protecção Civil”. Pensei que tinha de representar o povo de qualquer maneira e só perguntei: “Não tenho de me filiar no partido?” Ele sorriu e disse que não. Então aceitei.

O que seria preciso para voltar ao Chega?

Essa porta não abre mais. O Chega é passado.

Não deixa de ser curioso verificar que aconteceu o mesmo com vereadores eleitos pelo Chega em Seixal, Moita… Que leitura faz a esta situação?

A ruptura total veio com a votação do Orçamento Municipal. Quando enviei a ordem de trabalhos para o partido e falei com o deputado Bruno Nunes ele disse-me: “A gente sabe que o PS vai votar contra e você vai votar contra e a câmara vai abaixo.” Achei que não era o melhor caminho. E viabilizei o orçamento. Foi a gota de água. Acho que, do partido, só não me ligou quem não tinha o meu número.

Retiraram-lhe a confiança política?

Não. Eu fiz a minha campanha [eleitoral] e paguei-a. Fui eu que montei a concelhia, fui eu que criei o Chega Sesimbra, fui o rosto do partido… Veio um comunicado a dizer que André Ventura queria falar comigo, não aceitava o que eu tinha feito. No dia seguinte disse ao meu assessor político, Luís Pina, que ia deixar o partido. E ele disse-me que se eu saísse, saía também. Mandámos um e-mail para o partido a comunicar a desfiliação, comunicámos à Imprensa e à câmara municipal. E veio o turbilhão… Ofensas, desacatos de todas as formas. Militantes do Chega ameaçaram-me no meu espaço comercial…

Acaba de associar o Chega a uma ditadura.

Não digo o partido num todo, mas alguns membros. Uma vez o antigo presidente da distrital, Luís Maurício, disse-me que era conhecido dentro do partido como o “pequeno ditador”. Caiu-me mal.

Admite votar no Chega nestas legislativas?

Não, mas vou votar na direita. Não posso dizer que deixo de apreciar muitos dos projectos de André Ventura. Acho que era uma mais-valia ele vir a ter uma pasta que lhe desse o desafio de provar que pode levar em frente os projectos que tem.

Está ultrapassado o diferendo que teve com o vereador Miguel Fernandes no executivo?

É uma pessoa difícil. Julga-se muito competente, mas não é. Está ultrapassado a nível pessoal. A nível político, comigo, o PS não passa. Neste dois anos tenho estado à espera de alguma proposta deles que venha trazer alguma melhoria para Sesimbra, mas ainda não vi nenhuma.

Este Orçamento Municipal foi o maior de sempre. Mas podia ir mais além?

O presidente teve o cuidado de trabalhar o orçamento com todos os vereadores. O PS absteve-se. Acho que, dentro daquilo que é comprometido, é um grande orçamento que nos coloca desafios acrescidos.

A descida do IMI poderia ter sido maior?

Essa foi uma discussão acesa. Mediante as contas apresentadas pelo presidente em relação ao orçamento, era o que se podia fazer. Temos investimentos que não podem ficar para trás, como a rede escolar, e se a diminuição do IMI fosse maior não sei onde iríamos buscar receita, comprometeria outras prioridades.

Essa discussão foi mais acesa do que o habitual?

Começou pelo orçamento, que foi discutido, acertado entre a CDU, o PS e eu como independente. Ficou tudo acertado em reuniões preparatórias. Mas quando foi apresentado em reunião da assembleia ouvi uma discussão sem motivo. O que já venho a perceber há algum tempo é que há dois PS: o da câmara e o da assembleia municipal. Nunca estão em sintonia. Isso reflecte-se num mau desempenho dos vereadores do PS. Votam a favor na câmara um projecto apresentado pela CDU, mas na assembleia municipal não vai acontecer o mesmo. O líder de bancada socialista na assembleia municipal não concorda com o que os vereadores do PS aprovam em reuniões de câmara. Nem há entendimento entre os três vereadores do PS. Cada um puxa para o seu lado. Cada um “assa e vende o seu peixe” como quer.

A Estratégia Local de Habitação do município foi a mais correcta?

Aquilo que foi apresentado é, para o município, o suficiente. Não podemos ir mais além. A habitação é um problema a nível nacional. Neste momento o que se consegue fazer para o concelho de Sesimbra é isto, não dá para mais. O problema não se resolve dentro dos [próximos] dois anos de mandato em nenhum município.

Qual será o seu futuro político? Iremos ver Márcio Souza a candidatar-se às autárquicas de 2025?

Sim. Vou ser candidato em 2025. Se será por uma força política ou como independente, ainda vou pensar. Fui abordado pelo partido Aliança para as legislativas. Seria o número dois, pelo círculo de Setúbal, mas disse que não. Por respeito aos sesimbrenses, ao cargo que agora ocupo e pela falta de experiência política.

Já foi convidado por algum partido para as próximas autárquicas?

Já, para encabeçar uma lista.

Está a dizer que nas próximas autárquicas poderá integrar as listas da CDU?

Não!

Foi convidado pela direita, mesmo colocando-se ao lado da gestão CDU neste mandato?

Tenho sempre o cuidado de dizer que estou a governar ao lado da CDU, uma força de esquerda, com a qual me comprometi e não vou deixar o compromisso que firmei com o presidente, que tem mostrado carácter político e não exige nada – não tenho de votar favoravelmente tudo o que a CDU apresenta…

… No entanto, vota.

Tiro as minhas dúvidas antes.

Já votou alguma vez contra alguma proposta da CDU desde que assumiu o pelouro da Protecção Civil?

Acho que contra, não. Mas já me abstive.

Abstenção [no seu caso] é viabilizar.

É o que o PS faz.

Acha que os cidadãos eleitores vão perceber essa “dicotomia” de hoje apoiar a governação à esquerda e amanhã poder voltar a surgir numa lista de um partido de direita?

Tenho sido rotulado como “vereador do povo”. Os sesimbrenses encontram em mim uma política de proximidade. Não me escondo de ninguém, falo com toda a gente. Para mim todos contam. Não viro as costas a ninguém. Escuto todos os que me procuram. Há vários eleitores do PS, da CDU, do PSD, de vários partidos que me procuram…

Se a CDU o convidasse para integrar as listas, aceitaria?

Aceitaria com uma condição: figurar na lista como independente. Se o candidato da CDU for o presidente, tem o meu apoio. Tenho respeito, admiração, carinho especial por Francisco Jesus.

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