Preço no mercado ibérico está acima do verificado na Alemanha e em Portugal não existem mecanismos suficientes de apoio à indústria eletrointensiva
A Siderurgia Nacional, do grupo Megasa, principal consumidor de energia eléctrica em Portugal e um dos principais de gás natural, está apreensiva com a escalada dos preços da eletricidade no mercado grossista.
O aumento dos preços verificado por toda a Europa atinge contornos mais delicados no mercado português. É pior e mais preocupante, quando comparado com a situação que se vive no centro da Europa. Por duas razões, conforme explica a empresa que tem duas fábricas instaladas em Portugal, uma das quais no Seixal.
Primeiro, porque “os preços totalmente descontrolados e muito superiores (mais de 15%) no mercado ibérico do que em relação à Alemanha,” depois, porque “em Portugal não existem os mecanismos de apoio à indústria electrointensiva” que os outros países, quase todos, adoptaram há muitos anos – salienta a empresa.
A esta situação acresce a incerteza quanto ao anunciado fim da interruptibilidade que, sem haver um quadro suficiente de medidas alternativas, “compromete fortemente ou pode até inviabilizar uma parte muito importante da actividade” da Siderurgia Nacional. É que a Megasa exporta mais de 70% da sua produção, principalmente para o resto da Europa.
“A subida de preços no mercado, unida ao anunciado fim da interruptibilidade, por um lado inviabiliza a sua capacidade para exportar para esses mercados, onde existem medidas diferenciadoras para os custos de eletricidade para indústrias nossas concorrentes; por outro lado, favorece capacidade desses concorrentes no mercado nacional.”
Os preços de mercado refletem-se tanto se a fórmula contratada é a preço fixo como a preço variável. A situação actual requer, a curto prazo, a construção de um cabaz de medidas diferenciadoras no custo de electricidade para a indústria eletrointensiva, “nomeadamente a siderúrgica, ao nível máximo permitido pela normativa europeia, de forma semelhante ao existente nos principais países industrializados da Europa, como a França ou a Alemanha”, defende a empresa.
Isto implica “a aprovação da compensação de custos indirectos de CO2 com valores muito superiores ao anunciado recentemente pelo Governo”, bem como “a aprovação “a aprovação de mecanismos diferenciadores adicionais como o mecanismo de reserva de segurança em forma compatível com a atividade industrial.”
Já a médio prazo “será necessário modificar a actual forma de construção de preços no mercado”. Opções propostas ao Governo O grupo empresarial tem vindo, por isso, a propor ao Governo um conjunto de medidas que considera “fundamentais” para defender a indústria electrointensiva e, sobretudo, o sector siderúrgico.
“Estes são alguns caminhos possíveis. O que é evidente para a Siderurgia Nacional é que algo tem de ser feito no curto prazo para não comprometer a operação da indústria e, em última análise, a sua própria viabilidade”, alerta, a concluir.
A Siderurgia Nacional é o primeiro reciclador em Portugal (2,2M toneladas de sucata/ano), registou um investimento de 700 milhões desde a privatização e conta com 740 postos de trabalho directos e cerca de 3.500 indirectos. Isto para um volume de negócios de mais de mil milhões de euros em 2021 – 83% da facturação para a exportação (60% via marítima).