O Teatro da Terra criou este ano vários espectáculos de grande público. Em Novembro vai estar no Festival de Teatro do Seixal com Romeu e Julieta
Maria João Luís, actriz e encenadora que fundou em 2009 com Pedro Domingos o Teatro da Terra, sediado no Seixal, defende que o hábito pela cultura, inclusivamente o teatro, deve ser incutido logo nos primeiros anos de escola. Diz que os concelhos com maior oferta cultural conseguem uma melhor economia através dos públicos que atraem.
Não poupa o Governo por ser parco no apoio financeiro à cultura e fala na tristeza e insegurança que os artistas são obrigados a viver.
Qual a importância da cultura para o desenvolvimento da população e economia local?
A cultura tem uma importância geral. É fundamental ser transmitida logo nas escolas criando habituação nos miúdos para dela usufruírem. Este trabalho, de alguma forma, já é feito, mas deveria englobar também áreas como o teatro, e logo desde muito cedo, no ensino primário.
Na sociedade, globalmente, a cultura tem também um papel importante em termos económicos para os concelhos com maior oferta cultural. As pessoas vão aos espectáculos, consomem na localidade, pernoitam, fazem viver as cidades, fazem viver os concelhos. E isto acontece tanto com espectáculos de teatro como musicais, também com exposições e leituras encenadas, ou outras áreas das artes.
Mas a questão económica também tem de ser vista por outro lado; a falta de apoio para a cultura, e isso, neste País, é flagrante. É um grave problema com que nos debatemos todos. As pessoas têm de comer, têm de sobreviver e a cultura é uma oferta para toda a gente. É oferecida a toda a gente.
Está a dizer que o público tem pouca capacidade financeira para usufruir de espectáculos?
Por exemplo, no Teatro da Terra praticamos preços muito baixos. A cultura não é cara; o que é caro, o que está difícil, é as pessoas suportarem ordenados parcos para conseguirem sobreviver, quanto mais para usufruir da cultura. Isto é um problema social grave para o qual tem de ser encontrada uma solução. É importante haver uma maior sensibilidade da parte do Governo e dos nossos dirigentes para este assunto.
Continua a haver uma espécie de orelhas moucas relativamente ao 1% do Orçamento do Estado para a cultura. É o que defendemos, por isso vamos para a rua gritar por essa percentagem; lutamos para que possamos ter uma maior qualidade nos nossos trabalhos.
Os orçamentos são pequenos, é tudo pequeno, e a gente desunha se para conseguir fazer as coisas, para conseguir levar ao público os espectáculos como nós os concebemos, como nós achamos que o público também os merece ver.
Sendo os apoios do Governo para cultura curtos, como conseguem as companhias, particularmente o Teatro da Terra, levar a palco as suas produções?
O Teatro da Terra tem apoio da DGARTES. É evidente que gostaria de ter mais, mas corremos o risco de, ao pedir mais, depois não ter nada. Temos de andar sempre numa espécie de “golpe de rins” para conseguir ter algum dinheiro para trabalhar. Vamos buscar
apoios às autarquias, vamos buscar apoios a onde pudermos, para conseguirmos efectivamente cumprir com tudo aquilo que temos para cumprir.
O apoio da DGARTES à produção é determinado por espectáculo ou a toda uma programação?
No nosso caso o apoio é para três espectáculos por ano. É isso que nós fazemos e temos vindo a fazer já há doze anos. São essas três produções que adoro fazer e não é por falta de empenho ou de força da nossa parte que elas não se concretizam com a maior qualidade possível.
Houve agentes culturais descontentes com a DGARTES por terem ficado fora dos concursos para apoios financeiros. Nada que tivesse tocado ao Teatro da Terra?
Nada que nos tivesse tocado a nós, mas ficámos tristes por saber que há pessoas nessa situação. Há companhias que, pelo passado imenso que têm, deveriam estar seguras como é o caso de A Barraca que ficou fora dos concursos. É uma coisa chocante. Estamos sempre
a ser colocados perante a situação de que, um dia, acontece comigo. Isto deixa-nos tristes e inseguros. Actualmente, há segurança em
alguma profissão?
Tendo o Teatro da Terra começado em Ponte de Sor em 2009, o que motivou a decisão de vir, há três anos, para o Seixal. Para ter mais público ou mais oportunidades?
Os meus filhos estavam a entrar nas Faculdades em Lisboa e era muito difícil para mim manter uma companhia de teatro tão longe. Não queria deixá-los vir para Lisboa e eu ficar lá, portanto viemos para o Seixal. Procurámos uma autarquia e
o Seixal, entre outras duas, mostrou-se interessado no nosso projecto.
O concelho tem 170 mil habitantes, está a crescer e isso é aliciante.
Em termos de produções, o que pode adiantar sobre o que a sua companhia está a programar ainda para este ano?
Este ano já apresentámos vários espectáculos, entre eles Amor de Dom Perlimplim com Belisa em seu Jardim de Federico Garcia Lorca, em Junho, no palco do Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal, em seguida, em Novembro, na abertura ou encerramento do
Festival de Teatro do Seixal, vamos apresentar também no Auditório Municipal, Romeu e Julieta de William Shakespeare. É um espectáculo único.
Em Janeiro vamos ter outra produção, não sei ainda as datas, fazemos duas semanas de espectáculos e, depois, vamos em tournée.