O palco do Avanteatro vai receber sete peças que desafiam o público a envolver-se e reflectir
O teatro sempre teve um lugar reservado na programação da Festa do Avante!, não sendo este ano excepção. O palco do Avanteatro será cenário de sete peças que contemplam os mais variados gostos.
O primeiro a subir à cena é “Corpo Suspenso”, escrito por Rita Neves para a Latoaria/Candonga Associação Cultural. Aqui, a autora leva-nos a reflectir sobre o “corpo enquanto arquivo”. Escreve a dramaturga: “Os corpos transportam memórias. O que ficou da Guerra Colonial no corpo do meu pai? Por que é que o seu corpo parece trazer, por vezes, memórias silenciadas? Através de uma narrativa revelando episódios da vida do meu pai que passou pela Guerra Colonial, investigo esta ideia de corpo como lugar de memórias”.
Por sua vez, Maria João Luís, do Teatro da Terra, companhia residente do Seixal, interpreta “A Última Refeição”, texto de António Cabrita e encenação de António Pires. Trata-se de um monólogo em que se vê Helena cozinhando para Bert: frango na púcara com temperos à Mãe Coragem. Enquanto o faz, vai cogitando na existência que viveu com Bert, alegrias e sofrimentos, até traições.
Com Bert no caixão, ela tem de dar uma resposta à morte. Se não o substituir por outro, a morte promete ressuscitá-lo. Desorientada, põe-se a cozinhar o prato preferido de Bert, um acepipe digno de ressuscitar um morto.
“Elogio da Loucura” tem como intérpretes Hélder Mateus da Costa e Maria do Céu Guerra. Inspirado na obra homónima de Erasmo de Roterdão, que no seu tempo foi perseguido pela Inquisição, Hélder Mateus da Costa propõe um novo Renascimento.
Num texto de apresentação de “Elogio da Loucura”, Hélder Mateus da Costa salienta que a “agudeza satírica e coragem de Erasmo continuam a ser um bálsamo para os nossos dias”. O novo Homem do Renascimento “tinha confiança em si próprio, conquistada com uma luta que o transformou no grande instrumento da sua época, livre de ter como único socorro a graça divina”.
Lugar às crianças
Os mais pequenos são contemplados com três espectáculos, dois do Teatro “O Bando” e outro da Companhia de Teatro de Almada. Uma das mais antigas e emblemáticas cooperativas culturais leva ao Avanteatro “Joana”, um espectáculo a sonhar o mar, e “Ti Miséria”, a personagem mais antiga de O Bando. O primeiro, inspirado em “Silêncio e Saga”, de Sophia de Mello Breyner Andresen, interpretado por Suzana Branco, surge como “um monólogo com muitas personagens dentro”. É uma peça “onde a representação, a abstracção e o simbolismo são ferramentas usadas à vista de todos”.
No que respeita a Ti Miséria, é interpretada por Paula Só, actriz que, em 1986 ganhou o prémio da Melhor Interpretação do Ano atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, ex-aequo com Eunice Muñoz.
Ti Miséria “queixa-se que lhe subiam à nogueira e lhe roubavam as nozes, o seu único tesouro, mas um dia descobriu uma maneira de isso não voltar a acontecer. Descobriu, também, uma maneira de enganar a morte”. Ambas as encenações têm a chancela de João Brites.
A Companhia de Teatro de Almada apresenta-se com “Ando a Sonhar com Beethoven”, escrito e encenado por Teresa Gafeira. Desvenda a encenadora através das personagens que põe em movimento, que o pequeno Jorge gosta de ter os brinquedos bem arrumados e só assim dorme sossegadinho debaixo dos cobertores. O pior é que todas as noites, um homem gadelhudo e barulhento lhe entra pelo quarto, sem pedir licença, mexe em tudo, desarruma tudo, coisa que lhe custa suportar! O Jorge, porém, com a música que sempre traz com ele, torna o quarto como que mágico. A Alfa e a Beta até lhe chamam o Beethoven.
Música e poesia
Bebemos palavras a mais? Uma proposta da Narrativensaio-AC, criada por Luísa Pinto e Cristina Bacelar, onde se cruza a poesia com a música e se fala de como o amor, seja ele como for, é um lugar espantosamente belo, onde até o humor ganha o seu espaço.
Bebemos palavras a mais?! transporta-nos para uma toada profunda sobre esse lugar do Humano, num trajecto que vai do erudito ao popular, entre a palavra dita e cantada, tocada e encenada.