23 Abril 2024, Terça-feira
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Avante! cumpriu regras sanitárias e ganhou aposta contra quase todos

Ouvia-se dizer na Atalaia que “quando pedem aos comunistas para fazer bem, eles fazem melhor”. Exemplar o respeito pelas normas da DGS

 

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É verdade que esta 44.ª edição da Festa do Avante! chamou menos gente do que o habitual, efeito, porventura, da campanha de medo e insinuações que alguns veicularam em órgãos de comunicação, durante os últimos meses. Mesmo assim, não deixou de se afirmar, como vem acontecendo há décadas, como o maior evento político-cultural do nosso país. Bastou ir e ver!

Qualquer pessoa sem preconceitos que tenha entrado na Atalaia, após a abertura dos portões, na sexta-feira, terá compreendido de imediato que estava em plena segurança, tal a eficiência de quem a acolhia e do aceitamento tácito das normas sanitárias: uso de máscara, pontos de higienização por todo o lado, obrigatoriedade de luvas em certos pavilhões, delimitação de áreas, assistentes em pontos estratégicos, marcação dos trajectos pedonais, afastamento entre cadeiras e mesas, lugares sentados e de distanciamento normativos nos espectáculos. Tudo respeitado sem resistência, com plena consciência de que tinha que ser assim para o fim pretendido. Talvez seja a isto que se chama disciplina revolucionária.

Não deixamos que nos tapem os olhos

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Como de costume, a saudação de boas-vindas esteve a cargo de Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, só que desta feita não presencialmente, mas através da instalação sonora para evitar aglomerações no pequeno comício que se forma. O responsável do Partido não foi meigo para aqueles que tanto “mal fizeram ao direito à saúde” e que agora sentem um “rebate de consciência e vêm à praça pública invocar razões sanitárias para impedir a Festa”. E reforçou: “Usando um autêntico arsenal mediático, aproveitando as legítimas preocupações em relação ao surto epidémico, o que realmente pretendem é pôr em causa os direitos políticos constitucionais”. E rematou: “Respeitemos e cumpramos todas as medidas de protecção sanitária. Usemos a máscara de acordo com o recomendado. Mas não deixemos que nos tapem os olhos em relação à necessidade de continuar a estar e a lutar onde sempre estivemos – com os trabalhadores, com o povo português, sejam quais forem as circunstâncias, luta inseparável do exercício dos direitos, liberdades e garantias constitucionais”.

A diversidade na qualidade continua a impor-se como uma imagem de marca da Festa. Numa última deambulação antes de abandonarmos o espaçoso recinto, na sexta-feira, vimos Aldina Duarte actuar no Auditório 1.º de Maio, que daí a pouco daria lugar a Camané & Mário Lagina; no pavilhão de Lisboa, cantava-se o fado; no Avanteatro, Boldie & Cloide arrastava-nos para o sentimentalismo das canções dos anos 20 e 30; José António Gomes, na Auditório do Livro, orientava uma homenagem a Mário Castrim; no Palco 25 de Abril, ouviam-se “Sons e vozes de África contra o racismo”, protagonizados por Maria Alice, Costa Neta, Anastácia Carvalho e Gerson Marta; em projecção, o belíssimo filme “Santiago, Itália”, de Nanni Moretti, enquanto na zona do desporto Augusto Flor, presidente da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, e seus pares debatiam o impacto do encerramento das instalações desportivas e da suspensão das actividades associativas na comunidade e nos profissionais. É fácil a escolha, não é?

Contra o politicamente correcto

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Muita mais gente rumou à Atalia na jornada de sábado, embora sem fazer esquecer as enchentes de anos anteriores. O debate “Humor e política”, em que participou Ricardo Araújo Pereira (RAP), esteve no centro dos interesses e juntou uma pequena multidão.

Entre temas sérios e humorísticos, RAP lembrou algumas passagens hilariantes da sua vida. Na hora do fecho de um jornal onde trabalhava, o chefe deu um murro na mesa e bradou: “A vitória é difícil, mas é deles!” Disse também ser um crítico do politicamente correcto, o que “não quer dizer que seja contra a boa educação”. A O SETUBALENSE, RAP disse que foi “optimamente recebido” e que ficou satisfeito por ver cumpridas todas as regras sanitárias. Quanto à pandemia, “é difícil para todos, mas a vida tem de continuar”. E acrescentou: “Cumprindo as regras, como aqui, até que chegue ou não uma vacina”.

No palco Avanteatro, o Teatro da Terra, companhia agora residente do Fórum Cultural do Seixal, levou à cena “Abetarda”, de João Monge. Soubemos que o “texto junta o cante alentejano ao teatro de rua, com uma história orientada para uma procissão pagã, habitualmente tecida na base da cultura popular alentejana, polvilhada por reminiscências do cristianismo”. Teve bastante público e mereceu muitos aplausos.

Por entre debates de mil temas, um pouco por todo o lado, Dino d’Santigo e os Blasted fecharam a noite no palco 25 de Abril, um bom digestivo para a massada de peixe a que tinha feito honras no Pavilhão de Setúbal. De longe, do Auditório 1.º de Maio, ainda chegavam harmonias dos Dead Combo.

Determinados na acção confiantes no futuro

Domingo teve como ponto alto o comício, que reuniu mais de 2 mil militantes e simpatizantes do PCP, sentadinhos nas suas cadeirinhas. Jerónimo de Sousa voltou a não ser peco nem parco nas palavras que escolheu para definir a situação política actual e avisou António Costa que “não vale a pena ameaçar com crises políticas”.

Perante dezenas de delegações estrangeiras, o secretário-geral dos comunistas frisou que o PS não poderá contar com o Partido se “as opções que vier a adoptar foram aquelas que o PSD adoptaria”. Jerónimo reforça que o OE 2021 “tem de dar resposta aos problemas mais imediatos, inadiáveis e urgentes”, como o aumento do SMN, a criação de uma rede pública de creches, a recuperação do controlo público dos CTT, do Novo Banco e da TAP.

A terminar lembrou que é “assim que o PCP luta há quase 100 anos! É assim que, honrando a história e os compromissos de sempre, daqui saímos, conscientes das exigências que enfrentamos, determinados na acção, confiantes no futuro”.

A Festa encerrou com um concerto, que certamente ficará na memória, dos Xutos e Pontapés, incitados e aplaudidos por milhares de pessoas entusiasmadas ao rubro.

Tendo assistidos aos três dias da Festa, caminhado dezenas de quilómetros, conversado com pessoas dos mais diversos entendimentos, deixo aqui um conselho sincero: se a Direcção Geral da Saúde precisar de se meter num evento desta dimensão, peça ao PCP que lhes ensine como deve fazer.

Por José Augusto

 

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