Mais de uma centena de utentes, enfermeiros, sindicalistas, autarcas e políticos da região responderam ao desafio lançado pela coordenadora da Comissão de Utentes do Litoral Alentejano (CCULA) e Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) que, esta terça-feira, protestaram junto ao Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém, contra o encerramento de serviços naquela unidade.
Helga Nobre
Envergando faixas de protesto e com gritos de ordem, os manifestantes quiseram demonstrar o seu descontentamento face ao encerramento da Unidade de Convalescença e da Unidade de Cuidados Paliativos, por falta de profissionais.
Dinis Silva, porta-voz da CCULA diz que estes serviços “são fundamentais para assegurar os tratamentos” dos utentes desta unidade. “Já apelamos por diversas vezes para que estas unidades não venham a encerrar e não pensem só em números e, por outro lado, que contratem número de profissionais de saúde suficientes para o normal funcionamento do Hospital e dos Centros de Saúde”, sublinhou.
O dirigente adianta que o conselho de administração da Unidade Local de Saúde recuou na intenção de encerramento dos Paliativos mas que o fecho da Unidade de Convalescença vai para a frente. “Quando anunciamos a organização desta manifestação houve o recuo do encerramento dos cuidados paliativos e esperamos que o mesmo aconteça com a Unidade de Convalescença que, até ao final de outubro, segundo o Ministério da Saúde, será encerrada”, adiantou Dinis Silva que está contra esta decisão. “Faz muita falta para que os utentes não tenham de se deslocar para o Algarve ou para o Porto porque pertence à Unidade de Cuidados Continuados Integrados. Onde houver vagas os utentes terão de ser deslocados para essas zonas, longe do Litoral Alentejano”, alertou.
Antónia Maria, 75 anos, natural da Sonega, Santiago do Cacém, está internada na Unidade de Convalescença há mais de um mês após uma operação à anca. Fez questão de estar presente na manifestação para impedir o encerramento de um serviço que, diz, fazer muita falta. “Não há motivo para fechar aquela unidade porque têm todas as condições para tratar dos utentes, com profissionais competentes”, lamenta a idosa que partilha a unidade com mais utentes. “Estou com mais pessoas na unidade mas não puderam vir porque estão na cama ou na cadeira de rodas. Já foi uma senhora transferida para São Brás de Alportel e outra das Relvas Verdes que vai ser transferida para muito longe e já não estão a aceitar mais internamentos”, adiantou.
Além do encerramento dos serviços, o protesto quer também alertar para a falta de enfermeiros na ULSLA. Em declarações ao Diário da Região, Zoraima Prado, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, diz não compreender o atual contexto. “É uma situação crónica e a falta de enfermeiros nota-se mais ao nível hospitalar chegando ao cúmulo de terem de encerrar serviços por falta de enfermeiros e de assistentes operacionais, por isso compreendemos que tenham grande dificuldade em manter os serviços abertos e a atividade assistencial”.
Na ULSLA faltam 62 enfermeiros, além de assistentes operacionais, técnicos de diagnóstico e terapêutica que comprometem o normal funcionamento dos serviços. Para a sindicalista, o Ministério da Saúde não tem cumprido com as suas obrigações. “Sabemos que o Conselho de Administração diligenciou no sentido de obter autorização para a contratação de alguns profissionais, que já estavam na unidade a recibo verde, mas não obteve autorização do Ministério da Saúde por isso dizemos que haverá por parte da tutela algum incumprimento no que se refere ao compromisso de dar despacho às contratações”, argumentou.
A dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses lamenta ainda que o conselho de administração da ULSLA tenha tentado “boicotar” a divulgação da manifestação.junto dos trabalhadores.
Para o presidente da Câmara de Santiago do Cacém, que também participou na manifestação trata-se de um problema “crónico” que persiste num hospital com apenas 13 anos de existência. “Várias vezes a população e os autarcas tiveram de recorrer a este tipo de iniciativa para reivindicar um direito que assiste a todos”.
Para Álvaro Beijinha, esta é uma “situação emergente” porque se tratam de unidades importantes, cujo encerramento “resultam de um problema estrutural” do Hospital do Litoral Alentejano. “Há falta de financiamento e nesta região temos o mais baixo rácio de financiamento por habitantes em todo o país e nesse sentido não há meios financeiros para que este hospital funcione corretamente” considera o autarca que aponta o dedo à tutela. “Há um garrote ao nível do Ministério das Finanças que não permite a abertura de concursos e a contratação de profissionais de saúde” concluiu o autarca que reúne, esta quarta-feira, com o presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo e com o presidente do Conselho de Administração da ULSLA.
Na manifestação foi aprovada uma moção a exigir uma reversão imediata do possível encerramento destas unidades.