23 Julho 2024, Terça-feira

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Trabalhadores em greve histórica na Autoeuropa confiam num acordo com a administração [act.]

Trabalhadores em greve histórica na Autoeuropa confiam num acordo com a administração [act.]

Trabalhadores em greve histórica na Autoeuropa confiam num acordo com a administração [act.]

Os trabalhadores da Autoeuropa cumprem hoje uma greve histórica, a primeira por razões laborais na fábrica de automóveis de Palmela, mas acreditam que ainda é possível um acordo com a administração da empresa.

O trabalho aos sábados, que está previsto nos novos horários de 18 turnos por semana, considerados fundamentais para atingir os níveis de produção previstos para o novo veículo T-Roc atribuído pela Volkswagen à fábrica de Palmela, está na origem do conflito laboral, com os trabalahdores a considerarem insuficientes as contrapartidas dada pela empresa.

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Os trabalhadores alegam que, além do transtorno que a obrigatoriedade do trabalho ao sábado iria provocar nas suas vidas, a compensação financeira atribuída pela empresa também é muito inferior ao que iriam receber pelo trabalho extraordinário aos sábados.

“A marcação da greve fica a dever-se à intransigência da administração e à obrigatoriedade do trabalho aos sábados sem contrapartidas financeiras adequadas. Se a Autoeuropa pagasse os sábados como trabalho extraordinário, num único sábado ganhávamos praticamente o mesmo do que aquilo que vamos ganhar por fazer três sábados”, disse à agência Lusa um trabalhador que pediu anonimato.

“De acordo com o novo modelo de horários, cada trabalhador irá rodar nos turnos da manhã e da tarde durante seis semanas e fará o turno da madrugada durante três semanas consecutivas”, acrescentou, convicto de que as “compensações financeiras propostas pela Autoeuropa são insuficientes face à nova organização do trabalho”.

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Uma posição corroborada por outros trabalhadores da Autoeuropa que estão em greve, mas que ainda acreditam num entendimento com a administração para a implementação dos novos horários de laboração contínua.

Apesar da greve de hoje, que obrigou a uma paragem da produção, a administração da Autoeuropa só deve retomar o processo negocial após a realização das eleições para a nova Comissão de Trabalhadores, marcadas para 3 de Outubro, seguindo a tradição de privilegiar as negociações com os representantes eleitos pelos trabalhadores.

E, tal como os trabalhadores, também a administração da Autoeuropa acredita que será possível chegar a um novo acordo após a eleição da nova Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa.

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Em carta aos funcionários da empresa antes da votação do pré-acordo no passado mês de julho, responsável pelos Recursos Humanos e Produção da Autoeuropa, Jürgen Haase, alertava para a necessidade dos 18 turnos de trabalho por semana para garantir os níveis de produção previstos para o novo modelo T-Roc.

Na referida, carta, Jürgen Haase, que foi mandatado pela Volkswagen AG para acompanhar as negociações do pré-acordo, lembrava que a decisão de escolher esta fábrica para a produção a nível mundial do T-Roc, demonstrava um “grande voto de confiança” nos trabalhadores e na fábrica de Palmela.

“A Volkswagen AG investiu aqui muito dinheiro. A fábrica foi transformada para que possam cumprir o programa de produção exigido. Isso só será possível com um modelo de turnos contínuos. Para tal a produção aos sábados é inevitável”, acrescentava o responsável da Volkswagen.

Apesar do aviso do responsável da Volkswagen, os trabalhadores não só rejeitarem o pré-acordo que tinha sido negociado pela Comissão de Trabalhadores, como também decidiram avançar para a greve que está a decorrer esta quarta-feira.

Ministério da Economia torce por acordo

O Ministério da Economia “está a acompanhar a situação na Autoeuropa”, cuja fábrica de Palmela está paralisada devido à greve, e “espera que haja acordo entre ambas as partes”, disse hoje à Lusa fonte oficial.

Os trabalhadores da Autoeuropa (do grupo alemão Volkswagen) iniciaram hoje de manhã o segundo turno de greve contra o trabalho obrigatório aos sábados que teve início às 23:30 de terça-feira e termina às 00:00 de quinta-feira.

Contactada pela Lusa, fonte oficial disse que o “Ministério da Economia está a acompanhar a situação na Autoeuropa e espera que haja acordo entre ambas as partes”, isto é, entre os trabalhadores e a administração da empresa.

A fábrica de automóveis da Autoeuropa em Palmela “está completamente paralisada em todas as secções” devido à greve, disse à Lusa fonte sindical.

“Tal como prevíamos, está a haver uma forte adesão à greve. Isto prova que os trabalhadores se identificam com os motivos que levaram a esta paralisação”, disse Eduardo Florindo, do Sitesul, Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul.

“Há centenas de trabalhadores em greve que estão concentrados aqui à entrada da empresa”, acrescentou Eduardo Florindo, salientando quer os sindicatos continuam a aguardar por uma resposta ao pedido de reunião que fizeram à administração da Autoeuropa.

Os cerca de 3.000 trabalhadores que participaram nos plenários realizados na segunda-feira aprovaram uma resolução a confirmar a rejeição dos novos horários, particularmente pela imposição do trabalho aos sábados.

De acordo com o sindicato Sitesul, com os novos horários que a empresa pretende implementar, cada trabalhador só teria direito a gozar dois dias de folga consecutivas de três em três semanas, quando, a juntar ao dia de folga fixa, domingo, a folga rotativa fosse ao sábado ou à segunda-feira.

A administração da Autoeuropa só se deverá pronunciar depois da greve, que termina às 00:00 de quinta-feira.

PCP ao lado dos trabalhadores e ignora acusações de António Chora

O PCP considerou hoje natural que os trabalhadores da Autoeuropa defendam os seus direitos face a uma proposta da administração que “apenas permite” que tenham um fim de semana seguido “de seis em seis semanas”.

Num comunicado sobre a paralisação na Autoeuropa, que ignora as acusações ao partido do ex-dirigente do BE e da comissão de trabalhadores da empresa, António Chora, os comunistas sublinham que “cabe aos trabalhadores e às suas organizações representativas definir as suas posições e formas de luta, como se verifica com os plenários realizados e com a greve de hoje”.

António Chora, numa entrevista publicada na edição de hoje do Negócios, acusa o PCP de estar por detrás da greve para ganhar margem de manobra nas negociações orçamentais como o Governo.

“Sim, é claramente o assalto ao castelo e a tentativa de o PCP pressionar o Governo para algumas cedências noutros lados. Mas isso tem sido a prática ao longo dos anos”, sustentou Chora, que foi membro da comissão de trabalhadores da Autoeuropa e dirigente do Bloco de Esquerda, mas que já se reformou.

No comunicado divulgado hoje, o PCP começa por salientar que “a Autoeuropa é uma importante empresa do sector industrial com um elevado número de trabalhadores e grande peso na economia nacional”.

Mas recorda logo de seguida que “os trabalhadores da Autoeuropa sempre defenderam os seus interesses, e em diversos processos de negociação verificados ao longo dos anos, recorreram a tomadas de posição e formas de luta que travaram ou fizeram recuar medidas que sentiam atingir os seus direitos”.

“Mais uma vez essa intervenção se verifica perante uma proposta de alteração dos horários de trabalho, questão particularmente sensível, uma vez que afecta a possibilidade de os trabalhadores continuarem a ter direito ao fim de semana, dificultando a organização da sua vida pessoal e familiar”, acentua o partido.

Segundo os comunistas, a proposta da administração da empresa do grupo Volkswagen “não garante o sábado como dia de descanso e apenas permite que um trabalhador tenha um fim de semana seguido de seis em seis semanas”.

“Na Autoeuropa o trabalho efectuado aos sábados, domingos e feriados foi sempre considerado como trabalho extraordinário e pago como tal. É por isso natural que os trabalhadores tomem posição sobre esta questão e defendam os seus direitos”, frisa o PCP, defendendo a necessidade de “soluções que permitam responder à defesa dos seus direitos e ao desenvolvimento da produção nesta empresa”.

 

Lusa

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