Director-geral da fábrica, Miguel Sanches, admitiu que a deslocalização de parte da produção é “um cenário que pode estar em cima da mesa” mas sindicato diz não acreditar e mantém convicção de que trabalhadores e empresa podem chegar a acordo
O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Ambiente do Sul (SiteSul) não acredita que questões laborais transfiram a produção do novo modelo da Volkswagen (VW) da fábrica Autoeuropa, em Palmela (Setúbal).
Em declarações à agência Lusa, Eduardo Florindo, dirigente do SiteSul, referiu não acreditar que a marca alemã deslocalize a produção do T-Roc.
“Essa pressão que está a ser feita pelos responsáveis da VW vem no sentido de pressionarem os trabalhadores a aceitarem a proposta que fizeram. Até porque quando a empresa começar a produzir a 100%, que é só em fevereiro de 2018, esperamos que as coisas se resolvam e que as partes cheguem a um acordo”.
Em entrevista ao Jornal de Negócios, o director-geral da Autoeuropa, Miguel Sanches, admitiu que a deslocalização de parte da produção é “um cenário que pode estar em cima da mesa, mas tanto a administração, como a equipa da Autoeuropa irão fazer todo o possível para evitar esse cenário e manter toda a produção do carro em Portugal”.
A greve foi marcada para contestar as propostas de alteração de horário, recordou o dirigente sindical, indicando estar em causa a “obrigatoriedade de trabalhar aos sábados durante dois anos, fora os domingos e os feriados de que ninguém fala, pelo que na prática os trabalhadores passam o tempo todo na fábrica a trabalhar”.
“E o desgaste da saúde que isto provoca, numa empresa que cada vez mais tem doenças profissionais”, referiu.
A cinco dias da realização da greve, o responsável indicou que nenhuma das partes tentou qualquer contacto, explicando que as conclusões do plenário de segunda-feira deverão ser enviadas à administração.
O plenário vai servir para “esclarecer as dúvidas dos trabalhadores sobre os horários e preparar a greve do dia 30”, acrescentou o sindicalista.
Eduardo Florindo admitiu que se a empresa não alterar a sua posição poderá ser marcada, “mais para a frente”, uma outra reunião de trabalhadores para “discutir outras formas de luta, se for necessário”.
Na quinta-feira, o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA) informou que se vai juntar à greve de30 de agosto, ainda que “por razões diferentes”.
No final de julho, a CT da Autoeuropa decidiu convocar uma greve a todos turnos para 30 de agosto, depois de a empresa ter anunciado que era preciso adotar novos horários para assegurar a produção de 200 mil unidades do novo modelo T-Roc na fábrica de Palmela, quase triplicando a produção atingida em 2016.
Esta situação levou a empresa a decidir a abertura de um sexto dia de produção e a contratação de cerca de 2.000 colaboradores, dos quais 750 são para implementar um sexto dia semanal de operação.
A CT e a administração chegaram então a um pré-acordo para os novos horários e turnos, que incluía uma compensação financeira de 175 euros acima do valor previsto na legislação. No entanto, esta proposta foi rejeitada pelos trabalhadores da empresa, tendo contado apenas com 23,4% de votos favoráveis num universo de 3.472 votantes, o que motivou a demissão da CT.
O SIMA dirigiu um pré-aviso de greve ao Conselho de Administração da empresa e aos ministérios do Trabalho e da Economia a informar que a paralisação vai ocorrer “das 00:00 às 24:00” da próxima quarta-feira, dia 30 de agosto, tendo o secretário-geral do sindicato, José Simões, explicado à Lusa que esta greve terá lugar “por razões diferentes”.
“Nós temos um contrato colectivo assinado no sector e os outros não têm contrato colectivo nenhum. O que se passou foi que houve uma reunião com a administração da empresa, em que nos apresentaram uma proposta, depois nós apresentámos as nossas alterações e, até agora, não houve resposta”, explicou José Simões na quinta-feita, sem referir quantos trabalhadores da Autoeuropa estão representados pelo SIMA.
Lusa