Jovem do Pinhal prossegue volta ao mundo. O DIÁRIO DA REGIÃO publica mais uma das crónicas de viagem de Pedro Pinela à volta do globo. Uma reflexão apurada e a mensagem do irmão
A viagem enlouquece-nos um bocado. A cabeça fica-nos sobrelotada de pessoas, de situações e de emoções face às pessoas e situações. Depois parece que estão todas a gritar ao mesmo tempo um “Até”. E tentamos fazer discernimento do que se passou para concluirmos que há muitos pontos que só o acaso explica que não haverá explicação.
Mereci o mal que me fizeram? E logo depois: E o bem? Os pratos que a senhora vendada tenta equilibrar aparentam ser tarefa bem mais difícil que a do homem que carrega o planeta às costas (num esforço físico tremendo). A justiça sofre muito mais pela imparcialidade que não consegue ter e, dito isto, a sorte que, de facto, existe, ri à gargalhada. De lá de cima, das alturas em que dizem que só vive Deus.
Deus é uma questão terrível. Deus está quase em todo o lado quando há desentendimentos. Na Ásia, então, tenho-o sentido por todo o lado mesmo. Uns não gostam que se matem as vacas porque são sagradas, então comem porco. Os outros dizem que porco é um animal imundo e matam as vacas. Pode parecer simplista, mas chega a isto. Sendo que a galinha é quem apanha por tabela.
Em Portugal, não sinto conflito religioso nenhum. Acho que há uma certa apatia quanto a religião, o que talvez nos tenha deixado a sós com as nossas acções. Se são boas ou não, sem anjos nem demónios. Que é que sei? Não consigo perceber nada. Há muitos séculos para trás, todos eles contendo razões para todos os efeitos contemporâneos. E eu só leio ficção.
O meu irmão escreveu-me
Disse-me que andava a pensar em quando eu voltasse… “Gostava de prever como vai ser, mas não faço a mínima ideia… Já não te vejo há imenso tempo, não sei como estás.” Eu respondi-lhe que: “É esquisito, sim senhor. Também não faço a mínima ideia. Mas estou curioso.” Então eu disse-lhe que será o que for, esperando ter acabado a conversa. Mas ele acrescentou “Será o que quiseres”. E não foi sempre?
Pedro Pinela