Mulher queixa-se que malformação do feto não foi detetada. Gerência diz que exame não detetou nenhuma “anomalia visível”
A clínica Ceraque, no Pinhal Novo, está a ser acusada de negligência no acompanhamento pré-natal a uma mulher que, aquando da realização de uma ecografia morfológica, não foi informada de que o feto tinha uma malformação.
O caso foi tornado público este domingo pela SIC Notícias que diz que foi feita uma queixa ao Ministério Público pela situação que aconteceu em 2023. “A ecografia morfológica foi feita na Ceraque do Pinhal Novo e não foi detetada nenhuma malformação”, lê-se no documento enviado ao órgão.
A mãe refere que ao longo de toda a gravidez sempre foi informada que tudo estava bem, algo que não foi verificado quando a criança nasceu. Nesta altura foi diagnosticada com hemimelia do perónio direito, tipo II, a forma mais grave de deformidade. Assim, o bebé vive agora com apenas parte de uma das pernas e apenas dois dedos no outro pé. A saúde da criança e da mãe ficaram afetadas, o que fez com que a família recorresse ao privado, razão pela qual pedem agora uma indemnização à clínica.
O SETUBALENSE tentou contactar a Ceraque mas a resposta foi que todos os esclarecimentos foram prestados à SIC. No comunicado enviado ao órgão de comunicação social a gerência explica que estas ecografias são realizadas por médicos especialistas, mas que “o relatório clínico elaborado na ocasião não identificou qualquer anomalia visível” e que “apesar dos avanços tecnológicos, infelizmente algumas malformações podem não ser detetáveis em exames ecográficos, especialmente quando se apresentam de uma forma subtil ou estão fora do campo de visão durante o exame”.
Adiantam que só foram informados da malformação da criança na passada sexta-feira e que o assunto está a ser apreciado pela Procuradoria da República. “Sem querer alijar qualquer responsabilidade que nos possa ou deva ser atribuída, muito menos fazer juízos de valor sobre o trabalho de quem realizou o exame morfológico do feto, tratando-se as ecografias de atos realizados por médicos especialistas, não possui naturalmente a nossa clínica – nem nenhuma outra em idêntica situação –, qualquer poder de supervisão ou fiscalização sobre a forma como são realizadas ou nos respetivos resultados”.
Portal da Queixa com mais denúncias
Este não parece ser caso único, tendo em conta as reclamações feitas por vários utentes no Portal da Queixa. A clínica surge como “Fraco” no que diz respeito à confiança no espaço estando este avaliado com 20.0 valores numa escala de 0 a 100.
Ao consultar o portal é possível ver cinco queixas que se referem não só ao difícil contacto telefónico, como análises clínicas e, ainda, duas outras situações também relacionadas com ecografias.
Uma delas, feita em agosto de 2021, é de uma mulher que tem queixas idênticas – realizou quatro ecografias na clínica e sempre com a informação de que estava tudo bem. Quando se dirigiu ao hospital por não se estar a sentir bem foi informada que o filho tinha “uma má formação chamada de mielomeningocele” e que esta podia ter sido informado desde as sete semanas de gravidez.
Ainda outra, de setembro do ano passado, onde um dos médicos é acusado de “falta de profissionalismo, empatia e educação” por uma grávida de gémeos explica que, numa primeira ecografia, foi informada de que os bebés estavam em “duas bolsas e uma placenta”, mas, na vez seguinte, foi informada de que eram “duas bolsas e duas placentas”.