Pedro Pinela, jovem do Pinhal Novo que encetou a aventura de dar a “volta ao mundo”, chegou à Grécia e conta, em crónica enviada ao DIÁRIO DA REGIÃO, como se vai vivendo no país helénico, apontando alguns dos costumes locais. “Eles dizem não enquanto acenam que sim com a cabeça”
Tempo para curiosidades da Grécia: no geral, são orgulhosos no que ao seu idioma diz respeito, uma vez que foi do grego que derivaram um sem-número de outras linguagens, entre elas o latim; eles dizem “não” enquanto acenam que sim com a cabeça e esboçam um sorriso; um pouco à imagem de Portugal, vivem sobretudo de restaurantes, bares e hotéis; apesar de saber-se que a Grécia está economicamente devastada, o quotidiano não o reflecte – bares e restaurantes, anteriormente invocados, estão constantemente cheios; diz o leitor “isso não quer dizer nada”, bem, uma cerveja são 3,5 euros, na melhor das hipóteses, um café 2; os vencimentos são muito semelhantes aos portugueses.
A maioria dos meus interlocutores gregos ou não vota ou deixou de votar em eleições políticas, depois de um referendo cujo resultado acabou abafado pelas instituições da UE (lembram-se?); foi em 2008 que a Grécia viveu, pela última vez, um clima semelhante a uma guerra civil, depois de um polícia ter morto a tiro um jovem de 15 anos sem razão aparente – os confrontos nas ruas entre protestantes e polícias duraram dois meses, por todo o país; a fava dentro do bolo-rei é uma moeda dentro de um bolo bem diferente com cobertura de chocolate; no país existe uma espécie de Vaticano dos ortodoxos, chamado Monte Atos, em Salónica, onde as mulheres são interditas.
«A fava dentro do bolo-rei é uma moeda dentro de um bolo com cobertura de chocolate; no país existe uma espécie de Vaticano dos ortodoxos, chamado Monte Atos, em Salónica, onde as mulheres são interditas»
Quando decidi tomar o caminho mais longo sozinho sabia, sem estar elucidado, que iria passar muito tempo só. A ideia agradava-me e não deixou de me agradar – é só que estar sozinho consegue ser extremamente difícil. É-se obrigado a ser constantemente confrontado consigo próprio. Enquanto que acompanhados temos um ponto de fuga para os nossos pensamentos, visto que o outro também padece dos seus assuntos. Sós só existem os nossos, não obstante haver terceiros a poderem ser implicados. Desta forma, o tempo torna-se mais demorado, o espaço menos nosso.
À espera de visto para o Paquistão
Ainda agora comecei e já fui obrigado a parar quase duas semanas na mesma cidade (Ióannina, Grécia). O meu visto turco só tem início no nono dia deste novo ano e, além disso, o meu passaporte ficou em Portugal à espera que a embaixada paquistanesa, em Lisboa, decida emitir esse outro meu visto, pedido já há três meses. Até lá espero, mais vale pacientemente do que o contrário. O Paquistão tem a particularidade de fazer fronteira com o segundo país mais populoso do Mundo, a Índia com que, para mais, mantém relações pouco saudáveis. Ou seja, razões não lhes faltam para que a demora no visto se prolongue até… vá-se lá saber quando.
A cidade em que estou não me facilita emprego nenhum, meio que compreensivelmente, porque, ao ser pequena (cerca de 110 000 habitantes), não atrai tantos estrangeiros que justifique dar trabalho a quem não fala grego. Até à data, sei dizer “Obrigado”, “Bom dia”, “Boa tarde”, “Boa noite”, “Olá”, “Eu sou o Pedro”, os números de 1 a 10, “Por favor” e “De nada”, que são a mesma coisa, e uma meia dúzia de expressões do calão helénico – é tudo.
Para completar com o que, durante toda a viagem, sempre será o crucial nas experiências dos diferentes sítios, em Ioannina, ficaram-me estas gentes.