2017 está a ser melhor ano de sempre com 154 prémios em apenas cinco meses. Leonor Freitas aponta o aproveitamento da dimensão imaterial da vitivinicultura como o caminho para o futuro do sector. A aposta no Enoturismo é a resposta natural da paixão pelo vinho a uma procura crescente de sentimentos e sensações
“A vinha e o vinho são produtos turísticos de excelência e património cultural”
A Casa Ermelinda Freitas dedica-se à produção de vinho desde 1920, e tem raízes dispersas também pelos campos, em 445 hectares de vinhas situados em Fernando Pó, uma zona privilegiada na região de Palmela. Composto por areias muito semelhantes às areias de praia e muito rico em água, o solo destas vinhas desempenha um papel essencial na maturação das uvas. A brisa envolvente dos rios refresca as vinhas durante os Verões secos, atribuindo suavidade e elegância aos vinhos. Nestes solos arenosos, o Castelão é rei entre as 29 castas plantadas que geram 12 milhões de litros de vinho produzidos por ano. A adega conta já com mais de 900 prémios conquistados, em Portugal e no estrangeiro.
Assente neste patamar, com a preparada para as próximas décadas após os vultosos investimentos dos últimos anos, e com a qualidade como denominador comum, Leonor Freitas volta-se para as dimensões mais nobres, abrangentes e modernas da actividade. A sócia-gerente da empresa destaca a importância da vitivinicultura como património cultural e produto turístico de excelência.
O que significam para si todos estes prémios conquistados pelos seus vinhos?
Para mim e para a minha equipa, qualquer vinho que é distinguido é sempre um grande motivo de orgulho, pois significa que estamos no caminho certo. Por exemplo, desde o início deste ano já ganhamos um total de 154 prémios, o que significa que os nossos vinhos possuem qualidade destacada, e que isso é reconhecido nos melhores e maiores concursos nacionais e internacionais, como o ProdExpo, CVRPS XVI Concurso 2017, Challenge International du Vin 2017, Vinhos de Portugal 2017, Portugal Wine Trophy 2017, entre outros.
Quer dizer que este ano está a ser bom.
Muito bom! Temos sido agraciados com inúmeras distinções que comprovam a qualidade dos vinhos que fazemos, sendo que o mais importante para mim, e acima de tudo o que mais pretendemos, é que todo o vinho que saí da Casa Ermelinda Freitas seja de grande qualidade, comprovada, para que os meus “amigos” – como eu gosto de chamar os consumidores dos meus vinhos – fiquem muito satisfeitos.
Quais são então as perspectivas para o total do ano 2017?
O primeiro semestre ainda não acabou e está a ser o melhor de sempre. O segundo semestre a Deus pertence. Mas, do que depender da nossa parte, iremos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que se torne também o melhor. É esta a filosofia da Casa Ermelinda Freitas; fazer sempre o melhor para poder oferecer o melhor aos consumidores, e é para eles que vai o nosso grande agradecimento pelo sucesso alcançado.
Como explica a aposta no Enoturismo?
A Casa Ermelinda Freitas sempre apostou no respeito pela tradição, mas modernizando, foi assim nas vinhas, na adega e será também na vertente do Enoturismo. Acreditamos que é essencial ligar o sector dos vinhos ao Enoturismo, porque a vinha e o vinho são produtos turísticos de excelência e que podemos passar valores ligados ao património cultural. Além da vertente lúdica, o Enoturismo é didáctico, mostra a arte e a natureza da actividade através das diversas castas que temos plantadas (29 variedades), e até pedagógico, passando a mensagem de que o vinho é uma bebida saudável desde que integrado na alimentação e bebido com moderação. Com esta vertente cultural e pedagógica queremos muito trazer visitas, passar a nossa mensagem e história de família. Os visitantes podem contemplar e desfrutar do nosso jardim de vinhas, fazer provas dos nossos vinhos ou simplesmente almoçar ou jantar com um grupo de amigos num ambiente confortável, tão próximo de Lisboa, mas tão diferente daquilo que encontram no dia-a-dia.
O projecto ‘A Vida de Um Vinho’ mostra que a empresa tem também consciência social.
A Casa Ermelinda Freitas, está muito reconhecida, aos consumidores, à região e à comunidade, pelo sucesso que tem tido, ao longo de um trabalho que leva quatro gerações – esta é a quarta geração – e, por isso, sentimos que é nossa obrigação partilhar com a sociedade aquilo que nos tem sido proporcionado.
É assim que sentimos a responsabilidade social, retribuir à sociedade aquilo que ela nos tem ajudado. Foi assim que nasceu o projecto ‘A Vida de Um Vinho’, que consiste na criação de 1.500 garrafas Magnum (1,5L) do melhor vinho que é produzido na adega, e a que se foram associando figuras importantes da nossa sociedade durante quatro anos. Foi criado um rótulo único por um pintor do Porto, Mário Rocha, gravada uma sinfonia, pelo maestro Jorge Salgueiro, e escrito um livro sobre este vinho, pelo escritor Amilcar Malhó. Este conjunto está a ser vendido na nossa adega, e toda a receita conseguida reverte a favor dos idosos da nossa freguesia União de Poceirão e Marateca. Esta verba é gerida e aplicada pela Caritas Diocesana de Setúbal.
A comendadora que colocou a adega na primeira divisão
Leonor Freitas ainda iniciou carreira na Saúde, mas rendeu-se ao negócio da família e alavancou a Casa a outro campeonato
Leonor Freitas nasceu em Fernando Pó, no dia 24 de Dezembro de 1952. Desde a primeira hora, a sua vida confundiu-se com as terras e as propriedades da família que a viu nascer. Apesar de uma carreira profissional bem-sucedida na área da Saúde, sempre acompanhou de perto o trabalho desenvolvido pela sua família, acabando por seguir as pisadas da mãe e avós, que a antecederam na liderança do projecto que já leva quatro gerações.
Foi Leonor Freitas que se lançou no engarrafamento com marca própria, tendo como missão fundamental a produção de vinhos de qualidade superior em todas as categorias do mercado.
Nos últimos anos, o trabalho desenvolvido por Leonor Freitas tem contribuído para a consolidação da Casa Ermelinda Freitas e para o reconhecimento e divulgação dos vinhos da região, quer a nível nacional quer internacional. Esse reconhecimento é realçado pela atribuição de vários prémios, no qual se destaca a Comenda de Ordem de Mérito Agrícola, a 10 de Junho de 2009.
Adega fundada em 1920 abre história secular ao turismo
Enoturismo é aposta de futuro, com visitas guiadas ao mundo mágico do vinho e um espaço museológico que nos mostra a evolução do sector e da empresa em quase cem anos de vida
Situada em Fernando Pó, no concelho de Palmela, a Casa Ermelinda Freitas é uma empresa familiar, produtora de alguns dos vinhos mais prestigiados da região de Setúbal. Recentemente tem apostado em actividades de enoturismo, do qual fazem parte visitas guiadas, que percorrem todos os processos de produção dos vinhos da marca, e um espaço museológico.
Na propriedade, descobrem-se os detalhes dos processos de vinificação e toma-se contacto com as vinhas, na vinha pedagógica, onde estão plantadas as castas presentes nos vinhos da marca. Na nova adega, que foi inaugurada no final do ano 2015, é possível observar-se todas as fases de produção de vinhos, do esmagamento até ao engarrafamento. Durante a visita, pode também ver-se o trabalho laboratorial da equipa de enólogos da empresa.
Depois, abrem-se as portas da ‘Casa de Memórias e Afectos’, antiga adega da família transformada num espaço museológico, dedicado às quatro gerações familiares que deram origem à Casa Ermelinda Freitas. Aí, conhece-se a história da família e construção desta empresa.
Na primeira sala, o visitante encontra uma referência à origem do topónimo Fernando Pó, a que se seguem textos e fotos relacionados com o percurso familiar e empresarial dos Freitas. Nesta mesma sala encontram-se expostos alguns objectos pessoais dos protagonistas e equipamentos e ferramentas relacionados com os trabalhos agrícolas e vitivinícolas. Numa outra sala adjacente, é apresentada a actividade manual do trabalho no lagar.
Aqui, é ainda possível observar-se os depósitos originais, alguns equipamentos e os primeiros vinhos engarrafados, datados do final do séc. XX/início do séc. XXI, tal como os respectivos prémios. O espaço original onde se efectuou a destilação de aguardentes, com a respectiva caldeira e uma sala com várias balanças, pesos e medidas, completam a área expositiva.
Sucesso com história
Tudo começou no século passado, mais concretamente em 1920, quando a bisavó Leonilde Freitas decidiu pôr mãos a uma obra que nunca mais se perdeu. Leonilde, Germana, Ermelinda e Leonor são as quatro gerações da família Freitas que estiveram à frente da Casa Ermelinda Freitas, durante marés altas e baixas, sempre com o mesmo objectivo: “ser uma referência e prestigiar o mundo rural”.
Em 1998, com o apoio do enólogo Jaime Quendera, deu-se início a um período de investimento, com a aquisição de uma linha de engarrafamento e a construção de uma nova adega. Foi neste ano que nasceu o primeiro vinho produzido e engarrafado por esta casa, o “Terras do Pó”, em homenagem à localidade Fernando Pó.
Com o seu espírito inovador e diferenciador, Leonor Freitas, a actual gestora da adega, introduziu uma diversidade de castas. Hoje em dia, a Casa Ermelinda Freitas possui 440 hectares de vinha, perfazendo um total de 29 castas diferentes.
Cada prémio conquistado foi também um marco, com destaque para o Syrah 2005, considerado o melhor vinho tinto do Mundo na edição de 2008 do Vinalies Internationales, em Paris. Todas as fases da internacionalização dos seus vinhos, que estão hoje presentes em mais de 30 países, marcaram igualmente o rumo deste espaço.
Hoje, a Casa Ermelinda Freitas é, indiscutivelmente, uma das principais representantes da excelência vitivinícola em Portugal. ”O meu sucesso está relacionado com as gerações que trabalharam antes de mim, com a minha família, com a equipa que tenho, com a região e, por fim, com os consumidores. É para eles que a casa vive”, explica Leonor.
‘A Vida de um Vinho’ já entregou quase 63 mil euros para apoio a idosos e crianças
Montante angariado é aplicado em projectos da Cáritas e da União Sol Crescente
A Casa Ermelinda Freitas iniciou em 2008 um processo inovador de responsabilidade social, com a colheita das melhores uvas que dariam origem ao vinho ‘A Vida de um Vinho’, cuja receita reverte, na sua totalidade, para a Cáritas Diocesana e para a União Social Sol Crescente da Marateca. Como resultado das aquisições já se concretizaram três entregas de receitas, em 2013, 2014 e 2015, num total de 62.865,00 euros.
O processo produtivo foi apadrinhado por personalidades diversas da sociedade. Entre os embaixadores deste projecto encontramos nomes como Maria Cavaco Silva, Daniel Sampaio, José Fonseca e Costa, Toy, entre outros.
O montante angariado através das vendas do vinho ‘A Vida de um Vinho’ tem sido aplicado em projectos de apoio a idosos e a crianças carenciadas da região, reforçando assim a intervenção positiva da Casa Ermelinda Freitas na sociedade.