Ana Teresa Vicente: “É indispensável investir na construção de escolas e no alargamento de outras”

Ana Teresa Vicente: “É indispensável investir na construção de escolas e no alargamento de outras”

Ana Teresa Vicente: “É indispensável investir na construção de escolas e no alargamento de outras”

A comunista lembra que a autarquia tem projectos em curso e sublinha a necessidade de mais uma escola em Quinta do Anjo e outra em Palmela, bem como a ampliação de algumas das existentes. Ambiente, habitação e mobilidade são também áreas prioritárias

Depois de um mandato (1997-2001) como vereadora, foi eleita presidente da Câmara Municipal de Palmela nos três mandatos seguintes (2001-2013), aos quais viria a somar a presidência da Assembleia Municipal (2013-2021), onde actualmente ainda figura como membro da bancada da CDU. Hoje, aos 59 anos, a comunista Ana Teresa Vicente volta a ser a aposta da coligação como cabeça-de-lista à Câmara. E explica o motivo que a levou a aceitar o desafio.
Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM, a cabeça-de-lista enaltece o trabalho desenvolvido no consulado de Álvaro Balseiro Amaro, mas admite diferenças na forma de fazer entre ambos.

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Por que razão aceita voltar agora, 12 anos depois, a candidatar-se à Câmara de Palmela?
Diria que tenho hoje a obrigação de ter a maturidade suficiente para fazer as escolhas que me parecem certas. E, olhando muito para dentro de mim própria, olhando para o concelho de Palmela, para a realidade política hoje em dia, achei que era não só um enorme desafio para mim candidatar-me a presidente da Câmara como também uma obrigação enquanto cidadã. Acho que a política é algo muito importante na vida das pessoas, em boa parte, não exclusivamente, através da intervenção política, pois é aí que se muda a vida das pessoas, que se transforma, que se faz melhor, que se contribui para melhorar cada território e a vida em geral, na sociedade, no País. Hoje vive-se momentos que preocupam os democratas, as pessoas que têm uma opção política, ideológica, de esquerda, como é o meu caso, e achei que tinha a obrigação de voltar à política mais activa e mais interventiva.

O que acha que pode trazer agora, de novo, à Câmara Municipal em relação aos três últimos mandatos de Álvaro Amaro?
É importante sublinhar que há muito trabalho feito, há muitos projectos desenvolvidos e em carteira, prontos a serem lançados. Alguns já lançados, que são muito importantes para o concelho e com certeza vão continuar, mas é evidente que somos diferentes. Não temos divergências políticas, ideológicas, enfim, fazemos parte de uma mesma família política, digamos assim. A única coisa que posso dizer sobre isso é que Álvaro Amaro e eu somos diferentes e, naturalmente, faremos de forma diferente. Sei que ele fez de forma diferente quando me substituiu na presidência e tenho a certeza de que voltarei a fazer de forma diferente relativamente a ele.
Tenho grande confiança em algo que me caracteriza, algo que me define: as relações de trabalho que estabeleço com as pessoas. Tenho muita confiança nisso, para voltar a mobilizar os trabalhadores no município para os grandes desafios com que estamos confrontados.

Voltar a mobilizar, quer dizer que não estão mobilizados?
Quer dizer que tenho uma forma de trabalho com as pessoas que acho que passa muito por sentir o seu envolvimento e que passa muito por senti-las. O que não significa que as pessoas não trabalhem muito, porque trabalham. Julgo que precisamos de uma dose de relação humana, de relação de proximidade, de envolvimento muito forte e confio em mim para isso.

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Elegeu como prioridades o ambiente, a habitação e a mobilidade. Significa isto que estas foram as áreas em que a CDU menos conseguiu atingir os objectivos nestes últimos anos?
Não, não. Significa que acho que estas são hoje as grandes preocupações dos cidadãos em geral e, naturalmente, também em Palmela. Precisamos de continuar a fazer mais nesse sentido. Isto é, se no País, mas particularmente na Área Metropolitana de Lisboa [AML] onde estamos inseridos, perguntar ao comum dos cidadãos qual é a maior dificuldade da vida das pessoas, a resposta é claramente a habitação.
Como é que as pessoas podem pensar a sua vida de forma equilibrada, sustentável, com alguma felicidade, se o peso da habitação é absolutamente esmagador no seu rendimento. Isto hoje é válido para quem está a começar a vida, para quem ganha ordenados mais baixos e é válido para as chamadas classes médias, ou seja, pessoas em que no agregado muitas vezes há dois membros a terem salário. Têm um filho, dois no máximo, e não conseguem pagar uma habitação ou então são deslocados, enfim, dos maiores centros urbanos para as periferias para conseguirem comprar uma casa.
Repare, durante muitos anos, o município de Palmela teve uma dúzia de casos que precisaram de ser realojados ao abrigo dos programas especiais de realojamento que existiam na altura. Isto era uma excepção no contexto da AML. Hoje já não é disso que estamos a falar. Hoje estamos a falar de pessoas que trabalham, que vivem no nosso concelho e que precisam de ter uma oferta de habitação acessível. É nesse sentido que entram as políticas públicas. E aí só tenho de valorizar aquilo que a Câmara de Palmela está a fazer. Ou seja, uma aposta na promoção de habitações com condições mais favoráveis, com uma intervenção pública na política de habitação, fazendo aí sim com que os preços possam ser condicionados. Defendo isso e é uma estratégia que manterei.

Vamos ao ambiente, que pressupõe trabalho na área da higiene e limpeza urbana, serviço que tem merecido fortes críticas da oposição. Que medidas defende para aumentar a capacidade de resposta do município?
Não é a única área que define as questões relacionadas com ambiente, mas é uma área muito importante. A AML realmente não é, em geral, motivo de orgulho para os seus autarcas naquilo que à higiene urbana diz respeito. Isto deve fazer-nos reflectir – e sei que os autarcas destes municípios fazem essa reflexão – sobre quais são então as características deste trabalho, as características destes territórios e que medidas é que podemos pensar para ultrapassar este problema.
No município de Palmela, que neste caso não é diferente da AML, temos um problema que é também de cidadania. Isto é uma coisa que temos todos de enfrentar. Do meu ponto de vista, isto implica várias medidas. Uma é educação e cidadania. Tem de haver cada vez mais sensibilização, exemplos mais práticos, mais trabalho com as escolas, que sei que o município de Palmela tem feito, não o critico, mas acho que temos de fazer mais ainda.
Depois, e esta medida nunca é simpática para ninguém, tem de existir a fiscalização e a coima. É indispensável. Sei que o município tem esta filosofia, mas não tem os recursos todos, como nenhum município tem. E tem de haver também incentivos e medidas facilitadoras para que as pessoas possam fazer directamente a deposição de resíduos na Amarsul.

O que se propõe fazer no âmbito da mobilidade? O candidato do Chega, por exemplo, diz que há estradas de terceiro mundo no concelho…
… Pois, não sei se conhecerá bem o concelho. Palmela é o maior concelho da AML, um dos grandes concelhos deste País. Tem espaços urbanos importantes, espaços rurais e, sobretudo, espaços naturais enormes e imensos. Ora bem, num território com estas características, com mais de 460 quilómetros quadrados, é ou não é natural que continuem a existir caminhos que são de terra batida? É natural e tem de ser natural. Se dissermos à população que vamos asfaltar todos os caminhos, não estamos a ser verdadeiros. A Câmara tem feito muitos asfaltamentos, arruamentos com infra-estruturas, etc. Há critérios, há prioridades em volta dos aglomerados urbanos e depois os espaços que têm já alguma concentração habitacional, até de actividades económicas, que podem ser intervencionados.
O que me preocupa? Olhe, algo que gosto e que quero continuar a fazer, que é exigir, negociar, com a Administração Central uma coisa muito importante que foi definida ainda no meu tempo, que são as chamadas variantes às duas grandes estradas nacionais: a EN 252 e a EN 379.

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Mas, o actual executivo tem vindo a desenvolver esse trabalho.
Tem e tem de ser continuado. Temos de o tornar mais eficaz. As variantes são indispensáveis, são prioritárias, e o Governo tem de assumir as suas responsabilidades nesta matéria.

A educação é uma área sempre abordada, já que tem muito a ver com aquilo que será o futuro de todos nós…
… E que me é muito cara. Nos três mandatos em que fui presidente de Câmara, tive o orgulho de ter feito o maior investimento em termos de equipamentos educativos alguma vez feito neste concelho. Hoje, temos escolas de qualidade no concelho. Fruto da dinâmica de crescimento do concelho e da sua atractividade, as escolas hoje já não chegam, em todas as freguesias, para os meninos que aqui temos…

São precisas mais escolas?
Alargamento de escolas, construção de escolas. O 1.º ciclo com oferta de pré-escolar sempre, que foi uma coisa que surgiu exactamente nos meus mandatos. Também o 2.º ciclo e as chamadas escolas 2/3, ou seja, de 2.º e 3.º ciclo. Há projectos, o município está a trabalhar neles. É indispensável a construção de mais um equipamento em Quinta do Anjo, mais um equipamento em Palmela, o alargamento de algumas das nossas escolas no resto do concelho e este deve ser um investimento que qualquer executivo não pode deixar de fazer.
Temos de continuar a oferecer condições a quem quer ter os filhos aqui, do pré-escolar ao 12.º ano, já para não falar de outras propostas que passam por cooperação para desenvolver níveis superiores de educação.

José Carlos de Sousa, cabeça-de-lista pelo PS, defende que a Câmara deveria apostar num edifício que pudesse albergar a grande maioria dos serviços. Até porque, a dispersão por vários espaços alugados custam, segundo ele, cerca de 700 mil euros anuais à autarquia. Concorda com esta visão?
Compreendo a visão, mas relativamente aos números julgo que o candidato José Carlos de Sousa provavelmente usou esse número sem o confirmar. A informação que pedi e recebi da Câmara aponta para um valor que é praticamente metade dos 700 mil euros, ou seja, são 374 mil euros que a Câmara suporta com todas as instalações que tem alugadas no concelho. Segundo aspecto, o conceito, a ideia é importante e não a descarto completamente. Concentrar, por exemplo, a administração urbanística totalmente de acordo. E até sei que a Câmara tem um projecto nesse sentido e que até é para Pinhal Novo.
Agora, deslocalizar todos os serviços que estão em Palmela, que alimentam a própria vila, que dão dinâmica económica e comercial àquele território e centralizá-los [noutra freguesia], não sei se será uma boa opção. É uma velha discussão, já a tivemos há muitos anos na Câmara e acho que há aqui um modelo, mais uma vez, de equilíbrio. Isto é, concentrar alguns serviços, mas manter uma relação de proximidade entre os serviços públicos e os cidadãos.

Que nota dá, de zero a dez, aos mandatos de Álvaro Amaro?
Muito, muito positiva. Tenho a certeza de que, do ponto de vista do empenhamento e do esforço, terão feito o máximo. Do ponto de vista dos resultados, naturalmente, não poderei dar a nota máxima porque nem todas as conjunturas são favoráveis. Nota nove.

Se for eleita presidente da Câmara, oferecerá pelouros a todas as forças políticas que venham a ter assento no executivo?
Enquanto fui presidente da Câmara, ofereci sempre pelouros à oposição. Sempre. O PS nunca os aceitou, mas, por exemplo, o PSD aceitou. E tive um mandato com um vereador do PSD a exercer funções de meio tempo, na altura foi Octávio Machado. Está aí o testemunho vivo da forma como sempre trabalhei, com transparência, com as oposições, com sinceridade.

Mas oferecerá a todas as forças políticas ou há alguma linha vermelha, com o Chega, por exemplo?
Não me passa pela cabeça, enfim, oferecer um pelouro ao Chega. Não.

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