Comerciantes e visitantes são os ingredientes principais para criar a harmonia que se vive durante três dias em Odemira
A Feira das Actividades Culturais e Económicas (FACECO), no Parque de Feiras e Exposições de São Teotónio, continua a receber visitantes que enchem o recinto do evento. Artesãos mostram as suas peças originais e relembram a importância do artesanato. Desde produtos reutilizáveis até peças com produções centenárias, o certame reúne partilha de experiências e produtos.
O SETUBALENSE falou com comerciantes e visitantes que estão satisfeitos com mais uma edição deste que é um dos maiores certames do Litoral Alentejano.
Andreia Gamito, no Espaço Criative Market (Mercado Criativo), no stand Aromayur, iniciou, há dois anos o seu projecto de pensos higiénicos reutilizáveis. Para a comerciante ainda se vive num mundo em que o produto “é um bocadinho tabu da sociedade”, mas que ainda atrai muitos curiosos.
“Acaba por ser um mundo que é um bocadinho tabu na sociedade porque não é todos os dias que se vê um estendal com pensos mesntruais [risos] e vem muita gente com curiosidade para tocar e sentir, e eventualmente compram para também experimentar”.
É na feira que se pode encontrar a tradição da viola campaniça, um instrumento construído com o propósito de acompanhar o cante alentejano. Daniel Luz, mestre e representante da Oficina da Viola, explica como pretende mostrar a construção aos mais curiosos e como se toca.
“Quero mostrar a viola campaniça como se constrói e como se toca”. Sendo uma viola centenária, o mestre quer que a tradição se mantenha, estando neste momento a dar formação a 12 alunos da construção da peça. “Não quero que desapareça a tradição de construir, também estou a ensinar e a dar formação a 12 alunos, mas já tive 45”.
A tecelagem é outra arte que dá vida ao evento em Odemira. Samara Henriques aprendeu a tear há cinco anos com duas tecelãs portuguesas. Desenvolvendo o seu próprio trabalho, explica como a tecelagem é “uma nova aventura”, mesmo estando na área do têxtil há 20 anos. Para a tecelã, o importante é explicar às pessoas o valor do artesanato, com a preservação de tradições, da cultura, e produzidos à mão.
“Acho superinteressante trazer à consciência das pessoas que o artesanato tem um valor inestimável do ponto de vista de preservação dos valores, da cultura, da riqueza de um trabalho feito à mão. Ainda há muito o pensamento de que o artesanato é caro, mas se virmos o tempo e a energia que um artesão entrega à sua peça, não é igual ao de uma máquina”.
Manuel Alvino pratica a arte de construir cestos de canastras e vergas há 45 anos. Começou aos 12 a fabricar cestos à mão, mas partilha com algum desgosto que “a tradição tem se vindo a perder muito”. O comerciante contou a O SETUBALENSE uma história que aconteceu esta tarde.
“Esteve aqui uma menina com nove anos a trabalhar e estava muito focada no que estava a fazer. E gostou muito. Eu disse-lhe para ela voltar amanhã que eu trazia um cestinho mais pequenino para ela fazer”.
Produtores “são cada vez menos” mas o interesse pelos produtos cresce
Agricultura, gado, artesanato e produtos locais, os visitantes são oriundos de muitos sítios – e não só de Portugal – e o interesse em conhecer melhor o concelho de Odemira e tudo o que os rodeia é muito. Em visita à FACECO há quem fale das crises que se vivem nestes sectores e outros que aproveitem para conhecer o que de melhor se produz nesta terra.
Para Rui e Gina Cordeiro, moradores do concelho de Odemira que visitam anualmente a feira, este é um certame “muito interessante” por ser um certame fora do comum. “Não é uma feira habitual, é uma feira de agricultura. Não interessa a toda a gente, mas mesmo assim vê-se pessoas que não parecem ser da agricultura”.
Já Fernando Charrua realça como os expositores estão bonitos e ainda a importância da feira agrícola. Mesmo notando que os produtores de gado “são cada vez menos”, a existência de agricultores nacionais não passa despercebida na região.
“Isto é bom para ajudar os agricultores, mas nota-se que os produtores são cada vez menos. Estão a aparecer criadores que não são da região, muitos, e acho bem para as pessoas conhecerem o que existe não só em Odemira, mas também no País”.
Para Lúcia Machado, que só esteve no certame duas vezes, a vinda à feira permite-lhe conhecer novos produtos, o que acaba por enriquecê-la culturalmente. “Em termos de cultura aqui do Alentejo acho que é bastante benéfico a nível dos produtores, dos agricultores e de todos os produtos da feira, porque fico a conhecer muita coisa que não conhecia”.