O social-democrata assume o compromisso de requalificar em oito meses uma parte da zona ribeirinha. Entre as prioridades coloca a habitação, a educação e a criação de Polícia Municipal. Anuncia a coligação com a IL e não fecha a porta ao CDS
Membro da Assembleia Municipal, o arquitecto Pedro Vieira já presidiu à concelhia do Montijo do PSD, foi vereador na autarquia montijense entre 2013 e 2017 e acabou por ser a escolha da distrital social-democrata para encabeçar a candidatura à Câmara nas próximas autárquicas. Uma candidatura que será feita em coligação com a IL, conforme assumiu em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular, à qual se apresentou na companhia de João Pereira, responsável pela estrutura montijense dos liberais. O social-democrata arrasa o reinado de 28 anos socialista, critica Fernando Caria e diz que fundamental é implementar planeamento na autarquia.
O que o levou a aceitar o desafio de se candidatar à presidência da Câmara Municipal pelo PSD num momento conturbado da vida do partido no Montijo?
O que se passou no Montijo é muito simples: a candidatura do dr. João Afonso não seguiu em frente, o projecto do PSD para o Montijo já existia, continua a existir e portanto não caiu. O dr. João Afonso representa o passado, nós representamos o futuro da candidatura. Fomos votados por unanimidade na distrital do PSD e nesse sentido só nos preocupa o futuro do Montijo.
Não teme ser visto como uma alternativa de recurso, tendo em conta que, à margem da renúncia de João Afonso, o PSD tentou negociar o apoio à candidatura independente de Fernando Caria e depois tentou também seduzir outras figuras?
O que me interessa, desde há muitos anos, é mesmo que o Montijo ultrapasse os problemas que tem. O que me preocupa é o progresso e o bem-estar dos montijenses.
Que leitura faz sobre a renúncia de João Afonso à liderança da secção e à candidatura à Câmara?
O mesmo comentário que faço à liderança da dra. Mercês Borges, quando foi candidata e eu também fui vereador nessa altura: todos os candidatos do PSD honraram as nossas cores, as nossas bandeiras. O PS nestes 12 anos não trouxe nenhuma solução ao Montijo. Aliás, nos últimos 28 anos, com o PS, o Montijo tem vindo a ficar cada vez mais descaracterizado, com maiores problemas. O que nos preocupa desde há muitos anos é encontrar soluções para o Montijo e é isso que estamos a fazer com esta candidatura.
Nas últimas autárquicas, o PSD concorreu em coligação com o CDS e o Aliança. E este ano?
O PSD tem vindo a trabalhar numa solução de convergência que é natural e que exige que se faça um trabalho conjunto para encontrar melhores soluções para o Montijo. O Montijo precisa de um trabalho colectivo, de pessoas competentes, que tenham um projecto mobilizador e que proponham soluções para os problemas que estão mais do que identificados. Não faltam críticas e situações de alerta para uma série de problemas que desolam o Montijo. Nós queremos acrescentar e, nesse sentido, neste momento temos uma coligação com a Iniciativa Liberal (IL), que estamos aqui a divulgar em primeira mão.
Lília Mendes, deputada municipal eleita pela IL, poderá ocupar o segundo lugar na sua lista à Câmara?
É uma situação que está praticamente fechada. Lília Mendes será a número dois da lista candidata à Câmara. É uma pessoa muito competente na área da educação, que se tem revelado muito competente enquanto deputada municipal e que considero que é parceira ideal para se juntar a esta candidatura.
E quanto ao CDS?
Não me vou pronunciar sobre isso. É extemporâneo.
Mas não fecha a porta?
Não, não fecho.
O que considera prioritário em termos de intervenções para o concelho?
A questão principal tem a ver com a falta de planeamento em tudo o que são as funções municipais. A Câmara não sabe planear desde o mais básico, estamos a falar da higiene, da limpeza, da manutenção dos espaços públicos, até às situações que já envolvem planeamento muito maior, como um PDM ou como encontrar soluções para a habitação ou respostas para a educação… Todos percebemos o que se passa nas escolas do Montijo com sobrelotação e colocação de contentores.
O PS está na Câmara há quase 28 anos e não conseguiu encontrar resposta para nenhuma destas situações. Os problemas têm vindo a agudizar-se, vão-se acumulando. E depois o que se vê? Fazem gastos em coisas completamente estapafúrdias, como um Jardim Inclinado.
Quem não assegura o básico não consegue sequer planear o resto. Temos de pegar nos serviços municipais, reactivá-los ao serviço da população. É isso que nós queremos fazer, meter a Câmara a solucionar os problemas das pessoas. O principal é melhorar o funcionamento da Câmara, o planeamento, a organização.
Está a referir-se à modernização administrativa?
Modernização administrativa, estimular os funcionários, reforçar parte do quadro de pessoal em algumas áreas específicas. Por exemplo, é preciso criar um gabinete de candidaturas a fundos comunitários. Já perdemos, só neste mandato, mais de 50 milhões de euros: 30 milhões na habitação, 16 milhões para educação, para requalificação de escolas, além de outros fundos a que não nos candidatámos. A Câmara fez, por exemplo, candidaturas ao PRR na habitação e não as concretizou. Disse que ia fazer, não criou as condições para as fazer e não as vai fazer.
A Câmara não vai conseguir concretizar aquilo a que se candidatou, ao abrigo do PRR no âmbito da Estratégia Local de Habitação (ELH), na qual se incluíam cem fogos para a zona da Caneira, entre outros?
Não tem condições para fazer isso, porque não desenvolveu os projectos a tempo. A ELH estabelecia intervenções em praticamente 400 habitações e cerca de 200 soluções de habitação nova. O PSD votou favoravelmente, apesar da estratégia ser pouco ambiciosa. Mas, a Câmara só apresentou candidaturas para um terço daquilo a que se comprometeu, deixou logo dois terços para trás e não desencadeou os processos concursais para fazer esse um terço.
Se a Câmara lançar 10 fogos a construir, neste mandato, e se lançar as obras de reabilitação que se comprometeu a fazer na Caneira – mas eram noutros bairros também –, não vai conseguir cumprir isso até ao limite do PRR, Junho de 2026. Tinham 200 fogos prometidos, não fizeram nem 10, que foi o que conseguiram lançar, apesar de se terem candidatado a mais, à roda de 60 e tal.
No Montijo não se constroem habitações desde o tempo da dra. Maria Amélia Antunes, ou seja, Nuno Canta em 12 anos não fez uma casa, não reabilitou um apartamento, não acrescentou valor ao Montijo, e isso é um desastre.
A habitação será para si uma das prioridades?
Com certeza. Nós sabemos como é que se faz, eu já estou nisto há muitos anos, sei quanto é que custa, como é que se activa, como é que se controla, portanto, posso dizer que em quatro anos vamos fazer muito na habitação.
E tem definida alguma meta?
Temos de conhecer as contas do município. Agora até já foi a Judiciária, portanto, temos de conhecer melhor o que se passa dentro da Câmara.
Isso significa que se for eleito vai fazer uma auditoria?
De certeza que vamos auditar parte das contas.
Focou a área da educação e acusou o PS de não investir nas escolas. Disse também que foram perdidas candidaturas. Referia-se à candidatura da Escola Básica de D. Pedro Varela?
Sim, mas a Câmara podia ter feito mais candidaturas. Perdeu-se essa, mas não se fizeram outras. Essa era na ordem dos 16 milhões de euros.
E agora vamos ter uma escola provisória, em contentores, porque o número de crianças tem vindo a crescer. A Câmara diz que não consegue acompanhar, perceber, antever o crescimento do número de alunos, mas acho que é previsível. Em todas as escolas há contentores com salas de aula instaladas. É um problema que já existe há mais de 10 anos. Se formos adiando a execução de novas escolas – adiou-se o Centro Escolar de Pegões que vinha do tempo da dra. Maria Amélia Antunes –, os problemas vão-se acumulando e, de repente, é como uma fuga de água. Se não a resolvemos, de repente, temos duas, temos três, e passa a ser uma torrente que não conseguimos estancar. O que se está a passar no Montijo é um pouco isso.
Apontou também a área da higiene urbana e limpeza, que tem sido muito criticada pela oposição. O que defende para ultrapassar esse problema?
Quando não reparamos e não tratamos das coisas de forma sistemática, aquele trabalho de dia-a-dia, as coisas vão-se acumulando. Não há planeamento dessas tarefas e, depois, dessas tarefas diárias. A limpeza passa também por esse planeamento, dos ciclos de recolha de lixo, o planeamento das localizações dos ecopontos, de como tudo isso funciona. Existe aqui um problema enorme, que a Câmara e até a Junta não souberam resolver. Há competências que podem ser delegadas nas Juntas, há muitos municípios que fizeram essa delegação…
Mas isso também foi feito no Montijo.
Foi feito e depois foi revertido. Lá está, no Montijo temos o PS na Câmara e na Junta, não se entenderam, não conseguiram ultrapassar esse problema. De repente a Junta devolveu competências. Toda a gente sabe que houve aqui um problema de má gestão e de desentendimento dos dois partidos socialistas que existem no Montijo. As soluções passam por capacitar as Juntas para resolverem esses problemas e pelo investimento em meios materiais e humanos.
No que toca aos meios materiais, estamos a falar de equipamentos de limpeza modernos. Existe toda uma panóplia de soluções. O que temos de fazer é utilizar as ferramentas certas, modernizar, e permitir que os nossos funcionários até nem tenham tantos gastos físicos. Com um investimento que nem é muito grande consegue-se obter maiores ganhos. As condições de trabalho em que operam os funcionários da Câmara… aquilo é um desastre.
Tem algumas medidas que possam marcar a diferença em relação às restantes candidaturas?
Há uma coisa que nós podemos, desde já, dizer: se nós formos eleitos, em 2027 iremos ter a primeira revisão do PDM [concluída]. O PDM que nós temos é de 1997, devia ser revisto de 10 em 10 anos, portanto, deveríamos estar a tratar da terceira revisão para entrar em vigor em 2027. Não são capazes de terminar a primeira revisão.
O PDM é a ferramenta principal para planear uma cidade. Nas mãos do PS não é uma ferramenta. O PS só pretende eternizar-se no poder. E o PSD e a IL pretendem resolver os problemas do Montijo.
E projectos concretos que possa anunciar?
Olhe, a requalificação da zona ribeirinha.
Essa é uma questão transversal a todas as candidaturas. Ouvimos esse compromisso eleitoral da parte de várias forças políticas há mais de 20 ou 30 anos…
As outras candidaturas representam as forças políticas que governaram o Montijo no passado. Tiveram essa oportunidade. Nós o que queremos é ganhar a Câmara para concretizar essa oportunidade. Nós, sendo eleitos em Outubro, no Verão seguinte, estamos a falar de Junho [de 2026], vamos ter uma frente ribeirinha feita.
Feita quer dizer o quê?
Que vai estar feita. Eu sei como se faz. Que vai abrir, vai ser inaugurada. Se os montijenses quiserem, em Junho [de 2026], vão acrescentar mais um quilómetro de frente ribeirinha.
Mas em que zona?
Toda, até ao jardim dos Pescadores, onde a cidade se junta com o rio. Do outro lado, do Cais dos Vapores até ao Moinho da Mundet é para se fazer logo a seguir. E fazer, logo a seguir, como? Vamos fazer um Plano de Pormenor para resolver aquele bocado da cidade ainda antes de termos o PDM resolvido. Estamos a falar de mais dois quilómetros de frente ribeirinha, para o lado nascente.
Admite aproveitar a ideia que a Câmara Municipal tem para o antigo Cais dos Vapores, de instalar ali um centro náutico e restauração?
O PS já não vai ganhar mais a Câmara do Montijo. O que se vai fazer ali vai passar muito mais pelo projecto que for vencedor do que pelo projecto que lá está, que neste momento não tem credibilidade. Teve 28 anos para o fazer e não fez. Os montijenses, eu acho, não se vão deixar enganar mais pelo PS. Nem por Fernando Caria, que é como o lado B do mesmo disco. Esteve no PS 27 anos e meio a concordar com aquilo tudo.
Em termos de projectos elencou a zona ribeirinha, ia ficar por aí?
Não. Há uma situação que temos que nos é muito cara: a segurança. O que pretendemos, já apresentámos essa ideia, é desenvolver a criação de Polícia Municipal. E é preciso dar melhores condições às forças de segurança. Vamos encontrar um local para fazer a nova esquadra, tal como vamos encontrar para resolver outras situações, por exemplo, de desporto, um local para fazer um hospital.
Logo no primeiro mês, posso dizer que iremos encetar conversações com o Ministério da Administração Interna para resolver a questão da esquadra e vamos resolver logo a activação da Polícia Municipal, que não se activa de um dia para o outro, demora dois anos. Ao fim de dois anos vai haver Polícia Municipal no Montijo.
E o investimento é suportável?
É completamente suportável, até porque é um dos investimentos que a cidade necessita. Nós temos é de canalizar as verbas para as áreas que são prioritárias e essenciais.
Tem mais algum projecto que considere prioritário?
Vamos definir um local, em sede de PDM, para fazer um novo hospital. É preciso fazer um campus hospitalar. Vamos intervir também na área da Protecção Civil, para recuperar os quartéis dos bombeiros. É necessário também, ao nível da mobilidade, arranjar soluções. Nós prevemos duplicar parte da Estrada Nacional, criar duas faixas na Estrada Nacional, entre a rotunda do Gameiro e a rotunda de Sarilhos. Vamos criar uma parceria com os privados, para tudo o que tem a ver com as actividades económicas. Vamos desburocratizar a Câmara, um procedimento que hoje demora seis, sete ou oito meses, vamos cumprir os prazos legais e vamos passá-lo a fazer em dois. Aí, se calhar vamos revolucionar na Área Metropolitana de Lisboa.
Quais são os objectivos mínimos e os máximos da sua candidatura?
Governar bem a Câmara do Montijo para os montijenses. É ganhar as eleições e governar. Estou confiante.