1 Julho 2024, Segunda-feira

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Pedro Ferreira: “Nunca existiu comunicação entre a direcção e o comando dos bombeiros”

Pedro Ferreira: “Nunca existiu comunicação entre a direcção e o comando dos bombeiros”

Pedro Ferreira: “Nunca existiu comunicação entre a direcção e o comando dos bombeiros”

O comandante identifica as carências da unidade e responsabiliza a direcção, entretanto demissionária. E afirma que há apoios recebidos da autarquia que não são utilizados de acordo com o propósito da atribuição

 

Os sócios da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Montijo vão voltar a ser chamados às urnas a 24 de Março próximo, para escolherem novos órgãos sociais. O mandato da direcção demissionária durou pouco mais de um ano e fica marcado por sucessivos focos de conflito, abandonos e afastamentos: com elementos dos órgãos sociais e entre elenco directivo e comando – a ruptura foi notória e visível desde a primeira hora.

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Pedro Ferreira, que foi demitido dos quadros mas que permanece como comandante na qualidade de voluntário, faz o diagnóstico à “saúde” dos bombeiros. Identifica a falta de equipamentos com que a corporação se debate, traça um histórico para explicar por que a 2.ª Equipa de Intervenção Permanente (EIP) continua por implementar e, mesmo perante dificuldades, promete à população profissionalismo, rapidez e eficácia na resposta às situações de emergência.

Qual é a actual capacidade de resposta do corpo operacional dos bombeiros do Montijo? É boa ou má?

Face aos recursos que temos é excelente. Temos pessoal com boa formação e com vontade. O Montijo tem excelentes bombeiros.

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É verdade que têm muita falta de equipamentos?

A falta de equipamentos é transversal aos bombeiros do nosso País, devido a uma política de desinvestimento nos bombeiros voluntários por parte dos vários governos.

Montijo não é excepção. Temos, no entanto, uma excelente Câmara Municipal que nos apoia na compra de alguns equipamentos que necessitamos. Infelizmente, nem sempre chega aos bombeiros o que a Câmara Municipal aprova para os bombeiros. Continuamos à espera dos equipamentos que foram aprovados em Novembro de 2021.

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Mas o que falta em concreto?

Temos falta de equipamentos de protecção individual para incêndios estruturais, existem bombeiros que nem sequer têm protecção e outros com equipamentos obsoletos. Os capacetes já têm diversos anos e já não se adaptam à realidade, faltam equipamentos respiratórios, rádios, um gerador de espuma, rádios ATEX, lanternas… Isto para não falar das embarcações que estão todas inoperacionais, ou seja, não conseguimos efectuar um socorro nas nossas águas. Também em matéria de acidentes falta-nos algum material e revisão do nosso equipamento hidráulico. Tudo isto, apesar de em 18 de Abril de 2022 ter sido entregue à actual direcção uma lista de material que necessitamos. Mas nunca tivemos resposta.

Na última reunião de câmara foi revelado que existe pelo menos uma viatura de combate a fogos urbanos parada a aguardar reparação. O presidente da autarquia disse que o município até financiaria a reparação, caso tivesse sido solicitado apoio. O que se passa?

Os veículos que estão para reparar são os de combate a incêndios rurais. Um deles sofreu um acidente de viação em Setembro e continuamos a aguardar que esta direcção se digne a informar o comando sobre o estado do veículo e o tempo de espera; o outro partiu um suporte de mola e está a aguardar o arranjo. Também neste caso não houve resposta da direcção. Existe uma pequena avaria num veículo de combate a incêndios urbanos, mas que não impede a sua utilização nas ocorrências.

É verdade que o sr. presidente da Câmara disponibilizou-se para pagar as reparações, incluindo também o veículo de comando que desde Outubro estava em parte incerta para fazer uma revisão/reparação e que, milagrosamente, foi entregue no passado dia 2 de Janeiro.

Não sei se existe comunicação entre a direcção e a autarquia. Entre o Comando e a direcção nunca existiu, apesar de várias tentativas por parte do comando.

Temos falta de pessoal para a emergência e esta direcção o que fez foi despedir técnicos com várias valências, apenas porque foram contratados pela anterior direcção e com o meu aval

Foi ainda revelado que a 2.ª Equipa de Intervenção Permanente (EIP) não está a funcionar. A que se deve isso, tendo em conta que a Câmara já financiou a sua implementação?

O protocolo celebrado entre município, Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) e bombeiros do Montijo, para a constituição dessa 2.ª equipa, foi celebrado em 11 de Maio de 2022. A 27 de Maio foi solicitado à actual direcção a contratação de motorista de pesados para integrar a 2.ª EIP, uma vez que na bolsa não existia um bombeiro com essa valência.

A 18 de Junho, após a realização de provas de avaliação internas para acesso à 2.ª EIP, foi proposta a equipa para essa EIP. Mas, não existe resposta ao pedido de contratação do motorista de pesados.

A 31 de Agosto, um elemento da 1.ª EIP despediu-se para integrar a recruta do Regimento de Sapadores Bombeiros. A 1 de Setembro foi feita a proposta de integração na 1.ª EIP de dois bombeiros. Não foram aceites. Foi pedido pela direcção a integração do bombeiro que tinha ficado em último nos testes de admissão, o que não achei justo. Foram propostos outros nomes, mas sem resposta.

A 2 de Dezembro de 2022 voltei a apresentar nomes à direcção e a reforçar o pedido de um motorista de pesados para a 2.ª EIP. A 5 de Janeiro deste ano apresentei mais um nome para colmatar a falta do elemento, reforcei o pedido de contratação do elemento com carta de pesados e também apresentei mais uma vez a constituição da 2.ª EIP.

Finalmente, a 20 de Janeiro é colocado um anúncio para admitir dois motoristas de pesados, apesar da direcção estar demissionária…

E a primeira EIP está a cem por cento?

Apesar de não ter sido contratado um elemento para a falta na 1.ª EIP, a equipa encontra-se completa pois coloquei em funções um elemento da bolsa.

Pode dizer que o socorro no Montijo está garantido a qualquer hora ou há períodos em que está comprometido?

Existem períodos em que o socorro poderá demorar algum tempo. A EIP que está em acção apenas funciona das 9 às 18 horas. Existem também duas equipas de emergência a funcionar 24 horas/dia ao longo de todo o ano. O ideal seriam quatro equipas de emergência, já que temos quatro ambulâncias de socorro. Temos falta de pessoal para a emergência e esta direcção o que fez foi despedir técnicos com várias valências, apenas porque foram contratados pela anterior direcção e com o meu aval.

A 2.ª EIP vem colmatar a falha que existe das 6 às 9 horas e entre as 18 e as 21 horas. O socorro, fora destes horários e ao fim-de-semana, é garantido por voluntários que recebem uma verba paga pela autarquia.

Ainda tenho mais três anos de comissão e vou cumpri-los até ao fim

Foi demitido dos quadros pela direcção, que agora está demissionária. As eleições para os órgãos sociais já estão marcadas para 24 de Março…

… E espero que os próximos órgãos sociais venham com espírito de missão, para servir a população, que venham com a vontade de elevar este corpo de bombeiros e de o dotar de meios, para que possamos continuar a garantir o socorro à população. Espero que os sócios desta centenária associação venham votar, para que de uma forma transparente e democrática se possam eleger as pessoas certas para levar a bom porto esta associação.

Se volto a ser contratado ou não, depende dos novos órgãos sociais. Ainda tenho mais três anos de comissão e vou cumpri-los até ao fim. Acredito que posso cumprir a missão que me foi confiada pela anterior direcção, se me fornecerem meios. O comandante tem de estar dedicado ao corpo de bombeiros a tempo inteiro, 24 horas por dia.

Tenho um orgulho enorme nas mulheres e homens que comando. A população do Montijo deve sentir orgulho nos seus bombeiros, dos “meus” bombeiros. São os melhores do Mundo, são os “meus”.

A população tem razão para se preocupar com a actual situação que se vive no seio da associação e recear que isso se reflicta na resposta a casos de emergência?

A actual situação não é a melhor, mas vamos continuar a pautar a nossa actuação em situações de emergência de uma forma profissional, rápida e eficaz. Como em todas as corporações, os meios são finitos, mas acredito que com a vinda de um novo elenco directivo se possa contratar mais pessoal para a emergência e assim ficarmos com quatro ambulâncias de emergência a funcionar. E no futuro, com a aquisição de mais uma ou duas ambulâncias de socorro, podermos aumentar a nossa capacidade de resposta.

É claro que temos de contar sempre com o apoio da autarquia, mas também tenho a certeza de que esse apoio nunca nos vai faltar, como nunca nos faltou. O que falta é fazer chegar esse apoio aos bombeiros.

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