Obra de João Costa foi apresentada na Igreja da Misericórdia. Autor desmistifica informação que até hoje apontava para 1568. Santa Casa só pode ter sido fundada a partir de 1571
“A Misericórdia de Aldeia Galega do Ribatejo 1571-1910” intitula o livro, da autoria de João Costa, sobre a história da Santa Casa do Montijo. A obra, lançada no passado domingo, na Igreja da Misericórdia, vem alterar aquela que até aos dias de hoje era tida como data da fundação da instituição.
O autor João Costa, 34 anos, investigador na Universidade Nova, iniciou o projecto em Janeiro de 2019 e durante a cerimónia explicou como a data da fundação da Misericórdia do Montijo só pode ter acontecido a partir de 1571 e não em 1568.
“A primeira pessoa a estudar com mais pormenor a Misericórdia foi José Simões Quaresma e no seu trabalho, em meados do Século XX, afirmou que a Misericórdia teria sido fundada em 1568. Isto porque existia um caderno de Fernão Fidalgo, mestre pedreiro que trabalhou nas obras da casa do despacho e da igreja, que apontava para essa data”, começou por explicar. Trata-se de “um caderno com documentação de 1573 até 1575/76” e contém “um documento do contrato que diz que as obras tinham de terminar em 1575”. E, no entender de João Costa, “José Simões Quaresma não interpretou bem essa data”.
O documento em baixo “tinha a data em numeração árabe e não na galaico-portuguesa”. Na numeração árabe “estava lá escrito 1568, mas foi o escrivão do documento de baixo que se enganou”. Mais tarde, Costa Godolfim “edita um livro, em 1897, sobre as misericórdias, com uma tabela onde faz a síntese dessas instituições e a data de fundação”. E lá surge Aldeia Galega. “Mas ele não diz se é a Aldeia Galega da Merceana, Alenquer, ou a de Ribatejo, Montijo. Ora, quando cruzamos a informação da obra do Godolfim com toda a que é conhecida para a Misericórdia de Aldeia Galega do Ribatejo é impossível que esta tivesse sido fundada em 1568”, afirma. E reforça: “A partir de 1571 podemos considerar que há a Misericórdia [de Aldeia Galega do Ribatejo] e em 1572 há a primeira lista de irmãos [da instituição]. Faz todo o sentido este novo cronograma”.
Antes, Ilídio Massacote, recém-eleito provedor da Misericórdia do Montijo, lembrou que a obra “é um trabalho da mesa anterior” e que constitui “um marco histórico” na cultura local e até do País. Também Cardoso Ferreira, da União das Misericórdias Portuguesas e provedor da Santa Casa de Setúbal, sublinhou a importância do trabalho. “Este é um grande momento da Santa Casa do Montijo. O que estão aqui a fazer é intemporal”, considerou. O livro, apresentado pelo professor João Alves Dias, não conclui, de resto, o projecto iniciado por João Costa há dois anos. Na forja estão mais dois volumes. “O próximo terá uma cronologia entre 1600-1601 até 1755. E o terceiro terminará com a implantação da República”, revelou o autor, a concluir.