O candidato independente com o apoio do ADN tem como principal bandeira eleitoral a construção de um estádio de futebol com pista de atletismo. Assume a criação de um gabinete do provedor do munícipe e diz que o partido já tem praticamente ganha a freguesia de Pegões
Foi cabeça-de-lista pelo ADN nas últimas legislativas pelo círculo de Portalegre e vai voltar a ir votos no Montijo (também pelo ADN), depois de em 2021 ter encabeçado, também como independente, a candidatura do PPM à Câmara Municipal. Manuel Fona Vieira, mestre em Direito, especialista em direito penal e processual penal, e pós-graduado em Direito do Desporto, ainda mantém de pé algumas das propostas que apresentou há quatro anos – como a construção de um complexo desportivo – e diz que o município do Montijo “precisa de gente nova, de sangue novo, de gente capaz, que traga ideias novas”.
“Os candidatos à Câmara do Montijo não têm qualquer tipo de capacidade, e falamos principalmente de dois que pertencem ao concelho de Alcochete (o do Chega e o da CDU) e de um que é dissidente do PS”, dispara.
Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM (90.9), o advogado admite ainda que se for eleito vereador já não será um mau resultado, mas mostra-se inabalável na vitória do ADN na freguesia de Pegões.
Nas últimas autárquicas começou por se assumir como cabeça-de-lista pelo Chega, mas acabou por se candidatar pelo PPM. Agora, apresenta-se a votos pelo ADN. Não teme que o eleitorado possa ver aqui alguma falta de convicção política ou de coerência, em face destas mudanças em tão curto espaço de tempo?
Nunca fui candidato pelo Chega, nunca pertenci ao Chega e não tenho nada a ver com esse partido. Não me identifico com nada do que esse partido populista, extremista, faz, diz, nem tão pouco com os seus líderes.
Mas em 2021 chegou a assumir que iria a votos pelo Chega. Assumiu-o até em entrevista a O SETUBALENSE. Não teme que estas inflexões de posição possam acabar por ser malvistas pelo eleitorado?
Estou na política de livre e espontânea vontade, de forma livre. Ou seja, não preciso da política para angariar qualquer tipo de financiamento para poder viver o meu dia-a-dia. Graças a Deus estou muito bem financeiramente. A questão é que os candidatos que se apresentam à Câmara do Montijo não têm qualquer tipo de capacidade, e falamos principalmente de dois que pertencem ao concelho de Alcochete (o do Chega e o da CDU) e de um que é dissidente do PS. São pessoas que não alargam a probabilidade de podermos desenvolver o concelho, e o mais importante aqui é frisar que nenhum destes candidatos tem alguma possibilidade perante mim. São pessoas que não vão trazer nada ao concelho. Se eu for eleito, a primeira coisa que irei fazer é uma auditoria.
Forense?
Também. Mas, não vou colocar em causa o trabalho das pessoas que passaram por lá, o trabalho daqueles que perderam muito tempo em prol do Montijo, e não vou dizer que estou aqui num mar de corrupção. Isso é injusto.
O ADN vai apresentar listas…
…Em todas as freguesias, todos os órgãos autárquicos. Nós vamos ganhar Pegões…
Mas já estão definidos os candidatos?
Já estão todos, mas não lhe posso dizer. Por Pegões é uma pessoa muito forte, que irá mudar a freguesia. O mais importante aqui é que não venham com populismos, com extremismos, porque nós não temos medo de ninguém. Queremos apenas trabalhar em prol dos montijenses. De uma forma irónica, digo sempre que pediria aos montijenses para não votarem em mim, porque iriam estragar a minha própria vida, tenho uma vida completamente estável…
… Então por que se candidata?
Por uma razão muito simples: o Montijo precisa de gente nova, de sangue novo, de gente capaz, que traga ideias novas. Não precisa de populismos. Não podemos votar em populismos, extremismos ou em pessoas que estiveram ad aeternum ligadas ao poder autárquico. Essas pessoas não adiantam nada. Sabe o que a candidatura do sr. Fernando Caria quer? Revanche! Quer vingar-se da promessa que lhe fizeram e não foi cumprida, de ser candidato [do PS]. Não foi, temos pena. É o Ricardo Bernardes, que muito prezo e muito gosto. As pessoas novas, sim, necessitam de apoio. Não necessitamos de gente obsoleta, incapaz.
Em que eixos de acção assenta a sua candidatura?
Educação, saúde, habitação e imigração.
O que propõe para a área da educação?
Que possam ser incrementadas creches, pré-escolares, ATL’s, para que depois possa ser mais fácil o caminho e para que a parte que tem a ver com 1.º ciclo, 2.º ciclo e toda essa vertente educacional possa ser desenvolvida de forma equitativa, equilibrada.
Está a falar da construção de novos estabelecimentos de ensino?
Também.
Quantos?
Pelo menos três. Estamos a falar da zona do Areias, também da parte que abrange a zona do Saldanha e vai também ao encontro da zona da Caneira. São partes carentes que necessitam de uma intervenção autárquica rápida.
O que defende para a área da saúde?
Tem de haver obrigatoriamente uma ligação mais próxima com o hospital do Barreiro. Têm de ser aumentadas as valências do hospital do Montijo.
Mas centrará mais atenção na área dos cuidados de saúde primários ou na área dos cuidados hospitalares?
Nos cuidados hospitalares temos de ter sempre em consideração aquilo que o hospital do Barreiro fará. Agora, nos cuidados primários, sim. Obviamente que necessitamos de mais centros de saúde. Há muita gente que procura o Montijo, o Montijo é uma terra apetecível, é uma terra de que as pessoas gostam e tem acessibilidades para que as pessoas possam trabalhar em Lisboa… Deixámos de ser aquela localidade conhecida como terra dos porcos. Defendi, em sessão de câmara [no período de intervenção do público], uma rotunda alusiva aos montijenses, com uma azinheira, uns pastores e porcos, mas correu mal. Disseram que eu podia estar a chamar porcos aos montijenses, inclusive pessoas ligadas ao PSD e ao Chega… O Montijo para mim há-de ser sempre a terra dos porcos, ponto.
Face às explorações suinícolas que tem e à actividade no sector de transformação de carnes…
… Se não conseguirmos interpretar a história… Sem história não há presente e o futuro far-se-á com o estudo do presente e da história. A história do Montijo é porcos, a história de Setúbal é peixe, a história de Elvas é ameixas… A ligação que o Montijo tem é aos porcos, ponto final. Não há volta a dar. Montijo foi reconhecido sempre pela sua entrada, pelo seu cheiro característico e pelos porcos, ponto final.
Que diagnóstico faz à situação da imigração no concelho e que medidas preconiza para tentar resolver aquilo que já se tornou num problema na freguesia de Pegões?
Digo-lhe já aqui, sem qualquer pejo, que Pegões vai ser do ADN. Pegões está repleto de imigração clandestina. Nós vamos criar um gabinete do provedor do munícipe, para ter indicações da população das diversas freguesias e se possa saber desses problemas. Pegões é o mais preocupante.
Há quatro anos tinha como bandeira eleitoral a criação de um metro de superfície a ligar Montijo e Alcochete. Ainda mantém essa prioridade?
Não sei se agora é exequível. Basicamente, foi uma ideia, na altura, muito gira, que levantou celeuma e preocupações.
Apontava também à criação de um complexo desportivo com pista de atletismo. Continua a defender esta medida?
Claro que sim. Esta é uma área que domino muito, que é a área do desporto. Na rotunda da Força Aérea, há uns terrenos ali, que estão de fronte, onde era para ser implementado [pela Câmara] o projecto que trazia para ali uma nova esquadra da PSP e também um novo complexo desportivo.
Talvez a minha maior bandeira seja essa. O Montijo não tem nada, não tem um complexo. Se você quiser praticar atletismo, anda a correr nas ciclovias. As ciclovias subentende-se que são para as bicicletas.
Mantém então de pé essa pretensão?
É a minha grande bandeira, a construir exactamente no mesmo sítio. Há ali um diferendo com um último dos proprietários [dos terrenos] que ainda não liberalizou aquela parte para o projecto ser exequível. Mas podemos, de facto, começar a pensar que o Montijo tem direito e pode ter o maior complexo desportivo do distrito.
A englobar um estádio de futebol?
Sim. Estamos a falar de um estádio que albergue, quanto muito, 10 mil espectadores. Mas com uma pista de atletismo. Estamos a falar em um complexo com um campo relvado, um ou dois campos sintéticos. Um complexo que valha a pena para dignificar os montijenses.
E esse seria um projeto exequível em quatro anos?
Quatro mais quatro. Vamos falar em oito anos.
No seguimento das bandeiras eleitorais que apresentou há quatro anos, apontava também à transformação da Praça de Toiros num multiusos. Mantém essa intenção?
Claro que sim. Mas transformar a Praça de Toiros passa sempre pela Santa Casa da Misericórdia [proprietária do espaço]. Tinha de haver um protocolo, um arrendamento a 50 anos, uma coisa que valha a pena para os montijenses terem de facto um local de espectáculos, independentemente do Cineteatro Joaquim d’ Almeida ser fantástico.
Que resultado espera obter nestas próximas autárquicas, agora com o apoio do ADN, tendo em conta que nas últimas, em 2021, acreditava que sairia vencedor e esse resultado ficou muito aquém das expectativas?
Se os montijenses acharem, se quiserem colocar o seu voto no ADN, no Manuel Fona Vieira, para mim, é um privilégio. A minha equipa é muito boa. Costumo dizer que sozinho nada sou.
Mas o que será, para si, um bom resultado?
Ser eleito vereador já não era mau. Tenho uma grande equipa, gente muito válida, mas não serei eu, de certo, que irei fazer essa avaliação. Serão os montijenses. Digo-lhe é que vamos ganhar Canha, vamos ganhar Pegões. São duas freguesias onde vamos apresentar-nos muito fortes. Mas Pegões é certo. Em Pegões a vitória será garantidamente nossa. Venha quem vier. Venham os extremistas…
… Coloca muito o Chega como partido extremista, mas há quem coloque também o ADN no mesmo saco.
Olhe que não.
Agora fez lembrar Álvaro Cunhal.
Olhe que não. Olhe que não.