João Afonso: “O PS deixa uma pesada herança que terá de ser revertida com muita coragem, transparência e rigor”

João Afonso: “O PS deixa uma pesada herança que terá de ser revertida com muita coragem, transparência e rigor”

João Afonso: “O PS deixa uma pesada herança que terá de ser revertida com muita coragem, transparência e rigor”

O social-democrata arrasa a gestão socialista. “A Câmara está parada, a presidente está em part-time e os vereadores são incapazes de gerir os pelouros. A pasmaceira e o pântano continuam”, dispara. Diz que as obras adjudicadas pelo município são sobrefacturadas e deixa recados duros para o interior do PSD

Corrosivo, sem medo das palavras, João Afonso faz um balanço negativo ao “reinado” socialista no concelho. O vereador do PSD, que vai recandidatar-se à presidência da Câmara do Montijo nas eleições de 2025, mantém a porta aberta para uma coligação à direita, quer com a IL quer com o Chega, e ataca os autarcas do PS em todas as frentes.
Em entrevista a O SETUBALENSE e à rádio Popular FM, o social-democrata diz que a autarquia é “incapaz de fazer investimento público”, porque está “desestruturada” e “não tem capacidade de alavancar processos”, já que os seus quadros “estão bastante depauperados”.
Sobre o PSD, João Afonso revela que não apoiará nem Paulo Ribeiro nem Luís Rodrigues na corrida à liderança da distrital do partido. E afirma: “Devíamos terminar com uma certa guerra tribal que acontece no distrito há muitos anos e dar espaço a outros protagonistas”.

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O executivo municipal ficou melhor ou pior servido com Clara Silva na presidência, depois da saída de Nuno Canta para a AMARSUL?
Nem melhor nem pior, ficou exactamente como estava, em estado comatoso, que é o estado do PS neste momento no Montijo. Há uma nuance, que é o facto do PS no Montijo ser agora controlado por um conjunto de pessoas que incorporam aquela tribo de radicais da ideologia de género. Não vejo alteração ao rumo dos acontecimentos, a Câmara está parada, o executivo não funciona, temos uma presidente em part-time, vereadores com manifesta incapacidade para gerir os pelouros, nomeadamente o da Educação, que é o que mais me preocupa. A pasmaceira continua e o pântano continua.

Que nota, de zero a dez, atribui à gestão socialista?
O PS fez muito pouco face àquilo que eram as suas oportunidades e face às condições dadas pelos montijenses. Daria um 3 ou um 4, mas por compaixão cristã, porque há situações abaixo de zero. O PS deixa uma pesada herança que terá de ser revertida nos próximos anos com muita coragem, transparência e rigor.

Mas não reconhece qualquer medida ou intervenção positiva a esta gestão PS?
Não reconheço políticas positivas, reconheço intervenções positivas. Lembro-me de aprovar medidas do PS, em sessões de câmara, como por exemplo o investimento para o novo lar da CERCIMA. Não é possível um executivo tão mau fazer tudo mal. Há medidas avulso positivas, olhe o apoio ao Estrela Futebol Clube Afonsoeirense.

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E quanto a obras?
Das feitas ou por fazer? É que das feitas há uma nota muito importante sobre a obra da Casa da Música Jorge Peixinho. Gastou-se uma fortuna, ultrapassou-se qualquer racionalidade em termos de orçamento, e é mais um exemplo de como se gasta a mais. As obras feitas no concelho do Montijo estão todas elas sobrefacturadas, têm valores acima do razoável. Trabalho muito com empresários e sei bem qual é o preço de mercado. Há uma sobrefacturação na maioria das obras e não têm sido obras prioritárias. A esquadra da PSP é prioritária e essa obra nunca avançou, a requalificação da frente ribeirinha também e não avançou, a construção de uma ponte entre a Lançada e o Montijo também não, a construção de um grande centro de saúde também não avançou…

Foi inaugurada a Unidade de Saúde Familiar no interior do hospital do Montijo.
Inaugurado à dimensão da mentalidade do PS, que é fazer pequenas coisas, dispersas e com custos operacionais bastantes elevados. Essa obra foi feita à custa de umas instalações abandonadas no hospital e também à custa dos médicos que estavam no Centro de Saúde do Montijo e que foram transferidos de um lado para o outro.
O PS tem feito pouca obra, pouco investimento público, até porque a Câmara Municipal está incapaz de fazer investimento público, porque está desestruturada, não tem capacidade de alavancar processos, os quadros estão bastante depauperados, as pessoas com qualidade têm sido perseguidas e ostracizadas, foram saindo para outras câmaras e serviços do Estado Central ao abrigo da lei da mobilidade. Veja-se a Loja do Cidadão, reiteradamente atrasada por incapacidade de resposta da Câmara, ou a Piscina Municipal, uma obra constantemente atrasada e que não vai ser inaugurada neste mandato, porque a Câmara não consegue instruir um processo capaz.

Recentemente levantou o problema da insegurança no centro da cidade. Se vier a ser eleito, garante a implementação de videovigilância e polícia municipal?
Sim. A videovigilância carece de aprovação de uma série de entidades, mas a tutela está aberta a este tipo de iniciativa que está a avançar por todo o País. Já defendo essa medida de segurança há muitos anos, lembro-me de ter sido apelidado de fascista e pidesco pelo PS e pelo PCP. Hoje são as pessoas e os próprios comerciantes que gritam por essa medida. Não vou permitir que a bandidagem e a insegurança imperem na cidade. No que depender de mim, Montijo terá videovigilância, polícia municipal e uma esquadra. Já falei com o secretário de Estado da Administração Interna e transmiti-lhe a necessidade de se avançar com a construção da esquadra. Acho que o PSD não pode falhar aos montijenses com essa medida.

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É também acusado de ser populista e de adoptar discursos alarmistas ou com falta de verdade. Por que acha que isto acontece?
Quando comecei neste processo de candidatura à Câmara, há quase nove anos, o PS e o PCP diziam que eu era um betinho elitista e que não tinha qualquer credibilidade. Sempre que fazia intervenções com vídeos nas redes sociais, diziam que eu não tinha jeito para político, mas sim para repórter. Hoje, quando estamos a crescer em termos eleitorais – e quase ganhámos a Câmara –, já não somos elitistas nem betinhos, passámos a ser populistas. Estou habituado. No distrito, sempre que o PSD tem alguma força política passa a ser injuriado de fascista, populista. É uma adjectivação que às vezes intimida alguns protagonistas do PSD no distrito, mas a mim não.

Que outras medidas elege como prioritárias para o concelho?
Montijo tem carências em toda a linha. A higiene e limpeza urbana é absolutamente prioritária. Nunca vi a cidade neste estado. O Montijo é dos concelhos mais abandalhados e mais conspurcados no País. Não podemos transmitir uma imagem positiva, se estamos sujos. O nosso concelho não pode estar sujo. Depois, estou particularmente preocupado com o problema da habitação… E prioridade à educação.

Que análise faz à Estratégia Local de Habitação (ELH)?
Se olharmos para o que está escrito no documento e para o que foi implementado no terreno, não há nenhuma adesão à realidade. Existia um calendário de execução que está muito desfasado e atrasado. Já foi ultrapassado em anos. O que o PS escreve, promete, é uma coisa; a realidade é outra. A realidade é que não temos uma nova habitação construída desde 2015. Mais: se olharmos hoje para o PRR, o Montijo ainda não recebeu um cêntimo de financiamento para habitação. Algumas câmaras já receberam milhões, outras receberam centenas de milhares, e o Montijo zero. Independetemente do PRR, temos capacidade para, paulatinamente, investirmos na habitação, a esse nível gosto muito do exemplo de Braga…

Mas há dinheiro para isso, com um orçamento na ordem dos 60 a 70 milhões de euros?
Todos os anos são desbaratados milhões de euros. A Câmara Municipal tem um desperdício que estimo em mais de 10% [do Orçamento], com contratação de pessoas desnecessárias, sobrefacturação das empreitadas…
Em termos orçamentais temos de fazer duas coisas: a Câmara tem de ser pró-activa no que toca à receita. Perdemos todos os anos vários investimentos no Montijo, porque não há capacidade de falar com os empresários e de darmos condições.
E ao nível da despesa temos de racionalizar… o que as câmaras têm é de perceber, de uma vez por todas, que não são comissões de festas, que têm de gerir muito bem o dinheiro público. Acho, por exemplo, inaceitável que as Festas do Montijo custem 500 mil ou 600 mil euros declarados, quando se calhar custam 700 mil ou 800 mil. Podemos fazer o mesmo, e até com qualidade superior em muitos aspectos, com menos dinheiro. Jorramos dinheiro nas festas populares para alimentar um conjunto de pessoas que vivem em torno da Câmara Municipal.

O Montijo tem dezenas de milhares de utentes sem médico de família e um hospital a definhar, quase sem valências. Já falou com alguém do actual Governo sobre esta matéria?
Falei com alguns deputados do PSD, eleitos pelo distrito de Setúbal, sobre a necessidade de termos soluções para que haja um incremento de médicos de família. Mas essa é uma situação que vai levar tempo. E não desisto da questão do hospital. Temos de encontrar uma solução para o hospital do Montijo em parceria com os municípios, o sector social e o Ministério de Saúde.

Está confiante de que o novo aeroporto vai avançar no Campo de Tiro?
O PSD tem de se diferenciar do PS, tem de tomar decisões e executá-las. Para tomar decisões e não executá-las temos o PS. A decisão foi tomada, portanto temos de avançar com o processo.

Concorda com a ideia da CDU de descentralizar serviços do município nas freguesias rurais do concelho?
Concordo, mas essencial é reestruturar e modernizar a Câmara Municipal, permitir que as pessoas competentes estejam à frente dos serviços, valorizar a meritocracia e digitalizar a autarquia. Que depois tenha um pólo a funcionar bem em Pegões, acho que sim.

Perdeu as duas últimas eleições para o PS, acredita que à terceira irá conquistar a primeira câmara na história do PSD no distrito?
Acredito. Se o PSD tiver a humildade de se relacionar sempre com as pessoas, se se distinguir dos restantes partidos, naquilo que é a relação promiscua com associações, clientelas, empresários, se mantiver a sua identidade de partido popular, se se coligar com as pessoas e não com os interesses, estou convencido de que o PSD terá uma grande votação nas próximas eleições. Não podemos dizer, com arrogância, que temos a certeza de que vamos ganhar. Mas acredito.

Logo após as últimas legislativas abriu a porta a uma coligação com o Chega no Montijo para as próximas autárquicas. O processo evoluiu ou foi obrigado a recuar?
O PSD não me obrigou a recuar, até porque não é muito fácil obrigar-me a recuar. A minha posição é clara: não tenho linhas vermelhas, não há cidadãos de primeira nem de segunda. Recordo que nas minhas listas tive pessoas que militaram na CDU, na UDP, noutros partidos. Não acho que os votantes do Chega sejam leprosos. São pessoas que estão fartas de muita coisa, perderam a esperança nos partidos tradicionais, entre os quais o PSD, e têm de ser acarinhadas e compreendidas. Não tenho nenhum problema com o Chega nem com a Iniciativa Liberal [IL]…

Mas a IL não levanta tantos anticorpos dentro do PSD como o Chega, que foi a linha vermelha decretada por Luís Montenegro.
Mas não acompanho essa linha. Tenho uma posição muito parecida à do ex-primeiro-ministro Passos Coelho. O partido é grande e democrático, nem todos têm a mesma opinião. O PSD precisa do apoio da sociedade civil e do apoio de pessoas que votam noutros partidos. Na minha opinião, a base eleitoral do PSD em termos de autárquicas no Montijo será entre os 15 e os 20 por cento. Precisamos de alargar esta base eleitoral, que foi o que fizemos nas últimas autárquicas. O PSD tem de ter a capacidade de se abrir. Se não houver coligações com a IL, com o Chega, não será por minha responsabilidade.

Já falou com alguém do Chega ou da IL?
Já houve contactos informais. No que depender de mim, não estabeleço linhas vermelhas.

Acha que ficará com a vida mais facilitada se Fernando Caria, presidente da Junta de Montijo/Afonsoeiro, desvincular-se do PS e apresentar uma candidatura independente?
Não sou cínico, havendo essa divisão dentro do PS, ajuda-nos. Mas acho que, independentemente do candidato do PS ser A ou B e de o PS estar dividido como está, o PSD é neste momento o partido mais forte no concelho e tem todas as condições de ganhar as eleições.

Quem vai apoiar nas eleições para a distrital do PSD, Paulo Ribeiro ou Luís Rodrigues?
Ambos me contactaram e disse-lhes que a secção do Montijo, que neste momento é a maior do distrito de Setúbal, não irá manifestar apoio a um ou a outro. Vamos assumir uma posição de neutralidade. (…) Acho que o Montijo tem sido pouco considerado pelo partido em termos distritais. Entendo também que aquilo que deve ser feito pelo partido para o distrito é algo completamente diferente. Devíamos terminar com uma certa guerra tribal que acontece no distrito há muitos anos e dar espaço a outros protagonistas – a verdade é que são sempre os mesmos – e preferi afastar-me deste processo. Acho que o Montijo não ganha nada com este processo da distrital.

Isso significa votar em branco.
Sim, irei votar em branco.

Não é um erro estratégico assumir tudo isso publicamente?
Algumas pessoas do partido dizem que tenho mau feitio, que só faço o que me apetece. Já lhes disse que se eu fizesse o que eles fazem, ou o que queriam, teria os resultados eleitorais que eles têm. Sou aquilo que sou. Defendo a minha cidade e a minha terra. É o que é.

Vai recandidatar-se à concelhia do Montijo?
Irei recandidatar-me. É o último mandato a que me poderei candidatar, face aos estatutos do partido.

O PSD também viveu uma fractura nas últimas eleições para a secção do Montijo. Essa fractura acentuou-se ou está mais sanada?
Penso que está mais sanada. Foi feito um conjunto de diligências no sentido de dar maior harmonia ao partido em termos concelhios. Estou esperançado nisso.

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