Atribuição de pelouro da Educação contestada. Social-democrata diz que a socialista é ‘activista radical’. Presidente Clara Silva e vereadora dizem defender outra coisa: identidade de género
João Afonso, vereador do PSD, considera que a nova vereadora socialista Marina Birrento “não tem condições políticas” para estar à frente do pelouro da Educação. E acusou, na reunião pública do executivo de quarta-feira passada, a autarca de ser uma “activista radical da ideologia de género”, o que, adiantou o social-democrata ao citar alguma bibliografia especializada, coloca em causa “a saúde mental das crianças”.
“A ideologia de género tem a ver com uma tribo de radicais que proliferam pelo mundo… consideram que cada um de nós define o seu género sexual de acordo com a sua própria vontade e que nada disto tem a ver com a dimensão biológica”, disse o vereador do partido laranja, que contestou depois a atribuição do pelouro da Educação à socialista. “A senhora não tem condições para ser vereadora da Educação. A senhora pensa aquilo que põe em causa a saúde mental das crianças do Montijo”, atirou.
A questão acabou por marcar o período antes da ordem do dia e foi Maria Clara Silva, presidente da Câmara, quem primeiro reagiu às considerações do social-democrata, mas focando-se sempre em identidade e não em ideologia de género. “O direito à identidade de género não é uma teoria de activistas radicais. É uma questão que está na lei portuguesa. É uma igualdade de oportunidades que se pretende, não aquilo que para aí disse”, retorquiu a líder do executivo, ao mesmo tempo que sublinhou que as casas-de-banho mistas estão plasmadas na lei.
“Vem aqui dizer que [Marina Birrento] não tem competência para ser vereadora da Educação, mas quem é o senhor para atribuir competências a quem quer que seja para ser aquilo que for?”, disparou Clara Silva.
Vereadora diz não existir ideologia de género
O vereador do PSD foi depois aconselhado por Marina Birrento a ler a “Estratégia para a Igualdade e a Não Discriminação (ENIND)”, que a socialista lembrou ter ajudado a implementar. E contra-atacou: “Fez uma grande confusão entre dois conceitos: o conceito sexo e o conceito género. O conceito de ideologia de género não existe, foi criado por grupos contra as políticas de promoção aos direitos humanos e aos direitos entre pessoas do mesmo sexo. As pessoas do Chega é que utilizam a expressão ideologia de género. Vá estudar e posicione-se, se é ou não do Chega. Esse discurso cola-se ao Chega e não ao PSD”.
Marina Birrento reforçou ainda que a ideologia de género é uma narrativa usada para “tentar ganhar moralidade, num discurso patriarcal e paternalista até, para dizer que as pessoas têm apenas e só dois sexos”. “Pois bem, a ciência diz que já são oito [sexos]”, vincou a socialista, com João Afonso a defender ser “completamente a favor da igualdade de género, da igualdade entre homens e mulheres e de oportunidades”. “Mas os senhores misturaram tudo e fizeram uma coisa que é ideologia de género, que é a radicalização”, insistiu o social-democrata.
À margem da sessão, ontem, a comissão política do Montijo do PSD, que é presidida por João Afonso, reiterou em comunicado que a designação de Marina Birrento para o pelouro da Educação “atenta contra os direitos das crianças e jovens do Montijo”. E estendeu as críticas aos socialistas locais. “O PS do Montijo está entregue a um grupo de radicais que pretende desestruturar a nossa sociedade e os seus principais valores, tentando para o efeito sexualizar e doutrinar as nossas crianças e jovens.”
“A referida vereadora acredita que não há homens e mulheres, mas sim seres que a cada momento, por vontade e impulso próprio, auto-determinam o seu género sexual. Defende, nas escolas públicas do Montijo, a existência de casas-de-banho comuns para raparigas e rapazes. Tentará pôr em prática políticas públicas que retiram aos pais e famílias o direito de educarem os seus filhos, substituindo o papel da família pela escola pública intrusiva controlada por uma tribo de radicais da ideologia de género”, concluem os social-democratas no documento.