Fernando Caria: “Não estamos dependentes de nenhuma força política, o nosso partido é o Montijo”

Fernando Caria: “Não estamos dependentes de nenhuma força política, o nosso partido é o Montijo”

Fernando Caria: “Não estamos dependentes de nenhuma força política, o nosso partido é o Montijo”

O cabeça-de-lista sublinha a independência do movimento ‘Montijo com visão e coração’ e afirma que as acusações da oposição não passam de ruído. Defende maior abertura à população e a criação de um gabinete autárquico para permitir maior autonomia às Juntas de Freguesia

Está prestes a concluir o terceiro mandato como presidente da Junta da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro eleito pelo PS, partido de que se desvinculou para assumir a candidatura à presidência da Câmara Municipal pelo movimento independente “Montijo com visão e coração”, nas próximas autárquicas. Em entrevista a O SETUBALENSE e à Rádio Popular FM, Fernando Caria debruça-se sobre algumas das áreas que anunciou como prioridades para o município: espaço público, mobilidade e segurança rodoviária, frente ribeirinha, habitação e educação. E revela as aproximações de vários partidos ao movimento independente.

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Disse durante a inauguração da sede de campanha do movimento independente que quer um Montijo onde cada cidadão se sinta ouvido, representado e respeitado. Porquê? Com o PS não se passava assim?
Uma das nossas grandes bandeiras é precisamente essa, ouvirmos a população, que é o que faz sentido, e partilharmos com os nossos munícipes as nossas ideias. É nessa base que iremos construir um futuro, que terá de ser mais risonho para o Montijo.

Mas estavam, de alguma forma, os autarcas eleitos pelo PS reféns de uma política que obstasse à recolha dessa participação cívica?
Acho que não podemos partir desse pressuposto e dizer que estávamos reféns fosse do que fosse. Nos tempos em que Nuno Canta esteve à frente da Câmara, não havia muito diálogo com a população. As pessoas não eram tão ouvidas como era desejável. A falta de comunicação que havia com os nossos munícipes resultou em condições de governabilidade que não foram, nos últimos tempos, bem vistas pela própria população.

Anunciou como prioridades o espaço público (onde se inclui a higiene urbana), a mobilidade e segurança rodoviária e a requalificação da frente ribeirinha. O que defende para o espaço público?
Em relação à higiene urbana e espaços verdes, temos efectivamente muito trabalho a fazer e teremos de começar por valorizar e investir nos nossos trabalhadores, eles são bons. Há que dar condições e olhar para os trabalhadores de forma diferente. Também queremos investir nos meios operacionais, tornando-os mais modernos e sustentáveis, e isso fará com que as situações que se vivem agora não sejam repetidas. Temos de ter as ruas limpas, as ervas cortadas, temos de ter um acompanhamento quase diário da higiene urbana. Também nos espaços verdes queremos reconfigurar e requalificar o espaço público, criando zonas de lazer para que os jovens e as suas famílias possam desfrutar.

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A higiene urbana foi uma competência que a Câmara acabou por delegar nas Juntas. Isso acaba por parecer um pouco um acto de contrição, face ao trabalho desenvolvido não só pela Câmara como também por parte das Juntas.
Não será bem assim, até porque, nas Juntas de Freguesia, e particularmente na Junta de Montijo e Afonsoeiro nós não tínhamos a higiene urbana para a totalidade da freguesia. Combinámos com a Câmara Municipal e escolhemos três bairros do Montijo que ficaram sob a nossa jurisdição em termos de higiene urbana e durante 2024 conseguimos, digamos, fazer o mínimo dos mínimos e deixar aqueles três bairros em condições, no meu ponto de vista, um pouco melhores do que o resto da freguesia.

Mas mínimo dos mínimos porquê?
Porque as condições não eram as desejáveis, as empresas contratadas por nós, face ao orçamento que tínhamos disponível, não era aquilo que pretendíamos. Não conseguimos que as empresas viessem diariamente tratar da higiene urbana. Ainda assim, durante 2024, quatro dias por semana tínhamos as equipas a trabalhar nos três bairros, na recolha de monos e na manutenção das ervas, só nos passeios e nas estradas, não nos jardins, esses ficaram sempre entregues à Câmara. Falo nos mínimos, porque gostaríamos de ter sempre, durante os sete dias da semana, alguém que tratasse da higiene urbana.

Foi isso que o levou a “romper” o acordo com a Câmara Municipal para a execução dessa competência?
Não se trata de romper nenhum acordo. Em tempo útil, em Outubro, Novembro, numa reunião com a sra. presidente da Câmara, transmiti que as empresas apresentaram um orçamento substancialmente maior do que o de 2024. Não houve nenhum rompimento, houve uma aceitação de que nós não podíamos fazer o trabalho com o orçamento que tínhamos em 2024, era necessário mais cerca de 90 mil ou 95 mil euros. A sra. presidente da Câmara disse que não havia hipótese de transferir essa verba a mais para a nossa freguesia e decidimos que a partir de Janeiro a situação dos três bairros seria entregue à Câmara Municipal.

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O que faz falta ao concelho do Montijo, no domínio da mobilidade?
Temos uma grande preocupação quer com a mobilidade quer com a segurança rodoviária, em todo o concelho, até porque, para nós, movimento independente, Montijo começa em Canha e termina em Sarilhos Grandes. Tal como dissemos no dia de apresentação do nosso movimento, temos de encetar negociações com as entidades competentes para que, de uma vez por todas, se consiga um [novo] acesso à Ponte Vasco da Gama. É fundamental. Temos também de ver as dificuldades existentes na Estrada Nacional 5, concretamente desde o apeadeiro de Sarilhos até a entrada do Afonsoeiro. Perde-se imenso tempo. Temos de arranjar uma alternativa que facilite as entradas no Montijo.
Mas temos mais preocupações: as nossas estradas estão completamente esburacadas. Tem de haver uma manutenção constante, não podemos só ficar a olhar para as estradas quando se aproximam as eleições.
Temos também de nos debruçar sobre o problema que existe nos arruamentos e nos passeios, em muitos deles não consegue passar uma cadeira de rodas ou um carrinho de bebé. Temos ainda de rever com toda a brevidade a situação dos transportes públicos, temos de ter uma preocupação constante de adaptar a oferta dos transportes às necessidades dos nossos cidadãos. Ou seja, temos de olhar para a mobilidade em todos os aspectos e também no ambiental. Estamos a debruçar-nos sobre eles com toda a intensidade.

Que compromisso pode assumir relativamente à requalificação da frente ribeirinha?
É importante saber que o Montijo tem cerca de 14 quilómetros de margem do Rio Tejo. Reabilitando a zona ribeirinha podemos abrir caminho a roteiros turísticos. Montijo tem de ser uma cidade voltada para o rio, não podemos estar a construir muros que tapem o rio, temos de fazer precisamente o contrário…

Isso é uma crítica ao Jardim Inclinado que foi construído junto à frente ribeirinha?
Sim. Não faz muito sentido chegarmos àquela zona e vermos ali um muro que tapa a visão para o rio.

Mas que medidas propõe para requalificar, dinamizar, a frente ribeirinha?
Temos noção de que o município sozinho não conseguirá fazer aquilo que está em vistas de querer fazer. Teremos de ser acompanhados por entidades privadas e temos de olhar para as condições que nós podemos dar a quem queira ali investir e tornar aquele espaço não só aprazível como também um local que pode desenvolver a economia da nossa cidade, criando ali condições para que hajam estabelecimentos, diversões, tudo o que for possível fazer. O próprio turismo pode vir a ganhar com esta requalificação.

O que defende para melhorar a capacidade de resposta na área da educação?
Primeiro, a requalificação das escolas que estão em pior estado. Posso referir a Escola D. Pedro Varela e também a Poeta Joaquim Serra. É urgente fazer uma manutenção aprofundada nestas duas escolas, mas também é urgente falar com a comunidade escolar e verificar quais são as dificuldades e os défices que neste momento o parque escolar do Montijo tem. Teremos de nos sentar com a comunidade escolar e verificar o que é necessário fazer e, se for necessário, criar mais escolas.

Se for eleito presidente, vai ter maior atenção para o financiamento a disponibilizar às Juntas de Freguesia?
Com toda a certeza. A experiência que adquiri ao longo destes 12 anos e também como membro da ANAFRE vai ser posta em prática. Até porque, senti na pele durante todos estes anos as dificuldades que uma Junta vai sofrendo por não ter a autonomia que devia ter. Os acordos de execução, ou autos de transferência, é a parte que menos problemas nos dá. Mas, não deixo de dizer que sentimos sempre pouca autonomia, sentimos sempre muita dificuldade em chegar à Câmara. E é por isso que estamos neste movimento completamente abertos à criação, caso sejamos eleitos, de um gabinete autárquico que dê uma atenção especial às Juntas de Freguesia, possibilitando-lhes uma autonomia muito maior, fornecendo-lhes não só recursos humanos como meios materiais, logísticos, e também financeiros para que consigam, de uma forma mais capaz, superar os problemas que lhes vão aparecendo.

Como se propõe a contribuir para resolver a Estratégia Local de Habitação do município, sendo que o prazo do PRR termina em 2026?
Temos de preparar o futuro a partir do momento em que formos eleitos. É urgente que haja um investimento muito claro na habitação, com foco na habitação a custos controlados, que é extremamente difícil face às condições que temos. E digo difícil porque temos a consciência de que sozinhos não conseguiremos encarar este desafio de uma forma fácil e simples. Temos de nos rodear de pilares da nossa economia. Desde logo, o pilar público – o município, que terá de ter uma grande quota-parte de responsabilidade na parte financeira –, mas também temos de nos apoiar no sector social e nos sectores privados. Só em conjunto é que conseguiremos ultrapassar as dificuldades.
Mas não é só por aí que temos de encarar o problema da nossa habitação. Temos de reformar toda a burocracia existente na Câmara Municipal, em relação aos processos de licenciamento para a construção. Isso passa pela modernização, pela criação de maior transparência, maior escrutínio, maior rapidez, para que os processos de licenciamento consigam ser agilizados e dar forma a um compromisso não só com novas construções como também com a requalificação urbana do casco velho do Montijo.
Não podemos continuar a dizer que vamos construir e não conseguirmos ter sequer hoje, mesmo com candidatura ao PRR, uma habitação pronta para disponibilizar.

Tem sido acusado pela oposição de aproveitamento da Junta para promoção do movimento independente pelo qual se irá candidatar. Que comentário lhe merece?
Isso são ruídos e não gosto de discutir nem ruídos nem coisas que não sejam sérias. Enquanto presidente nunca iria aproveitar a Junta para algo que não fosse trabalhar com os nossos fregueses. Não entendo, já houve uma assembleia onde fui acusado disso, pedi para apresentarem provas e, até agora, nem uma apresentaram. Agora, se querem tirar aproveitamento disso, estejam à vontade, tenho as costas largas.

Dúvidas há também por parte da oposição quanto ao financiamento da sua candidatura, com a alusão a que este movimento nada tem de independente…
… Isso é outro ruído. É sinal de que estamos a incomodar alguém que, se calhar, não desejaria que este movimento aparecesse. E este movimento aparece com a finalidade de servir os montijenses, e essa finalidade de servir os montijense foi, de forma natural, do agrado de muita gente. Temos um orçamento perfeitamente normal, exequível, moderado. As nossas contas irão ser apresentadas na altura certa, não há aqui nada que não seja normal. A única grande diferença é que nós, enquanto movimento, não temos a benesse que os partidos têm, porque os partidos são financiados com dinheiros públicos, dos nossos impostos, para fazerem as campanhas que entenderem fazer.

É verdade que o PSD manifestou intenção de apoiar a sua candidatura. Confirma que chegou a estar à mesa com elementos da distrital do PSD?
Sim, é verdade. Houve uma abordagem do PSD, conversámos, e dissemos claramente que estamos disponíveis para conversar com toda a gente. Mas, desde o início, vincámos que não estamos dependentes de nenhum partido. O nosso único partido é o Montijo. E esclarecemos inequivocamente que não queremos estar dependentes de forças partidárias, sejam elas quais forem. Também posso adiantar que não foi só o PSD, houve mais partidos que vieram ter connosco.

Como, por exemplo?
A IL conversou connosco, o BE conversou connosco, o CDS conversou connosco. Este é um movimento agregador.

O BE anunciou mesmo apoio público à sua candidatura?
É diferente. Aquilo que o BE fez, que o CDS fez, que os outros partidos que estão connosco fizeram, foi aderir ao movimento. Despimos a camisola do partido. E quem quiser vir ter connosco com esse pensamento, com esta forma de agir, tem as portas abertas. Não aceitamos é que algum partido venha dizer que temos de seguir esta linha ou aquela. Somos independentes.

Onde falhou a possibilidade de um acordo com o PSD?
Acho que são conversas que nós temos de ter e que ficam entre nós. Agora, posso dizer que os partidos queriam ter assento no nosso movimento em determinados lugares. Nós entendemos que não é assim que se conversa, temos é de convergir nas nossas intenções, que o movimento tanto quer, um movimento independente, que olhe só para o Montijo. Não recebemos imposições de ninguém e as conversas ficaram por aí.

Tenciona distribuir pelouros pela oposição, se vier a ser eleito presidente?
Se trabalhamos em prol do Montijo, se formos independentes, tudo poderá fazer sentido. Se houver pessoas que alinhem neste pensamento, que olhem apenas para o Montijo em si, e não orientadas por alinhamentos partidários, estaremos sempre disponíveis.

Até mesmo ao Chega, se vier a ficar representado no executivo municipal?
Teria de haver diálogo, embora eu note que, com toda a sinceridade, seja o único partido que está muito aquém daquilo que desejamos para um bom funcionamento de uma autarquia.

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