A direita disparou forte sobre PS e PCP. Comunistas criticaram socialistas. Presidente da Câmara defendeu que é preciso lutar contra o radicalismo e o populismo
A sessão solene da Assembleia Municipal do Montijo, que visou assinalar o 45.º aniversário da Revolução de 25 de Abril, ficou ontem marcada por ataques cerrados da oposição (PCP, PSD e CDS-PP) à gestão socialista da Câmara, presidida por Nuno Canta. Os ânimos não se exaltaram mas os discursos foram duros, saltando tudo cá para fora – até mesmo um pedido do representante do PSD dirigido implicitamente ao presidente da autarquia para que este colocasse o lugar à disposição –, ficando ainda patente uma clivagem emergente entre a própria oposição, com a direita (PSD e CDS-PP) a acusar o PCP de alinhar ao lado do PS.
A socialista Catarina Marcelino, presidente da Assembleia Municipal, abriu a sessão e centrou o discurso em algumas políticas adoptadas, em termos nacionais mas também a nível local, que afirmam aquele que é o caminho de Abril. Focou o parque escolar “de qualidade” existente no concelho, o processo de transferência de competências do Governo para as autarquias, aceites pelo município montijense, e a importância da mobilidade, sem a qual, disse, “não há liberdade”, destacando nesse domínio a “criação dos passes sociais” – uma das políticas públicas “mais revolucionárias das últimas décadas”, considerou. Ainda no mesmo contexto, realçou o crescimento económico e as novas infra-estruturas, como “será o caso do novo aeroporto do Montijo”.
As críticas aterraram de seguida com a intervenção de João Merino (CDS-PP), que acusou o PCP de submissão ao PS nacional e de comportamento idêntico no Montijo. O centrista lembrou o caso da alegada “violação de correspondência” na Câmara Municipal e “o atropelo e desrespeito pela Assembleia Municipal” dos socialistas no processo de descentralização de competências, já depois de afirmar que os comunistas não se têm mostrado “nada preocupados com o défice de democracia no concelho”.
Seguiu-se a intervenção de António Oliveira, pelo Bloco de Esquerda, que funcionou como intervalo no “jogo” das críticas. O bloquista salientou que importa contar “a verdadeira história” do 25 de Abril e que “a hipocrisia e o populismo tomam conta da sociedade”, terminando a citar um texto publicado pela filha de Salgueiro Maia no Facebook.
Críticas duras
O ataque à gestão camarária socialista foi retomado de seguida por Francisco Salpico (CDU). O comunista afirmou que celebrar Abril no Montijo “é não pactuar e denunciar os atropelos à lei e ao normal funcionamento da Câmara e da Assembleia Municipal pelo PS”, considerando que os socialistas transformaram uma maioria absoluta em poder absoluto. A “aceitação cega do PS da descentralização de competências”, criticou, “foi um passar de 23 cheques em branco ao Governo”.
As críticas mais contundentes aos socialistas surgiram pela voz do representante do PSD, João Massacote, que, a exemplo de João Merino, começou por lembrar que “a verdadeira liberdade” só foi conhecida a 25 de Novembro de 1975.
“No Montijo a liberdade é impedida. Vivemos sob a batuta de mestres da mentira, que impedem os montijenses de conhecerem a realidade do concelho. Difamam, ofendem e mentem”, afirmou, olhando na direcção do presidente da Câmara e realçando igualmente o caso da alegada violação de correspondência. O social-democrata acusou ainda o PS de calar a oposição na Assembleia Municipal e, voltando a dirigir o olhar para Nuno Canta, deixou implícito que o presidente da Câmara “devia colocar o lugar à disposição, pois já não tem condições para ocupar o cargo”.
Já Emanuel Martins, pelo PS, pautou a sua intervenção por uma tónica suave, salientando o combate que deve ser feito às “desigualdades sociais, injustiças”, até porque, alertou, “nunca a democracia foi tão ameaçada como neste século”.
Nuno Canta encerrou os discursos, começando por saudar os militares que tornaram possível a Revolução dos Cravos e defendeu: “O 25 de Abril é hoje a liberdade de cada dia, mesmo para aqueles que não gostem dele, como hoje aqui já ouvimos”.
O presidente da autarquia não deixou passar em claro os ataques de que foi alvo e comentou as intervenções dos adversários políticos: “Mesmo sem o saberem, estão a celebrar Abril. A liberdade devêmo-la ao voto do povo, neste caso ao povo do Montijo.”
O investimento na Educação, no abastecimento de água – “a do Montijo é a mais barata da região”, frisou –, no saneamento básico e tratamento dos resíduos, no Serviço Nacional de Saúde e na acção social foram exemplos que o socialista salientou para enaltecer as conquistas de Abril, antes de voltar a contra-atacar. “Já aqui se viu hoje que o Poder Local Democrático tem ameaças latentes. Temos de lutar contra o radicalismo e o populismo. Somente com fraternidade se garante a liberdade”, concluiu.