Festival ao Largo. Plateia rendeu-se à interpretação dos jovens talentos da escola montijense, acompanhados pela meio-soprano Cátia Moreso
Uma noite mágica. Mais uma, a juntar a tantas outras. Mas com a particularidade de ter sido conseguida num palco de responsabilidade maior, num evento de renome internacional. A Orquestra Sinfónica do Conservatório Regional de Artes do Montijo (CRAM) fez levantar na última terça-feira, por mais do que um par de vezes, a assistência no 15.º Festival ao Largo do Teatro Nacional São Carlos.
As centenas que lotaram a “plateia alfacinha” renderam-se à performance da sinfónica do CRAM – que contou com a participação especial da meio-soprano Cátia Moreso – e aplaudiram de pé. Foi o reconhecimento por uma prestação de excelência, alicerçada num reportório composto por temas dos anos 30, 40 e 50 do Século XX, que ficaram eternizados na memória colectiva. “Non, je ne regrette rien”, “La Vie en Rose”, “La Foule” e “Milord”, de Édith Piaf, foram alguns dos clássicos interpretados, a juntar a outros de Marlene Dietrich e de Kurt Weill.
Dirigida pelo professor Ceciliu Isfan, a Orquestra Sinfónica do CRAM – formada, na sua esmagadora maioria, por jovens alunos que atingiram um estágio de maturidade artística elevado, apesar da tenra idade – apresentou mais de 60 elementos em palco.
Esta, de resto, foi a sétima participação do CRAM no Festival ao Largo. A escola de artes montijense já se havia feito representar em edições anteriores pela Orquestra de Sopros e Percussão (duas vezes) e pela Orquestra Sinfónica (três ocasiões), além de ter actuado uma vez como banda de palco na interpretação da obra “1812”, de Tchaikovsky, em conjunto com a Orquestra Sinfónica Portuguesa.
Ceciliu Isfan “Estes miúdos são fantásticos”
Ceciliu Isfan, responsável pela direcção musical da sinfónica do CRAM, destacou a qualidade dos jovens talentos que tem à disposição. “Estes miúdos são fantásticos. Foram duas semanas de trabalho duro [de preparação específica para o festival], a juntar aos seis meses de trabalho semanal e estou muito orgulhoso de todos”, disse, logo após o final da actuação. “Este é um dos festivais top 10 da Europa e fica-nos marcado. O Festival ao Largo tem vários concertos e acho que o nosso foi fantástico”, adiantou, ao mesmo tempo que realçou o trabalho desenvolvido pelo director pedagógico, Ilídio Massacote, e pelo staff administrativo que “tornaram possível o êxito”.
Ilídio Massacote: “Estes momentos compensam todos os esforços e sacrifícios”
O director pedagógico do CRAM realça o exigente nível e a qualidade da performance apresentada no Festival ao Largo
O que sente depois de mais uma prestação do CRAM num festival desta dimensão?
Uma alegria enorme. São estes momentos que compensam todos os esforços e sacrifícios que uma comunidade escolar faz e nessa comunidade escolar incluem-se professores, administrativos, auxiliares, alunos, famílias e amigos do CRAM. Uma escola é um projecto de ciclos e em 12 anos de CRAM esta é a terceira geração de alunos. Assim, temos de ter a capacidade de nos reinventarmos e reiniciarmos um projecto com os novos alunos. Por exemplo: estavam em palco alunos de 8 anos, a aluna que estava no flautim tem 12 e teve uma prestação de excelência.
Houve algum momento da actuação que o tenha marcado particularmente?
O concerto no seu todo foi de grande qualidade e em crescendo até terminar com um ‘encore’: “La Vie em Rose”, excelentemente interpretado por Cátia Moreso. Este programa é de enorme dificuldade de junção entre a solista e a orquestra. A instrumentação também criava dificuldades pela sua transparência e expõe muito os vários naipes e, dentro dos naipes, alunos com vários solos. Ceciliu Isfan fez um trabalho de grande qualidade, só ao alcance de músicos de grande qualidade e devoção à arte e ao ensino.
Que balanço faz à actividade do CRAM no final deste ano lectivo?
Foi um ano lectivo intenso, mas com muitos sucessos colectivos e individuais, com concertos e espectáculos de dança, com enorme qualidade, só ao alcance de escolas que são verdadeiras famílias e que trabalham diariamente para oferecer a melhor formação aos seus alunos. Apresentámos o Festival Tejo que levou vários espectáculos a Alcochete, destacando-se o concerto de Artur Pizarro, actuámos em Montijo e inclusive na freguesia de Pegões. Apresentámos o espectáculo de dança “Música no Coração”, um espectáculo com a nossa escola de dança e participação de alunos do nosso coro. A nossa Orquestra de Sopros e Percussão, dirigida pelo professor Pedro Almeida, actuou no Picadeiro Real, antigo Museu dos Coches, no Lisbon Music Fest, e terminámos no Festival ao Largo com a nossa Orquestra Sinfónica. E agora já estamos a preparar o próximo ano lectivo e a sua programação.