24 Abril 2024, Quarta-feira
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Ulisses Almeida: O sonhador que proporciona aos alunos experiências inspiradas em histórias reais

Através do ‘Camaleão’, o jovem de 29 anos leva até às escolas temas actuais, como a violência doméstica e o desperdício de água

 

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Ulisses Almeida sonhou, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) apoiou e o ‘Camaleão’ nasceu. É este o resumo muito breve, mas cheio de história, dos últimos três anos da vida do jovem de 29 anos.

Em 2019, depois de diversas experiências profissionais e de uma aventura por Londres, Ulisses, natural de Lisboa, mas a viver desde os dois meses no Montijo, decidiu “que queria dar asas às ideias que tinha”. “Percebi que queria pegar num projecto que existe a nível mundial, que são os Escape Room, e mudar completamente o conceito”.

Isto porque, enquanto o objectivo tradicional “são apenas desafios, com tudo o que seja mais prático”, a ideia passava agora por “retirar parte do que é palpável e transformar a experiência numa história real”. No entanto, faltava uma peça importante para conseguir levar o projecto a bom porto: o investimento.

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“Aproveitei que o IEFP tem o programa “Criação do Próprio Emprego”, candidatei-me e passado um ano o projecto foi aprovado”, refere. Antes, Ulisses, que se descreve como “uma pessoa que ainda se está a descobrir”, teve de “perceber se a ideia tinha viabilidade”. Para tal, aproveitou o período de espera para calcular todos os custos.

Com os sete mil euros disponibilizados pelo IEFP, montou no centro do Montijo a primeira loja, com dois jogos. “Criei um Escape Room temático, em que os temas eram o desperdício da água e a violência doméstica. São experiências imersivas. O propósito é que as pessoas entrem sem preconceitos e pensem no que fazer e não em revirar o sítio”.

No fundo, o intuito é que “haja uma discussão entre o grupo”, sendo que o projecto se destaca dos demais pelo facto de “não haver um fim fechado”. “A solução é determinada pelos participantes, em que todas as decisões influenciam o final”.

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Estava tudo ‘a postos’ e Ulisses estava pronto para abrir portas ao público, sem nunca imaginar o que viria a seguir. “A abertura do espaço calhou em Março de 2020, quando rebentou a pandemia. Portanto, abri a porta e passado um dia fechei”.

Como se “um problema não bastasse”, com as chuvas de Abril “a loja teve uma inundação”. “Cerca de 30% do investimento não ardeu, mas ficou molhado”, ironiza.

A etapa seguinte passou por “arranjar uma outra loja”. Em Setembro descobriu o espaço perfeito para remontar o projecto, onde “conseguia manter os dois jogos”. Contudo, o problema mantinha-se: “a pandemia ainda estava a decorrer”. “Consegui abrir a loja, com restrições, e houve alguma aderência, mas não era o suficiente”.

 

Sorte bateu à porta e Ulisses voltou-se para as escolas

 

“Por sorte”, como classifica o jovem, “houve uma pessoa que fez uma proposta”. “Pelas temáticas que são, e uma vez que é a comunidade escolar quem está mais receptiva a este tipo de experiências, o objectivo da proposta era apresentar o projecto às escolas”.

E assim foi. O jovem atirou-se ‘de cabeça’, mas havia agora duas pedras no caminho: Ulisses tinha fechado oficialmente o espaço físico em Dezembro e só podiam estar cinco pessoas em simultâneo no jogo, o que dificultava a deslocação dos alunos.

Foi então que surgiu a alternativa de “montar uma estrutura que fosse às escolas”. “Contactei a empresa que fez as paredes e perguntei-lhe se as conseguiam transformar num contentor”. Em três meses, estava criado o ‘Camaleão’. “Só contempla um jogo. É Camaleão porque o objectivo é que mude do dia para a noite. Está concebido para isso”.

Depois de uma primeira experiência na Escola Profissional no Montijo, que “foi o laboratório” de Ulisses, com cerca de cem alunos, também “técnicos da CPCJ e da Associação Rumo quiseram integrar o projecto numa escola na Baixa da Banheira”.

Com este passo, Ulisses, empresário em nome individual, percebeu que o ‘Camaleão’ se tornara “numa plataforma pedagógica”, que as escolas vêem agora como um “instrumento educativo”.

 

‘Camaleão’ evoluiu para Associação Imersiva Sociocultural

 

Ainda antes de começar a trabalhar com as escolas, o jovem começou a perceber “que não queria ficar pelo contentor e pelas experiências imersivas”. “Sempre quis alargar a parte sociocultural e apostar em actividades que não existissem no Montijo, nomeadamente ligadas às esculturas e pintura, e na realização de workshops sobre tudo o que são finanças pessoais e literacia financeira”.

Para tal, Ulisses avançou com a criação da Associação Imersiva Sociocultural, com o apoio dos pais, no sentido de conseguir “tocar em mais pontos do que só ter o contentor”. Faltava apenas arranjar um espaço onde ‘estacionar’ o Camaleão. “Fiz uma proposta à Câmara do Montijo para deslocar o contentor para o Alto das Vinhas Grandes. A proposta foi aceite. O objectivo agora é que se crie ali o pólo da associação e que haja um contrato para conseguir ficar no espaço durante cinco anos”, frisa.

 

Da programação à hipótese das artes, com desvio por Londres

 

A vida de Ulisses foi praticamente toda passada no Montijo, até que aos 18 anos regressou a Lisboa para supostamente estudar Artes. “Estava no curso de Programação e saí para ir para Lisboa estudar Artes, mas isso não aconteceu. Acabei por ir viver um ano para Londres, para perceber realmente o que conseguia fazer sozinho, e quando regressei arranjei trabalho em produção de teatro, onde estive cinco anos”.

A determinada altura, e com outros trabalhos pelo meio, o jovem diz ter-se apercebido que “queria fazer mais” por si, nomeadamente fazer com que as suas ideias se desenvolvessem. “Foi complicado porque não tinha meios para fazer nada. Tinha ideias, mas não tinha como as desenvolver. A partir daí foi começar a perceber onde é que iria arranjar o dinheiro”. Desse momento até à criação da associação foi ‘um pulinho’.

 

Ulisses Almeida à queima-roupa

Idade 29 anos

Naturalidade Lisboa

Residência Montijo

Área Artes

Desconstruiu o conceito do Escape Room, ao querer que os participantes entrem sem preconceitos, focados no que estão a fazer e não em revirar o espaço

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