18 Abril 2024, Quinta-feira
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Orçamento passa na Assembleia Municipal do Montijo mas estilhaça casamento à direita

CDS votou ao lado do PS. PSD diz-se traído pelo parceiro de coligação. CDU, BE e Chega abstiveram-se. IL foi o único a votar contra

A aprovação na Câmara – com as abstenções da oposição (PSD e CDU) – já indiciava que o orçamento de 41,8 milhões de euros para 2022 estaria a salvo quando apreciado na Assembleia Municipal do Montijo. O que ninguém esperava era que, na passada segunda-feira, os dois deputados do CDS, eleitos em coligação com PSD e Aliança, votassem ao lado da maioria socialista.

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O documento previsional foi ratificado com os votos a favor de PS (11) e CDS (2) e contou com as abstenções de PSD (5), CDU (5), BE (1) e Chega (1). A Iniciativa Liberal (IL), que elegeu um deputado, foi o único partido a votar contra.

A posição dos democratas-cristãos – que, tal como no mandato anterior, optaram por estar representados em bancada separada do PSD tendo então sido um dos mais ferozes opositores à gestão do PS – acabou por colher de surpresa os social-democratas.

E a relação, até agora de “casamento” perfeito entre ambos, acabou estilhaçada. “O CDS transformou-se numa namorada do PS. Enganou quem votou neles e em nós”, disse João Afonso, presidente da Comissão Política da Secção do Montijo do PSD e vereador na autarquia, a O SETUBALENSE.

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O sentido de voto do CDS gerou uma quebra de confiança que deixa o líder local do PSD sem certezas quanto a uma eventual reedição de coligação para as próximas autárquicas. “Com esta posição não há condições. Não tenho confiança nestes deputados do CDS. Fomos apanhados desprevenidos. Com estes autarcas será muito difícil qualquer coligação. Mas há mais autarcas no CDS, que merecem a nossa confiança. Daqui a quatro anos se verá”, admitiu João Afonso, que pouco depois do resultado eleitoral de Setembro último assumiu voltar a recandidatar-se à presidência da Câmara, vendo o actual presidente da distrital do PSD, Paulo Ribeiro, em declarações a O SETUBALENSE, apadrinhar essa pretensão.

Logo após a aprovação do orçamento, em declaração de voto, a líder da bancada do PSD, Ana Dias Neves, justificou a posição social-democrata e deu a conhecer o sentimento que invadiu o grupo municipal laranja com uma bicada aos centristas. “Não podemos votar a favor destas opções [do PS], porque isso seria atraiçoar quem votou em nós. Não traímos quem votou em nós, que não quer mais o PS à frente do Montijo, as suas políticas e o descalabro da cidade que as mesmas políticas causaram. Nem traímos a coligação que nos elegeu, frente de resistência que nos permite antecipar desde já um futuro melhor para o Montijo”, atirou.

E reforçou: “O nosso voto corresponde assim ao compromisso que temos com os eleitores, a cidade e o seu futuro, livre e próspero.”

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CDS ‘despe-se’ de preconceitos

António Loureiro Peixoto, líder da bancada do CDS, ouviu mas não fugiu ao guião que trazia traçado. Os democratas-cristãos, apesar de considerarem que os orçamentos dos sucessivos executivos comunistas e socialistas têm seguido um “padrão de falta de ambição e criatividade”, votaram a favor.

Em declaração de voto, António Peixoto vincou que o documento já havia sido aprovado na Câmara, onde a oposição (PSD e CDU) tem maioria. E que a votação no órgão deliberativo foi o cumprir de “uma mera formalidade legal”, depois de o documento ter sido “viabilizado pelas forças políticas que representam 80% dos votos na Assembleia Municipal”, frisou. Ao mesmo tempo, defendeu o sentido de voto centrista, sem “preconceitos nem medos”. E sustentou: “Estamos aqui para ajudar de forma construtiva que as pessoas se consigam aproximar dos órgãos autárquicos e dos centros de decisão sobre os serviços e equipamentos que a Câmara Municipal tem obrigação de colocar em condições aceitáveis ao serviço dos munícipes”.

Mais à frente apontou o objectivo do partido e voltou a criticar a maioria. “Neste pouco ambicioso orçamento do PS é a nossa função pugnar para que ele seja executado. Vamos exigir pela primeira vez um orçamento com boa execução, acompanhada de forma clara e transparente pelos montijenses. Para isso vamos propor numa próxima reunião a constituição de uma comissão permanente de finanças, património e recursos humanos”, desvendou, para de seguida cometer uma gafe de “viragem à esquerda” que passou despercebida: “… nós no PCP, hoje [segunda-feira] votamos a favor deste orçamento.”

Contactado por O SETUBALENSE, Carlos Ferreira, presidente da Comissão Política do Montijo do CDS, confirmou que o sentido de voto centrista teve respaldo da estrutura local do partido.

O líder concelhio explicou a razão de o CDS “pela primeira vez” ter votado favoravelmente um orçamento do PS. “O que pretendemos é que haja um certo foco nos munícipes, no que é necessário para eles, e menos nas posições dogmáticas dos partidos”, resumiu.

Quanto às críticas do PSD, juntou: “O CDS não vai opinar sobre a posição de outros que na Câmara abstiveram- -se e viabilizaram o orçamento”. E a terminar negou a ideia de que a comissão permanente que o CDS irá propor na Assembleia Municipal tenha sido já articulada com o PS. “Não houve aproximações com ninguém”, garantiu, a concluir.

Maioria isolada a aplaudir documento

As críticas ao orçamento “choveram” quase de todos os lados, menos da bancada do partido da maioria. Pelo PS, José Caria considerou que o documento está “construído com prudência, do lado da receita inicial, e ambição, do lado da despesa inicial”. E apresenta assim, declarou , “previsão de contas certas, ajustadas à realidade municipal”.

Entendimento diferente tem a CDU, que, pelo deputado Avelino Antunes, recordou que “à semelhança de outras propostas [de orçamento], [o documento para 2022] repete a concretização de promessas, algumas delas com mais de 20 anos”.

O comunista acusou ainda a gestão PS de manter “a opção de abandono da zona ribeirinha”, cuja regeneração “é urgente”. E considerou que as opções do PS “ficam muito aquém das necessidades do concelho”.

Já Cipriano Pisco, pelo BE, justificou a abstenção numa curta declaração: “Este orçamento é um projecto do PS, tem as propostas do PS, que não são as nossas”.

André Ribeiro, pela IL, foi o último a apresentar declaração de voto. “Pensamos pelas próprias cabeças, não embarcando em pensamentos colectivos e socialistas”.

E, em comunicado, o núcleo do Montijo da IL adiantou: “Não poderíamos defraudar quem em nós depositou o seu voto. A Câmara, após quase dois anos de pandemia, não prescinde de cobrar o seu quinhão em impostos directos, submetendo os seus munícipes a um esforço fiscal elevado, sem justificação, pois o fundo de gestão é positivo”.

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