Trabalho de Vítor Mendes sobre moliceiro de Aveiro eleito por unanimidade pelo júri do evento, promovido pelo Museu Marítimo de Ílhavo
Vítor Mendes, antropólogo na Câmara Municipal da Moita, foi o vencedor da sexta edição do “Prémio em Estudos de Cultura do Mar – Octávio Lixa Filgueiras”, promovido pelo Museu Marítimo de Ílhavo. A cerimónia de entrega de prémios decorreu no último sábado, naquele equipamento museológico.
“Arqueologia do pau-de-pontos do moliceiro de Aveiro” intitulou o trabalho apresentado por Vítor Mendes, que o júri elegeu por unanimidade, considerando-o como uma “notável incursão na etnografia histórica”. Pela “originalidade e redacção cuidada”, sobre aquele que é um património emblemático aveirense.
“A análise criteriosa sobre o processo, tanto imaterial quanto material, de concepção e construção do moliceiro foi particularmente apreciada, assim como o uso diversificado de fontes históricas e etnográficas”, considerou o júri, composto por Inês Amorim, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Eric Rieth, da Universidade de Sorbonne (Paris), Miguel Costa, do Museu Marítimo de Ílhavo, e Miguel Filgueiras, representante da família do arquitecto Octávio Lixa Filgueiras.
O júri reconheceu ainda que o trabalho de Vítor Mendes apresenta “interpretações que podem abrir novos horizontes de conhecimento e contribuir para a valorização do património material e imaterial de Aveiro”.
Em declarações a O SETUBALENSE, Vítor Mendes confessou o duplo significado que a premiação assume. “Primeiro, significa que conseguimos acrescentar conhecimento ao conhecimento que já existia; depois, é motivo de orgulho receber um prémio com o nome do arquitecto Octávio Lixa Filgueiras, que desenvolveu o mais importante trabalho sobre a construção naval tradicional e os barcos portugueses, e é um dos expoentes da nossa arqueologia naval”, disse.
De resto, o trabalho apresentado pelo antropólogo foi precisamente “inspirado” naquilo que Octávio Filgueiras já “tinha realizado com as embarcações poveiras e os rabelos, nos anos de 1960”.
A ideia de se debruçar sobre o moliceiro de Aveiro “surgiu na sequência do encontro de culturas ribeirinhas de 2019, organizado pela Câmara Municipal da Moita, em Alhos Vedros, em que também participaram os municípios de Estarreja e Murtosa, entre outros”, revelou Vítor Mendes. “Tinha feito um texto de forma autónoma, já com algum desenvolvimento, para apresentar, caso fosse necessário, uma vez que existem pontos de contacto entre as técnicas de construção naval tradicional em Aveiro e as antigas técnicas dos estaleiros do Tejo, particularmente o do Gaio, na Moita, que era do mestre José Lopes”, confessou sobre o início do trabalho, que ficaria primeiro na gaveta para vir a ser retomado e concluído já em 2023.
O próximo passo a dar, em função do prémio alcançado, está já pensado. “Creio que vamos trabalhar na edição do trabalho, que é muito complexa, pois envolve o espólio de diversos museus e arquivos, portugueses mas também estrangeiros, desde Itália aos Estados Unidos da América”, admitiu.
O “Prémio de Estudos em Cultura do Mar – Octávio Lixa Filgueiras” visa “galardoar autores de dissertações académicas ou de trabalhos de investigação realizados no âmbito da cultura marítima e fluvial”.