Cooperativa de habitação de Grândola inicia programa para novas casas, as primeiras em todo o país, numa altura em que criação da secretaria de Estado da Habitação é vista como momento de viragem para o sector em Portugal
A Habigrândola, Cooperativa de Habitação, de Grândola, lançou, no sábado um programa para a construção de 32 novos fogos, que está a ser apontado como símbolo de um momento de viragem no sector das cooperativas de habitação e até do cooperativismo em geral, no país.
Todos os responsáveis nacionais presentes associaram a iniciativa em Grândola à recente criação, pelo Governo, da secretaria de Estado da Habitação, revelando a expectativa de uma nova era para as cooperativas em Portugal.
Para o presidente da Federação Nacional de Cooperativas de Habitação Económica (Fenache), Guilherme Vilaverde, o novo programa de Grândola “marca o início de uma nova fase”, foi “o primeiro dia do resto da nova política de habitação”.
Segundo o dirigente, “as cooperativas têm estado em stand by”, apenas a gerir o parque existente, sem construir, mas este é o momento de “o movimento renascer em função de novas necessidades e novas oportunidades”.
No mesmo sentido, de um novo futuro, o presidente da Confederação Cooperativa Portuguesa, Rogério Cação, defendeu uma “maior ligação entre os diversos ramos cooperativos”, da habitação com a economia social, por exemplo. O responsável sublinhou que as cooperativas podem atingir o objectivo que constitui o seu lema, “não deixar ninguém para trás”, se lhes forem “dadas as ferramentas” e o “poder político for consequente com a importância” que atribui ao sector.
No mesmo sentido, o presidente da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (Cases), entidade pública nesta área, no primeiro semestre de 2017 há já um “saldo positivo” de cooperativas novas, depois de em 2011 “terem sido extintas tantas cooperativas como nos cinco anos seguintes”.
De acordo com Rogério Cação, a estatística regista agora crescimento nos ramos Agrícola, Solidariedade social, Cultura, e Serviços. Este responsável expressou também o desejo de que o exemplo da Habigrândola “possa inspirar outras cooperativas”.
Cooperativas representam 6,1% do emprego
O sector cooperativo é um dos sectores económicos mais fortes em Portugal, à frente, por exemplo, da banca e dos seguros, ou do têxtil, em indicadores como o emprego gerado.
Segundo a Cases, as 2117 cooperativas existentes têm um volume de negócios anual de 490 milhões de euros e empregam actualmente 25 mil pessoas, 6,1% do total de emprego no país.
Agora o Bairro de S. João e depois o Carvalhal
Além do programa para a construção de 32 fogos em Grândola, no Bairro de S. João, que foi lançado agora e que deve ter as casas prontas em 2020, a Habigrândola prepara-se para novas construções noutros locais do concelho.
“Temos projectos em curso para mais algumas dezenas de fogos em Grândola”, revelou o presidente da cooperativa, José Manuel Pereira.
O presidente da Câmara de Grândola, pouco depois, levantou um pouco mais o véu.
António Figueira Mendes disse que “a Câmara vai ceder mais um terreno, no Carvalhal”, onde “há necessidade grande de habitação” e em que as inscrições abertas pela cooperativa têm já em mais de 30 famílias inscritas.
O autarca destacou o “papel importante” da Habigrândola num concelho que tem tradição na actividade cooperativa “desde o 25 de Abril” e que é, na região, um dos que tem mais habitação deste género.
Figueira Mendes disse também acreditar que a criação da nova secretaria de Estado da Habitação “pode demonstrar alteração das políticas de Habitação porque nem havia estrutura governamental para discutir os problemas do sector”.
Desde que foi criada, em 1994, a Habigrândola já construiu 188 fogos em Grândola, sendo, segundo José Manuel Pereira, “o promotor habitacional social no concelho”.
A importância da cooperativa foi reconhecida também pela presidente da União de Freguesias de Grândola e Santa Margarida da Serra.
“A Habigrândola tem desenvolvido um trabalho muito meritório em prol da comunidade”, disse Fátima Luzia.