Guilherme d’Oliveira Martins apresentou a sua leitura da obra do poeta
Guilherme d’Oliveira Martins, da Fundação Calouste Gulbenkian, foi o conferencista do ciclo “Ler Sebastião da Gama” que abordou a obra do poeta azeitonense no final da tarde de quarta-feira, dia do centenário, sessão que se realizou no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal.
Numa viagem pelo tempo, o percurso de Sebastião da Gama foi analisado sobre uma leitura pessoal do conferencista e sobre as linhas de interpretação que muitos dos estudiosos da sua obra apresentaram ao longo dos tempos. Para Oliveira Martins, o poeta da Arrábida tem “a maturidade da palavra” e “afirma com determinação a marca da generosidade” e da “entrega pessoal”.
Com a leitura de excertos de alguns poemas, o conferencista apresentou Sebastião da Gama como um poeta “que ama apaixonadamente a vida, mas também a irmã Natureza e a estranha irmã morte”, associando-o a um poeta em que o sonho “não é uma ilusão, mas uma intensa ligação à vida”.
Nomes como os de Ruy Belo, António Osório, Maria Aliete Galhoz, Maria de Lourdes Belchior ou Sophia de Mello Breyner, cruzaram-se com os excertos poéticos selecionados e com a diversidade de olhares sobre a obra do poeta de “Serra-Mãe”. Guilherme d’Oliveira Martins concluiu com uma adesão à obra do poeta, afirmando: “Quando hoje regressamos à Arrábida, é como se seguíssemos o roteiro presencial de Sebastião da Gama. Ali o recordei tantas vezes no Conventinho. Amava profundamente esse santuário natural, tal como a própria vida.”
O conferencista invocou ainda os nomes de Nuno Júdice e de Eugénio Lisboa, dois poetas recentemente falecidos que se tinham comprometido a participar também neste ciclo de conferências, e anunciou que o próximo número da revista “Colóquio-Letras” incluirá artigos de abordagem à obra de Sebastião da Gama.
Já na apresentação do conferencista, o director da Associação Cultural Sebastião da Gama João Reis Ribeiro justificara perante o público a necessidade de se celebrar e lembrar Sebastião da Gama, insistindo nas três dimensões de estudo e de leitura que podem ser feitas: a do poeta, com o domínio da palavra e conhecimento da literatura portuguesa que o antecedeu, renovando o lirismo e a tradição literária portuguesa no que diz respeito à presença da Natureza no seu todo, ao cantar da vida e do amor; a do professor, constantemente inovador, que relatou a sua prática e reflexão num diário que “deveria ser de leitura obrigatória para todos quantos se dedicam ao ensino”; a do cidadão, fortemente implicado na defesa da serra da Arrábida, com tomada de posição pública que impediu a destruição da Mata do Solitário e originou a criação da Liga para a Protecção da Natureza.
A sessão foi precedida de uma leitura de poemas do homenageado pelos actores Duarte Victor, Célia David e Miguel Assis, do TAS (Teatro Animação de Setúbal).
“Sebastião, o Menino que Nasceu Poeta”
O final das celebrações do dia 10 de Abril ocorreu em Azeitão, na Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama, onde foi apresentado o livro destinado ao público infanto-juvenil “Sebastião, o Menino que Nasceu Poeta”, escrito por Idalina Veríssimo e ilustrado por Cristina Arvana, editado pela Junta de Freguesia de Azeitão, uma narrativa que conta a descoberta da figura do poeta num circuito local, participando uma avó e dois netos, criando-se a possibilidade da presença do fantástico pelo encontro das três personagens com a figura de Sebastião da Gama, que lhes conta a sua história.
A obra vai ter divulgação entre os alunos do primeiro ciclo da freguesia de Azeitão, em sessões que vão contar com a presença das autoras.
A celebração do centenário de Sebastião da Gama prosseguirá com alguns eventos ainda sem data marcada – espectáculo do TAS, apresentação da antologia “Por Mim Fora” e da obra poética reunida sob o título “O inquieto verbo do mar”. Entretanto, para sábado, 13 de Abril, estão previstos um concerto pelo grupo e-Vox no Convento de Jesus (11h30) e a conferência “O mar na pintura de João Vaz e na poesia de Sebastião da Gama”, por António Galrinho, na Biblioteca Municipal de Setúbal (16h00).