Acusação do Ministério Público, baseada na investigação da Polícia Judiciária de Setúbal, traça um cenário de violência com mais de 17 anos
A raiva ao ver a Alcinda Cruz pedir socorro após 17 anos de violência doméstica e de controlo absoluto levou a que Pedro Antiqua, 45 anos, a atacasse em casa no Barreiro com uma violência atroz.
Rasgou o pescoço da vítima à dentada enquanto a asfixiava e esfaqueou-a 49 vezes. O crime aconteceu no início do ano no Barreiro e o agressor, que trabalhava como segurança no aeroporto, está agora acusado de violência doméstica e homicídio qualificado.
Também responde por violência doméstica contra a filha da vítima, sua enteada, que o arguido importunava sexualmente ao longo de anos.
A acusação do Ministério Público, baseada na investigação da Polícia Judiciária de Setúbal, traça um cenário de violência com mais de 17 anos, quando o casal casou e veio viver para o Barreiro, proveniente de Cabo Verde. “Desde o início do matrimónio que Pedro era uma pessoa ciumenta, possessiva, agressiva, controladora, não gostando de ser contrariado”, pode-se ler na acusação. Proibia a vítima de contactar a própria família e amigos, nem sequer para conviver com os filhos do casal, com 14 e seis anos. O telemóvel era controlado de perto.
O casal vivia na Rua General Norton de Matos, no centro do Barreiro, com a filha de Alcinda, enteada do agressor e com os dois filhos. Em 2018, a enteada, ao fazer 15 anos, passou a ser importunada sexualmente pelo padrasto, que a apalpava por várias vezes. Nessa altura chegou mesmo a dizer à jovem que matava a mãe e os meninos para poderem estar juntos. Quando esta fez 21 anos, arranjou um namorado, o que causou bastantes ciúmes no agressor e que motivou a que agredisse a mãe, Alcinda Cruz. A jovem acabou por sair de casa, em 2022, temendo pela própria vida.
O casamento entre Alcinda e Pedro sempre foi marcado por agressões e insultos pelo homem, que ameaçava a companheira e os filhos do casal de morte caso esta o deixasse. Estas ameaças levavam a que a vítima nunca abandonasse o agressor, temendo pela própria vida e dos filhos, até que no dia oito de Janeiro, foi morta selvaticamente.
No dia do crime, perto das 22h30, após uma discussão sobre quem pagava a explicação do filho mais velho, Alcinda foi agredida e Pedro saiu de casa, dizendo que se ia matar. O agressor conseguiu voltar e viu a mulher a telefonar à filha. Nesse momento, dirigiu-se à cozinha, pegou numa faca e numa tesoura e atacou a mulher.
O filho mais velho tentou afastar o pai, ordenou a que o mais novo se escondesse no quarto, debaixo da cama, mas acabou por fugir perante o homicídio da sua mãe. Pedro asfixiou a mulher e deu uma violenta dentada no pescoço desta, levando a que sangrasse abundantemente. De seguida, com a faca e a tesoura, desferiu 49 facadas no pescoço, face e peito da vítima, acabando por matá-la.
O homicida fugiu de casa, deixando o filho mais novo escondido debaixo da cama e o mais velho em casa de vizinhos, para onde fugiu. Viria a entregar-se à PSP quando já era procurado e foi detido pela PJ de Setúbal.