Responsável pela corporação barreirense elogia o empenho do efetivo, mas fala na dificuldade em conseguir jovens voluntários
Miguel Saldanha é o comandante dos Bombeiros Voluntários do Sul e Sueste. Assumiu o cargo há um ano numa corporação que bem conhece – porque já a integra desde 2017. Admite a dificuldade, sentida a nível nacional, de recrutar jovens como bombeiros voluntários, e justifica-o com a “evolução dos tempos”. Refere ainda que, apesar de os veículos da corporação estarem em fim de vida, graças ao desinvestimento dos governos, a Câmara do Barreiro tem ajudado a colmatar algumas dificuldades.
Ao elogiar os membros da corporação explica que “todas as missões são prioridade”, e não importa a complexidade.
Quais são os principais desafios da corporação neste momento?
Os principais desafios que o corpo de bombeiros enfrenta é o recrutamento de bombeiros voluntários. O desenvolvimento da sociedade exige uma resposta adequada do sistema de proteção civil, e neste momento estamos com défice na colmatação das fileiras de bombeiros voluntários, o que demonstra que a evolução dos tempos desvia os nossos jovens da componente de voluntariado.
Todos os corpos de bombeiros podem ter no seu corpo elementos dos 18 aos 45 anos de idade no momento de se agregarem a vida de bombeiro, sendo que a realidade é que necessitamos de todos para conseguirmos responder a todos no nosso dia a dia.
O número de efetivos e de carros tem sido suficiente para fazer face aos pedidos de socorro da população?
O número de efetivos nunca será suficiente para a resposta à emergência, bem como a toda a dinâmica de um corpo de bombeiros não assenta somente na emergência. A dinâmica de um corpo de bombeiros assenta em muito mais que a emergência, temos a componente formativa, onde os nossos bombeiros de forma voluntária abdicam do seu descanso para evoluir tecnicamente e estarem bem preparados para auxiliar a nossa população.
Existe também as diversas atividades de apoio que são desenvolvidas junto da nossa população ou entidades que junto de nós procurem uma melhor resiliência na reposta a eventos adversos. Relativamente ao número de veículos, temos um corpo de bombeiros robusto, mas existem muitos veículos em m de vida ou que já ultrapassaram o seu tempo útil.
Um veículo de um corpo de bombeiros para a vertente de combate a incêndios tem como vida útil 20 anos. O corpo de bombeiros Sul e Sueste reage a emergências nesta vertente com veículos acima dos 30 a 35 anos e isso deve-se aos planos de recuperação do País e da União Europeia que através desses mecanismos atribuem veículos pela área ou riscos, deixando de fora quem na realidade está em constante movimentação quando a necessidade existe – seja na Península de Setúbal ou em qualquer parte do território.
O município do Barreiro atribuiu uma verba em três anos no valor de 300 mil euros para aquisição de veículos e o corpo de bombeiros decidiu adquirir um veículo para a vertente industrial, nomeadamente devido a perigosidade das indústrias do complexo industrial Arco Ribeirinho – antiga Quimiparque.
Trata-se de um grande passo do município, mas devido ao passar de anos com ausência de investimento do Estado Central, acaba por se tornar insuficiente, mas também é justo dizer que o município desenvolve o seu papel de proteção civil de uma forma muito clara e isso tem de ser valorizado.
Que necessidades é que os Bombeiros Voluntários Sul e Sueste têm neste momento?
As necessidades de um corpo de bombeiros são imensas e não fugimos à regra. O défice de investimento inevitavelmente leva-nos ao degradamento ou fim de vida de equipamentos.
Naturalmente existe défice de equipamentos e não podemos olhar só a veículos. Um bombeiro em cada vertente de intervenção tem a necessidade de equipamentos específicos, seja de desencarceramento, para salvar vidas de acidentes rodoviários, de aparelhos respiratórios para o combate a incêndios, que o seu fim de vida está a cada 20 anos e neste momento existem diversos no seu fim de vida, bem como o diverso equipamento que compõe os nossos veículos de intervenção que por muita boa utilização ou prática acaba por se degradar e necessitam de ser substituídos. No fundo, isso obriga que os corpos de bombeiros invistam imenso na recuperação ou substituição desses equipamentos sendo insustentável na relação de investimento/despesa.
Um bombeiro numa equação simples necessita de um investimento pessoal, ou seja, de equipamento individual acima dos mil euros acompanhado pelo diverso equipamento que no caso de um veículo de combate pode ascender a mais de 300 mil euros, sendo esse veículo em concordância com a sua carga definida pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil o que faz com que a despesa seja superior em comparação a verbas disponibilizadas para a vertente de proteção civil. Se acrescentarmos a esta equação a vertente pré-hospitalar, onde é praticada em 90% por corpos de bombeiros, isso traduz-se num défice muito mais acentuado.
Qual foi a ocorrência mais complexa com a qual se depararam nos últimos tempos?
Diariamente o corpo de bombeiros reage a situações adversas para a nossa população, mas também para os nossos bombeiros. Quando existe um acionamento, a nossa mente é socorrer aquela vítima ou vítimas de uma forma célere e eficaz. Com isto o importante é que a nossa vítima seja transportada nas melhores condições utilizando também técnicas que contribua para o bem-estar dessa vítima.
Mas não nos podemos esquecer destas mulheres e homens que de forma abnegada cumprem a sua missão. Todas as missões são importantes na vida de quem de nós precisa, mas quero evidenciar a atitude profissional dos bombeiros que compõem o corpo de bombeiros, a sua disponibilidade e principalmente resiliência na reação aos eventos solicitados fazem destes bombeiros pessoas especiais, sabendo que por vezes a mente corre contra a decisão porque no fundo são humanos, mas sinto um enorme orgulho no que fazem, da maneira que fazem e isso é passado no momento certo para quem de nós necessita.
Todas as missões são a nossa prioridade, mas a audácia e bravura dos bombeiros que compõem as nossas fileiras faz que os nossos genes estejam sempre ao dispor da nossa população.
De que forma funcionaram durante o apagão em abril?
Durante o apagão tentamos funcionar da maneira mais simples possível. A nossa central de emergência contempla comunicações através de linhas analógicas o que facilitou o trabalho. Quando as operadoras nacionais deixaram de funcionar, continuamos sempre a ter essas linhas disponíveis e assim existiu sempre contacto com o serviço municipal de proteção civil e a própria autoridade nacional de emergência e proteção civil.
Foi um dia realmente diferente, mas existiu uma excelente cooperação entre os agentes de proteção civil e as emergências que foram surgindo foram atendidas dentro da normalidade.
Como é que vê a iniciativa “Ardina por um dia” e que impacto tem para a vossa corporação?
Esta iniciativa faz com que exista uma grande proximidade entre o corpo de bombeiros e a nossa sociedade, onde podemos partilhar também algumas experiências com a nossa população, sendo o impacto positivo na corporação porque os nossos bombeiros vêm esta iniciativa como valorização do seu trabalho diário e receber o conforto e incentivo da nossa população da nós ânimo para continuarmos a honrar o lema vida por vida.