Socialista recandidata-se e, se for eleito, cumpre o seu último mandato. Para a continuidade destaca como prioridades a habitação, a saúde e a requalificação do espaço público
Frederico Rosa, 46 anos, é o candidato do PS à presidência da Câmara Municipal do Barreiro. O actual presidente da autarquia recandidata-se pela terceira vez e, se for eleito, este será o seu último mandato.
O socialista assumiu os comandos do município nas eleições autárquicas de 2017 e, quatro anos mais tarde, consolidou o executivo com uma maioria absoluta para o PS.
No rescaldo dos últimos oito anos faz um “balanço positivo”, mas não nega que ainda há muito por fazer no concelho. Focado na habitação, a saúde e a requalificação do espaço público, assume-se preparado para continuar no cargo. Em entrevista a O SETUBALENSE elogia a equipa que tem trabalhado consigo e realça o aumento do orçamento municipal, o que, refere, tem ajudado a que haja mais investimento na cidade. Não deixa de fazer críticas à oposição, ao considerar que há muitos partidos que só aparecem para comentar o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), e na forma como o município estava quando assumiu funções.
Qual é o balanço que faz destes últimos oito anos nos comandos da autarquia?
O balanço é largamente positivo, porque se reverteu um percurso de declínio que o Barreiro vinha a ter. O Barreiro perdia pessoas, perdia atractividade, não se via uma única grua no Barreiro. Até os Transportes Colectivos do Barreiro (TCB) perdiam passageiros e perdiam dinheiro
Nunca se investiu tanto na saúde, com a construção das USF’s novas e a requalificação como agora, nunca se investiu tanto em habitação – quer nas casas que se comprou, quer na requalificação integral do Bairro Alves Redol – nunca se investiu tanto na recuperação do património – estamos agora a acabar o Moinho Grande, já se requalificou o Moinho Pequeno, já se comprou o Teatro Cine ou o antigo Tribunal como equipamentos culturais. Os TCB passaram não só a ganhar passageiros todos os anos, como em vez de ser um peso para a câmara, passaram a ser lucrativos e a ajudar no investimento de toda a cidade. A nível de investimento privado, basta olhar-se pelo concelho, o que não falta é investimento privado e, por isso, em relação ao que estava, reverteu-se completamente.
O que é que ainda falta fazer pelo concelho?
Muita coisa porque hoje temos novos desafios. Se há oito anos tínhamos desafios de uma terra que estava a pensar fechar escolas, actualmente precisamos de mais salas de aula. Por isso estamos a fazer a requalificação integral da Escola de Santo António e temos projectos para a requalificação integral de outras tantas escolas. Estamos a começar à frente da câmara a obra do Barreiro Velho e neste processo é preciso sempre trazer o investidor privado para o seio desta estratégia, porque podemos requalificar o espaço público, mas o espaço habitacional devoluto é privado. E, se passarmos hoje para o Barreiro Velho, já vemos muitas casas a serem reabilitadas. Este percurso é muito dinâmico.
Se voltar a ser eleito quais são os compromissos que pode prometer à população?
O maior compromisso é aquele que acho que pautou estes oito anos, que é as pessoas acreditarem que somos pessoas que fazem. O maior compromisso começa, desde logo, que não sou eu, é uma equipa onde eu sou o rosto, mas é uma equipa que se compromete em fazer pelo Barreiro, e esse princípio é inalienável. Aquilo que prometemos é mesmo isso – naquilo que são as competências e responsabilidades da câmara. Em 2017 o orçamento da câmara era de 60 M€, hoje é quase 120 M€, ou seja, duplicar o orçamento dá-nos maiores capacidades para fazer. O grande compromisso é continuar a criar riqueza para haver maior dinâmica no concelho. Porque se não se criar riqueza, não vai haver dinheiro para apoiar as escolas, os clubes e a cultura. Como temos conseguido esta criação de riqueza há mais verbas para apoiar todas estas áreas e este é o grande compromisso.
No jantar promovido pelas Mulheres Socialistas disse que quando entrou “nesta aventura aquilo que mais queria era que as pessoas do Barreiro se revissem nesta caminhada”. Que caminhada é essa?
Uma caminhada de ter orgulho na terra. Fazemos muita coisa, investimos muito no Barreiro e temos muito orgulho em ser do Barreiro, porque a grande caminhada que se faz é a caminhada pelo Barreiro. Sabemos que, de quatro em quatro anos aparece sempre gente que só aponta dedos e bate no peito, mas assim como aparecem, vão desaparecer. É esta caminhada que quero que as pessoas se revejam, independentemente dos problemas que existem – vão sempre existir –, sintam que aqui há gente que ama o Barreiro. Queremos muito que as pessoas se revejam nesta caminhada de muita gente que ama o Barreiro e está disposta a contribuir para o crescimento da sua terra.
“Queremos entregar às gerações mais novas uma cidade em que eles não só se reconheçam, mas em que tenham oportunidades”. De que forma é que isso seria possível?
Um dos nossos grandes desígnios é na habitação de arrendamento acessível. Estamos a preparar a cidade, já fizemos o primeiro concurso, queremos ter pelo menos 800 a mil fogos de arrendamento acessível. Há uns anos o Barreiro não tinha nem habitação para estas pessoas, muito menos arrendamento acessível, mas também tinha poucas zonas de qualidade de vida. Hoje temos o Polis, os moinhos, várias zonas que dão qualidade de vida.
O Mercado 1.º de Maio tinha uma taxa de ocupação de 15%, hoje tem uma taxa de ocupação de 100% e é um ícone para as pessoas de fora. É nestas vertentes que temos de fazer a cidade crescer para entregar aos nossos mais jovens para que eles possam cá fazer vida. Isto não quer dizer que todos vão trabalhar cá, ou que só podem ter o seu lazer no Barreiro, mas o Barreiro já tem uma grande oferta a nível de emprego e de lazer. Isto é decisivo para que a cidade continue a ter gente e ter massa crítica para continuar a pensar a cidade e continuar a fazer crescer.
No que diz respeito à habitação, quais são as propostas que defende?
Somos líderes, ao longo destes executivos todos, no investimento na habitação social porque o Barreiro nunca teve outra tipologia de habitação. Já fizemos, para além da habitação social, o exemplo mais flagrante é a requalificação integral do Bairro Alves Redol, que está em curso.
Adquirimos – por cerca de um milhão de euros – um edifício que vai ser muito importante, que vai dar resposta, por exemplo, a vítimas de violência doméstica, possibilitando tirá-las de casa e colocá-las num sítio seguro. É um equipamento que o Barreiro apesar de ter um protocolo e já trabalhar muito na violência doméstica, não tinha.
Fizemos o regulamento e estamos a entrar já, quer do ponto de vista de terrenos autárquicos quer com privados, no arrendamento acessível, que visa acima de tudo os mais jovens e a classe média, uma coisa que o Barreiro nunca teve, e está agora a ter pela primeira vez. Na nossa estratégia de habitação são muito importantes estes vectores. Depois há um vector que é transversal a isto tudo que é, a câmara por si só não consegue fazer tudo, é preciso que os privados também investam. E uma das mais importantes conquistas que nós temos é a confiança de quem investe no Barreiro. Basta olhar para o anúncio que a CUF fez há pouco tempo do novo hospital no Barreiro com 55 M€ de investimento e 300 postos de trabalho, há uns anos isto era impensável. Este reganhar outra vez a confiança de quem investe e cria emprego é importantíssimo porque sabe que o primeiro a investir na sua terra é a Câmara Municipal do Barreiro.
A criminalidade é uma preocupação?
Claro. Toda a gente falava no RASI no Barreiro, até que ele apareceu, e, como a criminalidade no Barreiro diminuiu, toda a gente se calou, nomeadamente os partidos muito mais à direita.
A criminalidade diminuiu, com um esforço muito grande de todas as nossas forças de segurança – mas também da comunidade escolar, da própria autarquia e das juntas de freguesia, de um trabalho conjunto que se tem feito e respeito à criminalidade juvenil, com o Tribunal do Barreiro, com o Ministério Público e com a Ordem dos Advogados.
É muito importante perceber que não há balas de prata que vão acabar com o problema de um dia para a noite, mas ter uma abordagem multidisciplinar, com gente extremamente competente que temos nestas instituições, faz com que os números vão notar aquilo que nós conhecemos, que é haver menos criminalidade. Mas ainda nos preocupa muito, sou defensor que possa haver um sistema de videovigilância sim, mas metropolitano. Porque uma pessoa que vem do concelho vizinho, que comete aqui o crime e volta para o concelho vizinho, se não houver uma integração, não faz sentido. Há muitas variáveis que temos de actuar, mas primeiro é reconhecer que queremos enfrentar este problema. Desde que saiu o RASI deste ano é um silêncio absoluto em relação a esta matéria de toda a gente, mas o problema que existia antes continua a existir. Ficámos satisfeitos com a diminuição, mas ainda há muita coisa para fazer.
Desde 2021 que o PS tem maioria absoluta na câmara municipal. Como é que tem sido desenvolvido o trabalho nesta casa?
A uma velocidade a dobrar. Somos o concelho que, aqui na zona, mais centros de saúde novos e a requalificar temos. Quando abriu o programa para requalificação das escolas fomos o único concelho do distrito de Setúbal a ter candidatura aprovada – e entregámos quatro em tempo e horas – ficámos com uma aprovada em Santo António, e três em carteira.
Quando abriu o concurso dos bairros digitais, também competitivo a nível nacional, fomos o único concelho da margem sul a ver aprovado logo na primeira fase. Abriu agora o concurso para os TCB, num concurso das áreas metropolitanas com dezenas de candidatos, ficámos em quinto – à frente da Carris. Porque é que isto acontece? Porque há uma equipa muito grande a trabalhar para o bem e para o mesmo.
A maioria possibilita-nos ter menos tempo, às vezes, para discutir o sexo dos anjos e muito mais gente a trabalhar para o bem efectivo do concelho. O compromisso existe, seja qual for o resultado, mas este é o resultado prático daquilo que foi a escolha dos barreirenses em 2021. Basta ver parâmetros como a educação, a saúde e a mobilidade, onde considero que fizemos coisas que secalhar pareciam aparentemente impossíveis e que são absolutamente estruturantes para o futuro do concelho.
Às vezes, perdemos em coisas pequenas – o buraco é importante, estas pequenas coisas são importantes –, mas, estruturalmente, temos melhores escolas, mais e melhores unidades de saúde familiar (sendo que os municípios não são responsáveis pelo Hospital do Barreiro), uma rede de autocarros mais ampla e mais nova. Tudo isto só é possível porque há muita gente a trabalhar para este objectivo.
No contacto com a população quais têm sido as maiores preocupações demonstradas? Estão contentes com a sua recandidatura?
O feedback das pessoas em relação à recandidatura foi uma coisa brutal, sinto-o todos os dias na rua. Isto não significa que as pessoas não tenham problemas que têm de ser resolvidos.
Temos muitos buracos na estrada, estamos a passar por uma fase em que temos centenas de caminhões a passar na estrada. Podemos alcatroar, mas daqui por 15 dias está igual. Cabe-nos tomar às vezes as decisões difíceis que não são populares, mas as pessoas reconhecem isso, porque as pessoas têm problemas. Muitas vezes vêem ter comigo, muito satisfeitos com a recandidatura e a dizer “força, não desistas”, e a seguir, apresentam o seu problema. Porquê? Porque as pessoas também sabem que nós fazemos. E esse é o maior feedback.