O presidente da Câmara receia que o Arco Ribeirinho Sul passe para segundo plano, ao ser integrado em projecto que abrange a margem norte do Tejo
Com desconforto e receio. Foi assim que os presidentes de câmara da península de Setúbal receberam o anúncio feito pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, no último domingo, no encerramento do congresso nacional do PSD, a dar conta de uma sociedade para a reabilitação da Área Metropolitana de Lisboa, a englobar as duas margens do Tejo, abrangendo assim o projecto Arco Ribeirinho Sul.
Desconforto, porque os autarcas não foram perdidos nem achados quanto ao plano anunciado; receio, porque admitem que o projecto pensado para a península de Setúbal possa vir a estar subalternizado.
“Tememos que numa estrutura empresarial grande para gerir tudo isto, se envolver também a margem norte, a margem sul seja secundarizada”, diz Frederico Rosa, presidente da Câmara do Barreiro. O autarca lembra que na altura da Baía do Tejo a “cadeia de decisão era enorme”, já que englobava entidades como a Parpública e a Estamo, além do Governo. E agora receia que uma nova sociedade a abranger as duas margens do Tejo possa vir a deixar estes territórios da península de Setúbal reféns de Lisboa. Isto, quando os nove municípios estão a tratar da instituição da Comunidade Intermunicipal Península de Setúbal. “Receio que isto possa secundarizar a península de Setúbal. Na próxima segunda-feira vamos decidir sobre os estatutos da CIM, onde dar força a este projecto faz todo o sentido”, reforça.
Até ao anúncio de Montenegro, ninguém sabia o que estava ser planeado, admite Frederico Rosa. “Nunca nos consultaram. Não fazíamos a mínima ideia do que se estava a passar ou do que se vai passar. Fiquei com a ideia de que isto é uma reformulação do projecto Arco Ribeirinho Sul, que tinha já uma consensualização grande entre todos os autarcas em dois passos importantes como a descontaminação dos solos industriais da antiga CUF e da Siderurgia e o alargamento do Metro Sul do Tejo”, revela o socialista.
O edil considera também essencial o alargamento do Metro Sul do Tejo. Não só trazendo o metro do Seixal para o Barreiro, com uma via sob o rio, fazendo-o chegar a Alcochete, como também estendê-lo de Almada à Costa de Caparica. “Estes dois pontos são estruturantes para o que se vier a fazer para o Arco Ribeirinho Sul e depois encaixá-los com a Terceira Travessia sobre o Tejo”, sublinha, para lembrar de seguida: “Isso era algo que estava já alinhavado e consensualizado.”
O primeiro-ministro anunciou no congresso social-democrata, em Braga, aquilo que classificou como um “grande projecto de reabilitação da Área Metropolitana de Lisboa” e que visa “erguer uma metrópole vibrante e homogénea” nas duas margens do Tejo. Montenegro avançou que o plano será desenvolvido em três pólos, para, “de forma concertada, erguer uma grande pólis com duas margens”. Em causa está, por exemplo, a criação da Sociedade de Gestão, Reabilitação e Promoção Urbana, a que o Governo dará o nome de Parque Humberto Delgado e que “será o instrumento para pensar, projectar e ordenar o Arco Ribeirinho Sul nos municípios de Almada, Barreiro e Seixal”.
Um segundo pólo será o Ocean Campus, entre o vale do Jamor e Algés, nos municípios de Lisboa e Oeiras, e o terceiro aproveitará os terrenos que serão libertados com o fim do actual aeroporto Humberto Delgado. Com Lusa