Barreiro distinguiu os seus que mais sofreram na pele na luta contra a ditadura. Reforçou identidade local na toponímia. E deu casa à cidadania
Uma exposição sobre o 50.º aniversário da Revolução dos Cravos, patente até 30 de Dezembro próximo na Casa da Cidadania Cabós Gonçalves, prolonga até final do ano as comemorações preparadas pelo município do Barreiro para assinalarem a efeméride. As celebrações da passagem de meio século sobre a libertação do espartilho da ditadura ficam, porém, marcadas na história do concelho barreirense por três momentos: a homenagem a todos os ex-presos políticos com ligação ao território; a atribuição dos nomes de 50 personalidades locais à toponímia; e a inauguração da Casa da Cidadania.
No total, foram distinguidos na manhã de 25 de Abril passado, em cerimónia pública realizada no Largo 1.º de Maio, 46 ex-presos políticos pela PIDE, 29 dos quais a título póstumo. Foram galardoados com a Medalha de Bravura e Altruísmo, que a Câmara Municipal do Barreiro instituiu precisamente este ano com o objectivo de “homenagear pessoas individuais, que revelem, com as suas acções, espírito de sacrifício, bravura, coragem e abnegação pelo outro, pela comunidade ou sociedade em geral”.
Este foi o primeiro grande momento, das comemorações, que vai ficar perpetuado na memória colectiva barreirense, quer pela inédita homenagem àqueles que mais sofreram na pele na luta pela Liberdade e Democracia quer também por ter sido esta a primeira vez que o galardão foi atribuído.
O segundo momento a ficar gravado – enquanto os homens quiserem – na história da identidade local foi o da atribuição de nomes de ilustres personalidades locais a 43 ruas, cinco pracetas, uma avenida e uma praça do concelho. A exemplo do que sucedera com a atribuição da nova condecoração municipal também esta cerimónia encheu, mas na tarde de 21 de Junho, o Largo 1.º de Maio.
“Honrámos os barreirenses e a nossa história. Isto foi honrar quem muito deu à cidade. Esta cerimónia encaixou-se na perfeição nesse desígnio, juntou pessoas de todos os quadrantes [políticos], gente que elevou o nome do Barreiro, que muito fez pela terra. Foi muita emoção, muita saudade também, foi o momento mais bonito que já tive como presidente da Câmara Municipal do Barreiro”, disse então a O SETUBALENSE Frederico Rosa, presidente da Câmara Municipal. Para de seguida justificar: “Queremos ter um grande futuro e isso só é possível se preservarmos e honrarmos o passado.”
Os 50 na toponímia e a casa da cidadania
Das 50 personalidades que agora figuram na toponímia do concelho, 43 identificam ruas. A saber: Adelino Barbosa Barros “Neno”; Aires de Carvalho; Álvaro Gaspar; Álvaro Monteiro; André Serrano Serra; António José Ferreira; António Sardinha Pereira; Artur Quaresma; Belmiro Ferreira; Carlos Oliveira “Bóia”; Conceição Matos; David Varela; Emanuel Góis; e Fernando Chalana.
A estes juntam-se os nomes de Fernando Sobral; Filipe Roseiro; Francisco Mendes Costa; Frederico Pereira; Hélder Fráguas; Hélder Madeira; Hilário Moreira; Hugo Cunha; Dr. João Nunes Feijão; João Raio; Joaquim Pessoa; José Cardoso Ferreira; José Augusto; José Batata; José Engrossa; José Valente; Júlio Freire; e Luís Mateus. E ainda: Manuel Soeiro Vasques; Dra. Maria Laura Seixas; Maria Leopoldina Mendes; Maria de Lourdes Resende; Mário Solano; Mário João; Mike Plowden; Natércia Couto; Rui do Vale; Vitalina Machado; e Vítor Domingos.
A cinco pracetas foram atribuídos os nomes de Anabela Mota; Dulce Cabrita; Dra. Elvira Camacho; Dr. Eurico Garrido; e Maria Elisa Esteves. A uma praça foi dado o nome Eng. José Caro Proença e a uma avenida o nome Eng. José Leal da Silva.
Por último, fica ainda também inscrita na história barreirense, como parte integrante das comemorações dos 50 anos de Abril, a inauguração da Casa da Cidadania Cabós Gonçalves, que inicialmente até chegou a estar agendada para o próprio Dia da Liberdade mas que só veio a acontecer no Dia da Cidade, 28 de Junho.
O novo equipamento – onde decorre até 30 de Dezembro a mostra “Barreiro Terra de Liberdade” – representou um investimento na ordem dos 1,5 milhões de euros e conta com um auditório com 80 lugares, uma zona de exposições, serviços da Câmara Municipal e gabinetes, no 1.º piso, para todos os partidos com assento na Assembleia Municipal e para o presidente do órgão deliberativo
“A lógica da Casa da Cidadania é contar aos mais novos a história da Liberdade e da Democracia no Barreiro, para que se aprenda e para que nunca mais voltemos a passar pelo que passámos”, resumiu Frederico Rosa sobre o novo pólo cultural, que tem o propósito de preservar e perpetuar a memória colectiva barreirense no virar de página do País. “A ideia é que qualquer pessoa, de qualquer idade, sobretudo as gerações mais novas, consigam perceber como o Barreiro se libertou das amarras do antigo regime, rejubilou com o 25 de Abril e construiu também a sua democracia”, reforçou na altura o autarca.
A Casa da Cidadania homenageia ainda o nome de Cabós Gonçalves, que foi fundador do PS do Barreiro e também apoiante da CDU, mas acima de tudo um “activista pelo desenvolvimento local e pela cidadania”.
Ex-presos políticos | Os 46 homenageados
A Medalha de Bravura e Altruísmo foi atribuída a 46 ex-presos políticos pela PIDE, que nasceram ou viveram no Barreiro. Deste total, 29 foram homenageados a título póstumo. Confira abaixo a lista dos homens e mulheres que sofreram o calvário da prisão – e da tortura, nalguns casos – para que Portugal fosse um país livre e democrático.
• Alfredo Rodrigues de Matos
• Álvaro Monteiro
• António dos Santos Estrela (título póstumo)
• António Espírito Santo Silva
• António Gato Pinto (título póstumo)
• António José da Costa “O Evaristo” (título póstumo)
• António Mendes Soldado Júnior (título póstumo)
• Apolónia Maria Alberto Pereira Teixeira
• Armando de Sousa Teixeira
• Armando José da Cunha Santos (título póstumo)
• Artílio Batista (título póstumo)
• Augusto Durand (título póstumo)
• Bento Gonçalves das Dores Gomes Serrano
• Bento Guerreiro Ventura
• Domingos Duarte (título póstumo)
• Domingos Fernando dos Santos Oliveira “O Bija” (título póstumo)
• Ercília Talhadas
• Fernando do Carmo Libório
• Francisco José Cabaço Pardana (título póstumo)
• Hélder da Silva Fráguas (título póstumo)
• Hélder de Assunção Costa (título póstumo)
• João António Ramos Fialho
• Joaquim António Porfírio
• Joaquim de Oliveira (título póstumo)
• Joaquim Ferreira (título póstumo)
• José Joaquim Rita Seixas (título póstumo)
• José Luís Maria “Baianca” “O Licha” (título póstumo)
• José Manuel Antunes Ramos Freitas (título póstumo)
• José Nobre Madeira (título póstumo)
• Júlio Guilherme Lopes Freire (título póstumo)
• Lenine Maria Sobreiro (título póstumo)
• Leonel Eusébio Coelho (título póstumo)
• Manuel António Naia (título póstumo)
• Manuel Gomes Serrano (título póstumo)
• Manuel Martins Felizardo
• Maria da Conceição Pinto (título póstumo)
• Maria da Conceição Rodrigues de Matos
• Maria Isabel Augusta Cortes do Carmo
• Maria Júlia Pelengana
• Miguel Eusébio Lopes de Sousa
• Romeu Augusto Domingos do Rosário
• Silvério Meleças Sande Nobre Madeira (título póstumo)
• Staline Jesus Rodrigues (título póstumo)
• Teodoro da Silva Caria (título póstumo)
• Vítor Zacarias Piedade de Sousa (título póstumo)