Presidente da corporação reflete sobre as dificuldades da corporação, a nível operacional e de pessoal, mas explica que as ocorrências têm tido resposta
Eduardo Correia é presidente dos Bombeiros Voluntários do Sul e Sueste há quase 20 anos. Além disso é vice-presidente conselho executivo da Liga de Bombeiros Portugueses.
Ao explicar as dificuldades enfrentadas pela corporação revela que há dois objetivos: garantir as sustentabilidades financeira e operacional.
No que diz respeito a números o antigo presidente da Federação de Bombeiros de Setúbal, durante quatro anos, explica que os bombeiros voluntários barreirenses vão chegar este ano ao registo de sete mil ocorrências.
Uma das preocupações passa pela dificuldade em ter na corporação mais bombeiros voluntários e explica também as condições dos veículos usados diariamente.
Em entrevista a O SETUBALENSE elogia a iniciativa “Ardina por um dia”, promovida por este mesmo jornal, e diz onde foi utilizada a verba arrecadada no ano passado.
Quais são as prioridades da corporação para os próximos anos?
Os nossos grandes desafios são as duas coisas que nos movem, são a sustentabilidade financeira, para que por essa via se consiga alcançar a sustentabilidade operacional, a estabilidade da estrutura do corpo de bombeiros, e assim conseguir cumprir a missão, que é a missão de socorrer todos, e de corresponder a todas as solicitações que o corpo de bombeiros tem ao longo do ano, que são bastantes.
Na área da emergência para o hospitalar, este ano vamos chegar, seguramente, perto das sete mil ocorrências, mas temos tudo o resto. A emergência para o hospitalar é no nosso caso, a atividade que mais nos ocupa. O nosso foco e a nossa preocupação diária é garantir a sustentabilidade financeira, para que por essa via se garanta a sustentabilidade operacional. E isso leva-nos a decisões estratégicas que foram tomadas nos últimos anos de desviarmos um pouco daquilo que era uma atividade, e chegámos a ter com muita importância, a atividade do domínio do transporte de doentes não urgentes. Aquilo que aconteceu foi a inércia durante vários anos, nomeadamente por grande parte dos governos anteriores, que durante 10 anos tiveram congelados os valores dos pagamentos por quilómetros neste domínio. Portanto, a atividade, ao longo dos anos, foi-se tornando cada vez menos autossustentável, porque a despesa cresceu muito.
A nível da frota e também do pessoal, há alguma dificuldade estejam a passar neste momento?
Temos uma situação mista, com um veículo de combate de incêndios com 13 ou 14 anos que resultou de uma candidatura nossa, renovámos a frota a esse nível. A nossa maior lacuna está nos veículos de combate de incêndios florestal, o mais novo que temos tem 25 anos, já há muito que passou o limite de vida. É certo que, na nossa área de atuação própria, aquilo que há em termos florestais é pouco ou nada e a responsabilidade maior que temos não está aí, e não estando aí tomámos uma decisão estratégica também na associação que é: por nossa conta, não iremos nunca, jamais, na minha vigência, adquirir um veículo florestal de combate de incêndios. O nosso foco e a nossa preocupação é o meio urbano e o meio industrial. Assim, estamos em processo de, há de ser entregue no ano que vem, um veículo virado para a indústria – graças ao investimento da câmara municipal que decidiu apoiar-nos com 300 mil euros a dividir por três anos. As lacunas a nível dos veículos vermelhos, digamos assim, que estão no florestal, têm gerado algumas limitações funcionais, mas vamos aqui andando.
Ao nível das ambulâncias de socorro a frota está mais ou menos, temos algumas coisas mais antigas, outras mais recentes, este ano inaugurámos uma ambulância nova em julho.
Outra questão é que o voluntariado puro e duro já vai sendo uma miragem. Essa é outra das realidades atuais com que temos de nos confrontar. O voluntariado puro e duro, aquele bombeiro que trabalha num sítio qualquer, e que vai fazer ali o seu voluntariado completamente gracioso, isso já vai sendo uma raridade. As coisas são assim, são como são, e, portanto, nós também temos de nos ajeitar a essa realidade.
Que significado é que tem para vocês a iniciativa “Ardina por um dia”?
Esta vossa iniciativa, não interessa se tem muito peso ou pouco peso real nas finanças, não é isso que importa aqui. O que importa aqui é a iniciativa, porque é uma iniciativa muito positiva, uma iniciativa que nos vemos com grande agrado. Aderimos ao ano passado e quando nos desafiaram este ano novamente, a resposta é imediatamente sim. É a sociedade civil a mexer-se. É a divulgação da nossa atividade através do vosso jornal, que atinge a distribuição de estudo, basicamente.
E, portanto, é uma iniciativa que vemos com todo o interesse e como muito positiva, até porque pode ser catalisadora de outras coisas e pode chamar a atenção. É mais uma forma de alertar para esta realidade complexa que foi feita a transição do dia a dia.
O valor angariado no ano passado (cerca de 350 euros) foi usado para que m?
A verba do ano passado foi aplicada, conforme tinha sido o nosso compromisso, na aquisição de um equipamento de uma ambulância de emergência. Na altura, tínhamos uma bomba de enchimento de uma maca de vácuo que estava avariada e não tínhamos nenhuma em reserva. E essa verba foi utilizada na aquisição de uma bomba de vácuo. Agora, ficamos com reserva e podemos, sempre que alguma coisa se avaria, complementar. Este ano vamos ver, depende um bocadinho também do valor, mas há sempre necessidade, há sempre coisas. Há sempre coisas que se desgastam, que se estragam, que se avariam, e são equipamentos, às vezes, de milhares de euros. Se falarmos de uma maca de uma ambulância, são cinco ou seis mil euros.
Em função daquilo que for a receita, decidiremos o que é que vamos fazer. Mas será para aplicar em equipamento de socorro.