Foto: Leonor Batista
André Pinotes Batista realça triunfo no Barreiro e na região. Mas diz que o partido vai ter de reflectir e mudar de propostas
Setúbal foi um dos três únicos distritos (os outros foram Évora e Beja) em que o PS venceu em todos os concelhos, nas legislativas de domingo passado que, no plano nacional, foram ganhas pela Aliança Democrática (AD). E o Barreiro foi do total dos 13 concelhos que compõem o distrito aquele onde os socialistas triunfaram com melhor resultado em termos percentuais – 37,36%, que traduzem os 17 216 votos arrecadados –, fruto também de vencerem em todas as freguesias (quatro) deste território.
Face aos resultados alcançados em 2022, o PS registou neste concelho uma quebra de 14,09% (correspondente a uma perda de 3 979 votos). Uma diminuição que, ainda assim, não deslustra o saldo alcançado no concelho, diz André Pinotes Batista, presidente da Assembleia Municipal do Barreiro e membro do Secretariado Nacional do PS. “Sinto-me orgulhoso pelas vitórias nos 13 concelhos e, particularmente, ninguém me levará a mal que destaque o resultado no Barreiro.”
O socialista lembra que o partido teve “a humildade de reconhecer que perdeu, apesar de tangencialmente, as eleições a nível nacional”, mas frisa que “ainda há muita confiança no PS”. Há que “reconhecer a vontade de mudança” expressa nas urnas de voto e, por via disso, o PS “vai ser oposição” no Parlamento.
E no que toca ao distrito, Pinotes Batista vai mais longe. “Apesar de termos sido o partido mais votado, não podemos ignorar que o Chega foi a segunda força. Não podemos infantilizar o eleitorado do Chega. Temos de reflectir sobre o nosso posicionamento político, mudar as nossas propostas e actuação. Estamos obrigados a reflectir, a olhar para esta nova realidade, para estes resultados em que temos votos de protesto, porque não é possível considerar que os que votaram no Chega sejam racistas ou xenófobos”, afirma.
Também Rui Pereira, que preside à Comissão Política Concelhia do Barreiro do PS, destaca o resultado obtido pelo partido a nível local. “O PS ganhou em todas as freguesias do concelho, mais do que duplicando a votação da segunda força política mais votada [Chega], registando a melhor votação socialista em todos os concelhos do distrito”, salienta o também vereador na Câmara Municipal do Barreiro, em artigo de opinião publicado na edição de O SETUBALENSE.
Chega cresce com menos abstenção e Livre ‘come’ PS
A exemplo do que conseguiu no distrito, o Chega – partido que mais cresceu não só na região como em todo o País – saltou de quarta para segunda força política mais votada no concelho do Barreiro (por troca directa com a CDU), ao passar de 7,42% (5 692 votos) para 17,25% (7 951 votos). Porém, o Barreiro foi o terceiro concelho do distrito onde o partido de André Ventura obteve menor percentagem de votos – “pior” só mesmo os 16,36% registados em Alcácer do Sal e os 16,84% em Almada.
O Chega “comeu” eleitorado à esquerda e à direita, mas, sobretudo, capitalizou com a diminuição da abstenção.
A AD – coligação formada por PSD, CDS e PPM – também cresceu, mas apenas consolidou a posição de terceira força política no concelho, ao registar 12,71% (5 855 votos) que comparam com os 11,16% (4 597 votos) conseguidos em 2022 pelo PSD a somar a 0,80% do CDS (328 votos), já que nas eleições anteriores ambos concorreram separadamente e o PPM não foi a votos. Feitas as contas, a AD cresceu 0,75% (mais 930 votos do que o somatório dos resultados de 2022).
A CDU diminuiu de 13,82% (5 692 votos) para 10,90% (5 024 votos). A perda de 668 votos atirou a coligação liderada pelo PCP do segundo para o quarto lugar. De resto, de entre as oito principais forças partidárias só PS e CDU perderam votação no concelho.
O BE subiu de 5,45% (2 245 votos) para 6,13% (2 826 votos) e manteve a quinta posição; e o Livre, que ultrapassou o PAN pela esquerda e a IL pela direita, alimentou-se, sobretudo, de eleitorado socialista. O partido de Rui Tavares cresceu de 1,32% (542 votos) para 4,31% (1 985 votos), passando a ser a 6.ª força mais votada (troca directa com a IL) no território do Barreiro. A IL cresceu de 3,55% (1 463 votos) para 3,99% (1 837 votos), ao passo que o PAN passou de 1,77% (730 votos) para 2,49% (1 146 votos).
Dos 68 061 eleitores inscritos, no concelho do Barreiro, votaram 46 080 (mais 4 882 do que em 2022), o que se traduziu numa abstenção de 32,33% que compara com os 39,60% de há dois anos.
Paradoxo ‘Freguesia’ com melhor resultado sofre maior perda
O PS ganhou em toda a linha no concelho do Barreiro. Mas foi na União das Freguesias de Alto Seixalinho, Santo André e Verderena, maior território do concelho em termos populacionais, que o partido alcançou o melhor resultado: 39,53% (9 403 votos), que comparam com os 53,89% (11 466 votos) conseguidos em 2022. Foi também aqui que o PS sofreu a perda de votos mais acentuada no concelho (menos 2 063, ou seja, pouco mais de metade da perda total).
Em sentido inverso, o Chega, que foi o segundo partido mais votado, subiu de 6,93% (1 475 votos) para os 16,40% (3 900 votos) e a AD manteve-se como terceira força política com 11,28% (2 682 votos, mais 680 do que nas legislativas anteriores). A CDU, que passou de segunda para quarta força mais votada, registou neste território 11,07% (correspondentes a 2 633 votos, menos 322 em relação a 2022). BE, Livre, IL e PAN cresceram todos na votação, com o Livre a ultrapassar estes dois últimos.