Clarisse Campos: “Viver em Alcácer do Sal é um verdadeiro privilégio, só temos de criar as condições para que as pessoas sintam isso”

Clarisse Campos: “Viver em Alcácer do Sal é um verdadeiro privilégio, só temos de criar as condições para que as pessoas sintam isso”

Clarisse Campos: “Viver em Alcácer do Sal é um verdadeiro privilégio, só temos de criar as condições para que as pessoas sintam isso”

PS Setúbal

Candidata socialista abdicou de integrar a lista às legislativas para pôr o concelho como “prioridade”. Garante estar preparada para assumir os comandos da autarquia e resolver problemas da população

Clarisse Campos, 61 anos, é candidata à presidência da Câmara Municipal de Alcácer do Sal pelo PS. Nesta, que é a sua terceira candidatura à chefia do órgão autárquico, afirma estar preparada para assumir o desafio de responder às necessidades da população.

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A antiga deputada à Assembleia da República abdicou de integrar a lista de deputados do PS pelo círculo eleitoral de Setúbal por considerar que o concelho de Alcácer do Sal é a sua “prioridade”, mostrando-se assim totalmente focada na campanha autárquica.

Habitação, fixação de famílias jovens (e os filhos da terra), mobilidade e investimento na escola pública são algumas das medidas destacadas pela agora vereadora na câmara municipal.

Deixa críticas ao actual executivo acusando-o de “falta de visão e de acção” em várias matérias e de faltar com “dinamismo, estratégia e vontade política” para tornar o município mais atractivo.

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Em entrevista a O SETUBALENSE assume ainda a vontade de reforçar os meios humanos e materiais no combate à criminalidade e, na reactivação da estação ferroviária.

Qual é a razão que a leva a recandidatar-se à presidência da autarquia?

A principal razão é a certeza que o meu concelho necessita de um novo rumo que contribua para a melhoria das condições de vida de quem já aqui reside e para a fixação de mais famílias. Um futuro com desenvolvimento económico, mas com respeito pelo território, as suas raízes e tradições, ambientalmente mais sustentável, solidário e com políticas públicas que coloquem as pessoas em primeiro lugar.

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Estou preparada e, em conjunto com as equipas que estou a formar, somos a resposta para alcançar estes objectivos. Cerca de 40 anos de trabalho e 20 a chefiar equipas, bem como os seis anos em que estive como deputada à Assembleia da República, a defender a região, dão-me a capacidade, as competências e a energia para concretizar este projecto em benefício da nossa terra.

O facto de ter sido votada por unanimidade pelos órgãos concelhios do partido, confere-me uma enorme responsabilidade e a confiança dos meus pares nessas minhas capacidades e na visão que tenho para este território, que tão bem conheço e amo.

Nos 51 anos que levamos de Democracia, o PS governou Alcácer do Sal apenas durante oito anos. Os últimos 12 revelaram um projecto e um modelo de governação esgotados, que já não respondem às necessidades do presente, nem projectam um futuro com ambição.

O concelho precisa desta mudança, sinto isso nas pessoas, e só o PS constitui essa alternativa de confiança.

Porque é que abdicou de integrar as listas do PS nas legislativas?

Abdiquei de integrar as listas do PS às eleições legislativas porque a minha opção pela minha terra estava há muito tomada. Essa sempre foi a minha prioridade. Devo aliás dizer que, enquanto estive na Assembleia da República, o meu foco principal foi sempre o meu território. Quem quiser fazer esse escrutínio encontrará as iniciativas que tomei em nome do PS, relativas à instalação, em Alcácer, de uma ambulância com Suporte Imediato de Vida, à construção de um novo Posto de Vendagem de Pescado da Docapesca, na Carrasqueira, e aos problemas da agricultura e dos agricultores, nomeadamente no que respeita às fileiras do arroz e do mel, produções tradicionais da nossa terra, entre muitos outros temas locais.

Que críticas faz à actual gestão da câmara municipal?

Alcácer do Sal tem tudo para ser um concelho de referência, uma localização geográfica privilegiada, excelentes acessos, um património histórico riquíssimo e um território fértil, com produtos únicos como o arroz carolino e o pinhão de qualidade excepcional, que já hoje contribuem significativamente para a balança comercial do nosso País. Temos condições naturais e estratégicas que muitos outros concelhos invejariam.

Mas apesar de todo este potencial, o concelho continua a definhar. E a responsabilidade é, sem margem para dúvidas, da falta de visão e de acção de quem tem governado Alcácer nos últimos 12 anos. O actual executivo demonstrou ser incapaz de transformar os nossos recursos em desenvolvimento, emprego e qualidade de vida. Falta dinamismo, falta estratégia, falta vontade política para enfrentar os problemas com coragem.

Os números falam por si. Alcácer é hoje o concelho mais envelhecido da região e aquele que mais população perdeu. Em apenas alguns anos, passámos de mais de 13 mil habitantes para pouco mais de 11 mil, segundo os Censos de 2021. E pior ainda, já estamos abaixo dos 10 mil eleitores, o que nos fará perder representação e financiamento estatal nas próximas eleições autárquicas.

Temos empreendimentos a surgir um pouco por todo o concelho, mas os filhos da terra não conseguem cá ficar. Os preços disparam, os serviços escasseiam, o emprego qualificado não aparece e os jovens vão-se embora. 

E é por tudo isto que me apresento a eleições. Precisamente para pôr fim a este ciclo de retrocesso, para dar ao nosso concelho e às nossas gentes o futuro que merecem.

Se forem eleitos quais são as principais propostas que querem que se concretizem?

Queremos colocar as pessoas em primeiro lugar. Isso quer dizer que vamos apostar em políticas de habitação pública que permitam aos filhos da terra fixarem-se, quer na cidade de Alcácer, quer nas aldeias. Vamos fomentar um desenvolvimento económico gerador de empregos qualificados, cativando empresas e criando condições para apoiar as famílias jovens, nomeadamente com respostas ao nível da primeira infância e um reforço de investimento na escola pública. Vamos também atrair novas famílias, assegurando uma boa rede de transportes e de acessibilidades em todo o concelho e criar condições de rede de dados (internet) para poderem trabalhar remotamente, porque o futuro passa também por aqui.

A prioridade do PS são as pessoas, oferecendo-lhes uma qualidade de vida muito superior aos grandes centros urbanos. Temos um concelho seguro e bem localizado. Viver em Alcácer do Sal, no Torrão ou em qualquer aldeia da nossa terra é um verdadeiro privilégio, só temos de criar as condições para que as pessoas sintam isso.

E, sendo nós um território envelhecido, temos também de dar prioridade aos mais idosos promovendo políticas de envelhecimento activo e digno, com um acompanhamento mais efectivo desta população, levando esse apoio às aldeias e aos montes, onde tantas vezes as pessoas vivem isoladas.

E, por fim, mas nem por isso menos importante, vamos apostar de forma clara na cultura, com a valorização do nosso património riquíssimo e tão subaproveitado, potenciando-o para a atractividade do território e com uma oferta cultural de qualidade, variada e pensada para os diferentes públicos, a reanimação das actividades nos nossos museus e bibliotecas, a criação de novos espaços e propostas.

Estes são os nossos compromissos com as pessoas, com o território e com o futuro.

Como é que tem corrido o trabalho na oposição na câmara municipal?

Temos feito uma oposição responsável, exigente e atenta, sempre construtiva, aprovando o que entendemos ser positivo para as nossas populações e votando contra o que entendemos ser negativo, isto apesar de nem sempre vermos respeitado o estatuto da oposição. Frequentemente, não temos acesso a toda a informação e tentam manter-nos à margem de muita actividade municipal que não necessita de aprovação.

Infelizmente, e 51 anos após o 25 de Abril, não podemos dizer que exista uma grande cultura democrática na forma como tem sido exercido o poder em Alcácer do Sal nos últimos 12 anos. Mas nós não desistimos. Continuamos aqui. Pela verdade. Pela transparência. Por quem acredita que é possível fazer diferente – e melhor. Devemos isso às 2779 pessoas que votaram em nós e às muitas mais que nos confiarão o voto nas próximas eleições autárquicas.

Têm desenvolvido vários contactos com a população. Quais são as preocupações que os cidadãos transmitem?

A habitação digna está no topo das preocupações das pessoas. Também nos falam na falta de empregos de qualidade, uma vez que a oferta criada tem sido em áreas pouco valorizadas do ponto de vista salarial. A falta de uma rede de transportes públicos que sirva as populações, sobretudo quem vive nas aldeias e não tem carro próprio, é outra questão apontada e que queremos muito resolver. E depois há o problema da desertificação.

As pessoas sentem falta de mais gente, mais vida, mais comércio e actividade económica no centro histórico da cidade, que está quase vazio. A população lamenta que as políticas públicas que têm sido seguidas não sejam, de facto, para todos, mas apenas para alguns. 

Quanto à diminuição da demografia e natalidade no concelho, de que forma é que pretendem, com propostas, reverter esta situação?

Como já referi, pretendemos criar condições para a fixação de famílias jovens, filhos da terra e outros, que queiram aqui instalar-se, beneficiando de mais qualidade de vida do que aquela que existe nas grandes cidades. Temos de colocar habitação no mercado, própria e para arrendamento, que as pessoas possam pagar. Em simultâneo, vamos proporcionar a estas pessoas condições para viverem e exercerem as suas profissões no concelho, ou a partir dele, boa oferta escolar para os seus filhos, espaços públicos e serviços de qualidade. Temos de ser embaixadores do nosso território, mostrando as vantagens de aqui viver.

Em termos de habitação, o que é que ainda falta fazer em Alcácer do Sal?

Em Alcácer do Sal falta fazer habitação que os alcacerenses possam comprar. É importante fazer habitação social, que deve ser de qualidade e servir para haver uma alternativa aos grupos mais carenciados da nossa população. Mas, é preciso pensar na classe média, que tem emprego, tem recursos e, mesmo assim, não consegue pagar os elevados preços dos empreendimentos de luxo que têm proliferado e se destinam, sobretudo, a uma ocupação de férias. Para estas pessoas, o município deve encontrar soluções criativas. Deve fazer loteamentos públicos e vender os terrenos com regras claras, a preços acessíveis, para autoconstrução. Deve, igualmente, criar habitação em edifícios municipais vazios e outros espaços públicos mobilizáveis ou adquirir imóveis devolutos para esse mesmo fim. Deve ter uma atitude criativa e proactiva, que é exactamente o que não aconteceu até aqui. 

E no que diz respeito à criminalidade?

Alcácer do Sal é um concelho seguro, no entanto, notamos algum recrudescimento de episódios relacionados com consumos aditivos e pequenos furtos que entendemos necessitarem de atenção e acompanhamento das autoridades. 

O facto de ser um território muito extenso, com população dispersa, envelhecida e vulnerável, torna imprescindível o trabalho da GNR como elemento-chave para garantir a tranquilidade e segurança, daí me ter batido tantas vezes pelo reforço de meios humanos e materiais para esta força, nomeadamente nas minhas intervenções na Assembleia da República.

A reactivação da estação de comboios é para vocês uma preocupação?

O comboio faz falta a Alcácer, sem dúvida. Mas é preciso reconhecer que o concelho necessita de uma maior complementaridade na oferta de transportes públicos. A ausência de ligações ferroviárias prejudica a mobilidade, mas também não é aceitável, a título de exemplo, que Alcácer do Sal continue fora da Rede Nacional de Expressos Rodoviários.

É urgente garantir uma estratégia eficaz de mobilidade para que a população tenha acesso a alternativas regulares, eficientes e interligadas que respondam verdadeiramente às necessidades locais.

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