Uma década no campo de educação
Os pés que rolam a bola “desde pequenina” são os mesmos que percorrem 350 quilómetros para fazer aquilo pelo qual é “eterna apaixonada”, ser professora. A distância não é um entrave para que possa deixar o Porto por breves instantes e rumar até à Escola Superior de Educação, mas “foi difícil a integração, porque há uma diferenciação entre o Norte e o Sul”. Aos 40 anos de vida, Ana Pereira, aponta como o maior desafio da sua existência “não perder a minha autenticidade, ser aquilo que eu acredito”, num mundo onde é uma chama solitária que arde no meio da escuridão, menciona “sou a única mulher na Licenciatura de Desporto a dar aulas práticas”. A fascinada pelo mundo do fitness abraçou o desafio de coordenar o curso de Desporto pouco depois de embarcar na sua jornada no Instituto Politécnico de Setúbal, em 2014, “julgo que viram em mim algo de diferente para a escola, era uma forma de testarem a colega que vinha de longe”, [sorri]. Foi num florescer no meio de um campo árido que se tornou Presidente do Conselho Técnico-Científico, “estávamos no meio de uma tentativa de um golpe de Estado na Guiné, eu estava retida no hotel há 3 dias”, [sorri nervosa]. Não duvidou das suas capacidades, e propôs-se a este cargo mesmo sabendo que “estavam lá colegas muito mais velhos e com mais anos de experiência”, mas “sentia-me com capacidade e precisava de algo novo na minha vida”. No compasso entre a vida corrida de Ana Pereira e a atividade física, ainda existe espaço para um sopro de calmaria. “Seja numa estação de serviço, num hotel ou num restaurante” e apenas com um livro na mão, a docente distancia-se do som dos apitos do campo e encontra um momento de “bem-estar” na leitura. Sem os seus discentes a sua profissão tornar-se-ia impossível de exercer. Por isso, Ana Pereira acredita que cria um ninho com cada um dos seus alunos, é como “se tivesse um passarinho na mão e construísse uma redoma à sua volta” perspetivando que no fim estes consigam voar sozinhos, “vê-los a sair é um ato de satisfação”, mas deixa claro que “se precisares, sabes o caminho e poderás retomar”. A amante do Padel carrega consigo o peso de ser uma figura feminina com impacto numa área historicamente dominada por homens. “Não tenho de ser chamada de amor, amorzinho, linda”, Ana Pereira acredita que a forma “mais leviana” como as mulheres se apresentam é propícia a “determinados comportamentos”, mas que, de cabeça erguida e um sorriso orgulhoso como se tivesse acabado de marcar um penálti, convence-se de que “temos de assumir que o problema é do outro, não é meu”.