O sonho é a criação de uma orquestra composta por alunos do conservatório
Chama-se Hélder Lopes, quarentão, executante de clarinete, empenhado no com o movimento associativo (MA) desde os 8 anos de idade, presidente há dez da Sociedade Recreativa Musical Trafariense.
“A nossa vertente fundamental é o ensino e divulgação da música, através da banda filarmónica e do conservatório. Os nossos sócios podem também inscrever-se numa das vertentes de artes marciais”, começa por dizer a O SETUBALENSE o dirigente associativo.
E continua: “A nossa grande vantagem é esta sede, que é nossa e está paga. Não nos preocupamos com rendas nem com senhorios. Quanto a funcionários, temos apenas um, no conservatório, e em regime de tempo parcial. Como despesas correntes, inscrevemos a luz e a água. Quanto à senhora do bar, dado à exploração, é de contas certas. No que respeita ao conservatório, vai-se pagando a si próprio, ou seja, as receitas equilibram com as despesas”.
Seja como for, Hélder Lopes reconhece que “não é fácil gerir uma casa como esta. Por exemplo, uma ‘constipaçãozinha’ financeira pôr-nos-ia de imediato em maus lençóis. O dinheiro entra e sai, mesmo com os apoios pontuais da Junta de Freguesia”.
E a Câmara de Almada, em que é que ajuda? – perguntámos. “Gostava que o actual executivo fosse um bom parceiro das colectividades. Não sou apologista que estas andem de mão estendida à espera de subsídios. O poder autárquico devia dizer-nos: vocês estão aqui implantados, vamos estudar como nos podemos ajudar uns aos outros. Lamentavelmente, politizou-se o movimento associativo e acusam-nos de estarmos associados à CDU, o que não é verdade. Mas aproximam-se de nós quando lhes dá jeito. Até lhe digo: a relação do movimento associativo com a Câmara de Almada é a mesmo da de um cidadão do interior do país com o poder instalado em Lisboa.”
E esclarece, na mesma linha: “Não somos dependentes da Câmara. Certa vez, assinámos com a autarquia um protocolo. No ano seguinte, apresentaram-nos outro protocolo, que previa menos dinheiro e mais obrigações da nossa parte. Já não assinámos”.
Apesar de tudo, Hélder Lopes é um homem que sonha. “Acredito que o sonho comanda a vida. Nós sonhámos com um conservatório, e ele aí está. Sonhámos com uma orquestra de música clássica, e durante dois anos ela funcionou”.
Consciente do dever cumprido, ao longo de uma década, o dirigente não voltará a candidatar-se. “Vou deixar o meu cargo para outro, acreditando que o conservatório vingará e dará frutos, que valorizarão a banda. E acredito na possibilidade da criação de uma orquestra formada por alunos do conservatório”.
Fundada para a música, assim continuará
Rezam os registos que consultámos que a Sociedade Recreativa Musical Trafariense (SRMT) nasceu a 8 de Maio do ano de 1900, por vontade de um grupo de pessoas que se juntava na taberna de José Cardoso para discutir as necessidades da população e os benefícios da arte e da cultura. Entendiam elas que a Trafaria também devia ter uma banda filarmónica, como o tinham muitos outros aglomerados populacionais ali bem próximos.
Entre os promotores da iniciativa, conduzida a bom porto, contavam-se homens como o já referido Cardoso, Pedro Gonçalves Perdição, Joaquim Lourenço, Francisco dos Santos, João Silva, José Ribeiro, Manuel Rocha, Domingos Rocha e outros.
O seu nome primeiro foi Sociedade Musical Trafariense, que colocou como prioridade popularizar a cultura musical, através de uma banda, e impulsionar a convivência social.
Entretanto, em 1903, depois da visita à Trafaria do monarca D. Carlos, passou a denominar-se Real Sociedade Musical Trafariense, ganhando o nome que ainda hoje ostenta em 1910, com a implantação da República.
O nome foi cambiando, que não o seu objectivo fundamental: o ensino e divulgação da música, pelo que mantém em funcionamento a escola e a filarmónica.
BI
Nome: Sociedade Recreativa Musical Trafariense
Também conhecida por: SRMT
Localidade: Trafaria
Data de fundação: 8 de Maio do ano de 1900 – 120 anos
Principais actividades: Banda filarmónica, conservatório de música e artes marciais
Actual presidente: Hélder Lopes
Por José Augusto