Grândola: Projecto RELOUSAL traz nova vida mas mantém identidade mineira que nasceu há 120 anos

Grândola: Projecto RELOUSAL traz nova vida mas mantém identidade mineira que nasceu há 120 anos

Grândola: Projecto RELOUSAL traz nova vida mas mantém identidade mineira que nasceu há 120 anos

Centro de Ciência Viva do Lousal

A mina do Lousal foi explorada entre 1900 e 1988, para extracção de pirite e enxofre

 

A mina do Lousal situa-se na Faixa Piritosa Ibérica, uma das regiões metalogenéticas mais ricas do mundo em depósitos de sulfuretos polimetálicos. Embora tenha sido povoada desde o Calcolítico, à época romana remonta a ocupação do Castelo do Lousal, situado a 1 km da mina. Entre o material recolhido entre os séculos XIX e XX, contam-se algumas moedas, cerâmica de construção e de armazenamento e vestígios de escórias, demonstrando, de acordo com a Câmara Municipal de Grândola, “a vocação mineira e metalúrgica do sítio”.

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No seguimento do fervor mineiro no Sul da Península Ibérica e do início da exploração mineira na Caveira, em 1863, surgiram vários pedidos de descoberta dos minérios do Lousal, pirite e ferro, no Registo de Minas da Câmara Municipal de Grândola. Porém, o início da exploração só se verificou em 1900, com Guilherme Ferreira Pinto Basto e Waldemar d’Orey. Entre 1934 e 1936, a Sociedade Mines d’Aljustrel deteve a concessão das minas e, a partir de 1937, passou para a Société Anonyme Mines et Industries, adquirida posteriormente pela SAPEC, que as manteve até ao seu encerramento.
A exploração mineira no Lousal ganhou nessa altura um novo impulso e grande vigor, quando Antoine Velge, e depois o seu filho, Frédéric Velge, com a colaboração do geólogo Gunther Strauss, implementaram a mecanização da mina, novos métodos de extracção, casas para trabalhadores e infra-estruturas sociais. Com isto, a produtividade aumentou, os acidentes diminuíram e as condições de vida dos trabalhadores melhoraram.

Durante a década de 70, e coincidindo com as transformações políticas e económicas ocorridas em Portugal e as crises económicas internacionais, o grupo SAPEC reestruturou-se. A produção de adubos através do ácido sulfúrico retirado da pirite explorada no Lousal deixou de ser rentável devido à obtenção mais económica deste material por outras vias. Dado que a matéria-prima extraída no Lousal era pobre em outros metais, o encerramento da mina tornou-se inevitável, fechando portas definitivamente em 1988.

Aldeia é agora pólo cultural, científico e turístico

Em 1996, a SAPEC S.A. e a Câmara Municipal de Grândola, através da Fundação Frédéric Velge, decidiram lançar o programa RELOUSAL “com o objectivo de reverter o quadro provocado pelo encerramento da mina, apoiando a população residente, promovendo a conservação do património geológico e mineiro e potenciando o acervo histórico, cultural e científico legado por décadas de lavra mineira”.

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A Associação Centro Ciência Viva do Lousal foi criada em 2010, tendo como missão “incorporar, investigar, preservar, valorizar e divulgar o património industrial e mineiro da aldeia do Lousal, bem como promover a ciência e a cultura científica e tecnológica junto da comunidade”, e é actualmente responsável pela gestão e dinamização do Centro Ciência Viva do Lousal – Mina de Ciência, do Museu Mineiro e da Galeria Mineira.
Atribuindo novas valências aos espaços industriais, foram ainda criados um centro de artesanato, um hotel rural e um restaurante regional. O mercado foi reabilitado e foram realizadas intervenções de requalificação urbana nos bairros habitacionais, aumentando a qualidade de vida dos habitantes da aldeia mineira. Mais recentemente foi realizada a reabilitação e musealização do primeiro pólo subterrâneo da Mina do Lousal.

As várias entidades que laboram na região têm vindo a promover “uma concertação de esforços sustentados para o desenvolvimento da aldeia do Lousal”, que pode ser encarada como “âncora do desenvolvimento do território concelhio”, criando oportunidades de emprego e de negócio e transformando-a num importante pólo de dinamização local a vários níveis. Segundo a autarquia grandolense, “o maior retorno do projecto RELOUSAL tem de ser avaliado no âmbito da redinamização social, no reforço da auto-estima e da identidade comunitária da população e na requalificação do território”.

Por outro lado, a transmissão do conhecimento científico sobre a região, realizada pelo Centro Ciência Viva, permite afirmar este sítio como uma referência no turismo temático, cultural e científico do sul de Portugal.

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De acordo com Mafalda Abrunhosa, do Centro de Ciência de Viva, “a aldeia mineira do Lousal é hoje a pedra de toque num território em plena planície alentejana que pretende manter vivas as suas raízes e tradições”, disponibilizando desta forma aos visitantes e à população residente um “museu vivo”, que “congrega a história e a memória colectiva do que ainda persiste do seu tecido industrial mineiro”.

Uma aldeia que nasce a partir de uma mina

Assim se pode descrever a aldeia mineira do Lousal, que “nasceu com a mina e reflecte a sua história”. Chegou a ter 2500 habitantes e 1100 operários. De acordo com a Câmara Municipal de Grândola, “o couto mineiro organizou-se de modo a assegurar a sua autossuficiência, dotando o espaço urbano de bairros de habitação e dos principais serviços e equipamentos necessários à comunidade”.

O seu encerramento, em 1988, devido à redução do interesse económico da exploração, produziu um forte impacto negativo no território. No início da década de 1990 apenas cerca de 600 pessoas continuavam a viver no Lousal. Lentamente, a vida na localidade e todo o seu património edificado foram-se degradando, situação que o projecto RELOUSAL tem vindo a inverter até ao momento presente.

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