26 Abril 2024, Sexta-feira
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Cláudia Silva: A socióloga que quer quebrar tabus e desconstruir os estereótipos de género

Através do projecto ‘Geração Koru’, a jovem de 24 anos pretender abordar temas sensíveis com recurso à interacção

 

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A mutilação genital feminina, a igualdade de género, o bullying, os direitos humanos e a não violência são alguns dos temas que marcam o dia-a-dia de Cláudia Silva. É que a jovem, de 24 anos, ambiciona quebrar tabus e quer, através de acções de sensibilização e formação, desconstruir as normas sociais e os estereótipos de género.

Tudo começou enquanto estava a tirar a Licenciatura em Sociologia, curso concluído em 2019. “Nos meus tempos como aluna apercebi-me que quando se falava sobre determinados temas, que era tudo muito expositivo e não havia interacção. Era só debitar conhecimento”, conta.

Foi nessa altura que a jovem do Barreiro soube que queria criar um projecto em que “os temas mais sensíveis e complexos seriam falados através da interacção, ou seja, com a aprendizagem a estar centrada nas pessoas que participam”. Para levar a ideia para a frente, Cláudia candidatou-se e esteve durante sete meses num programa de mentoria, organizado pelo núcleo de Lisboa do Movimento Internacional para a Igualdade de Género ‘HeForShe’.

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Com a mentora Georgina Angélica, também ela socióloga, conseguiu montar um projecto sólido, com pernas para andar, ao qual deu o nome de ‘Geração Koru’, conceito que “engloba todas as gerações e que na linguagem maori significa o desabrochar da planta em direcção à luz”.

“Entrei no programa com o projecto idealizado, só precisava da ajuda de alguém com experiência, que me pudesse orientar”, explica. Em 2021 nasce o projecto com o qual sonhava desde os tempos de faculdade. “O que eu quero é falar sobre os temas, mas de forma que as crianças ou adultos façam parte da aprendizagem. Espero que todos os que passam pelo projecto saiam mais ricas e com o espírito crítico mais aguçado”.

“São temas importantes que mexem muito comigo”

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Enquanto enumera os temas aos quais quer dar voz, Cláudia, actualmente na StartUp Barreiro, incubadora de negócios do município do Barreiro, deixa passar a fervura com que quer falar sobre os mesmos. “É que são temas que mexem comigo. São importantes para mim porque sou socióloga. Comecei a ter olho e espírito crítico e a aperceber-me que há ainda muita coisa para trabalhar nesse sentido”.

Como hoje ainda não se consegue dedicar a 100% à Geração Koru, vai aproveitando os tempos livres na Escola Básica Telha Nova n.º 1, onde é mentora pedagógica, para “capacitar as crianças para o respeito, para a diversidade e para a não-violência”.

“Estou ali através da Associação Tempos Brilhantes, numa componente de apoio à família, em que as crianças, depois das aulas, vêm ter comigo, mas sempre que posso aproveito para fazer coisas no âmbito do projecto. Tento que eles interajam porque a ideia é também promover relacionamentos saudáveis”.

Sobre a experiência, classifica a mesma como “enriquecedora”. “Foi também por me aperceber que havia falta de oferta educativa atractiva que criei este projecto. O ensino ainda é muito formal e tradicional. A minha ideia é ajudar os próprios professores, com a Geração Koru a ir às escolas falar sobre estes temas”.

Além das salas de aula, uma vez que um dos seus principais focos são as crianças, também já realizou “algumas sessões presenciais e on-line”, mas o objectivo é começar a “ir presencialmente a associações, mais escolas e autarquias”. “Quero mesmo criar acções de capacitação e formações, que são complexas e demoram tempo a organizar”.

Ir ‘além-fronteiras’ do Barreiro e escrever livro entre ambições

No ano seguinte a ter terminado a Licenciatura na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a jovem investiu no curso de Técnica de Apoio à Vítima para “poder trabalhar com vítimas de violência doméstica”.

Também nessa altura criou o blog “Filha da Palavra”, onde “ia partilhando conhecimento sobre fenómenos sociais”. “Foi também aí que percebi que as pessoas não sabiam como intervir ou como falar nestas situações”.

Por este motivo, e por considerar que “são temas que devem de ser tratados de forma a atrair as pessoas”, tenta também que, com os adultos, as actividades “não sejam teóricas ou formais”. “As pessoas, através da interactividade, sem se aperceberem, acabam por aprender mais”.

Por enquanto, explica que o projecto desenvolve-se “muito à base do on-line”. “Não tenho espaço físico porque quando criei a Geração Koru queria que fosse com o menor custo possível”.

No entanto, garante estar já a trabalhar na próxima meta, apesar de ainda notar algumas barreiras. “Quero aproveitar esta altura das férias escolares para promover o projecto, mas infelizmente envio imensos e-mails para as escolas e não obtenho respostas”.

A completar um ano em Julho, Cláudia, incubada na StartUp Barreiro, faz “um balanço positivo à Geração Koru”. “Noto que tem vindo a desenvolver-se e a crescer. Se assim continuar, quem sabe, talvez abra um espaço físico, também para ter convidados, apresentações de livros e outras acções”.

A ideia passa igualmente por expandir “além-fronteiras do Barreiro” e por escrever um livro. “Quero andar por Portugal inteiro e até ir até ao estrangeiro e um dos meus sonhos é escrever um livro infantil, sempre direccionado para estes temas”.

Jornalismo na calha e voluntariado nos tempos livres

Antes de optar pela sociologia, que “caiu de pára-quedas” na sua vida, a jovem de 24 anos ponderava ser jornalista. “Queria mesmo ir para comunicação social, mas na altura falaram-me que sociologia era um curso mais abrangente e arrisquei, felizmente”.

Apesar de ser um curso que “primeiro estranha-se e depois entranha-se”, Cláudia confessa estar feliz com a escolha. “Abriu-me muito a mente. Conheci muitas pessoas diferentes na faculdade e foi isso que também me fez ter espírito crítico”.

Já nas horas vagas, a jovem gosta de participar em acções de voluntariado, “quer seja de luta contra a pobreza, como de protecção animal”. Além disso, faz parte do Moto Clube do Barreiro. “Esta vertente do associativismo está muito presente na minha vida”.

 

Cláudia Silva à queima-roupa

Idade 24 anos

Naturalidade Barreiro

Residência Barreiro

Área Sociologia

Através de acções de sensibilização e formação, quer enriquecer e aguçar o espírito crítico das pessoas para os temas sensíveis que lhe correm nas veias

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