27 Abril 2024, Sábado
- PUB -
InícioEdição 1000167º aniversárioRicardo Monis: O sociólogo que pretende criar um mundo inclusivo através da...

Ricardo Monis: O sociólogo que pretende criar um mundo inclusivo através da educação

Autor e protagonista do livro ‘Ricky’, o jovem descreve-se como “uma pessoa que nasceu com características diferentes, mas que nunca se deixou ficar”

 

- PUB -

À nascença foi-lhe dada uma esperança média de vida de apenas dez anos, mas Ricardo Monis conseguiu mostrar desde cedo resiliência e força de vontade e superou todas as previsões.

O jovem de 23 anos foi diagnosticado, ainda em bebé, com Atrofia Muscular Espinhal Tipo 2, patologia progressiva neuromuscular que provoca o enfraquecimento dos músculos e o condiciona a uma cadeira de rodas.

Foi no seu primo, Lucas Chipenda, de igual idade, que Ricardo encontrou um dos seus principais pilares e é com quem partilha aventuras e problemas. A partir da cumplicidade de ambos, e da vontade de contar as histórias vividas, surgiu o livro ‘Ricky’, obra que pretende “dar alguma representatividade às pessoas com deficiência” e sensibilizar as crianças para esta condição.

- PUB -

“Na minha infância reparava que não havia muitas personagens, ou até mesmo nenhumas, em que eu me pudesse identificar com elas”, explica o jovem de Setúbal. Foi esta a principal razão que levou os primos a avançarem com o livro. “É um retrato da minha infância com o Lucas e da adaptação das nossas brincadeiras à minha condição”.

Para o jovem, “é muito importante estar junto das crianças, consciencializá-las sobre isto e deixar que perguntem o que quiserem”. “Muitas vezes, quando vêem a cadeira de rodas, acham engraçado o facto de esta andar sozinha e fazem perguntas aos pais, que ficam atrapalhados e até dizem ‘não olhes, não interajas’”, confessa.

Para Ricardo, este tipo de situações cria “barreiras” nos mais novos, que, na sua visão, acabam por não ser educadas a lidar com estas realidades. Por este motivo, o autor do livro lançado no início deste ano pretende visitar “o máximo de escolas e bibliotecas”. “Nós queremos ir ter directamente com estas crianças e mostrar que eu não sou assim tão diferente delas. Acho que o segredo para o mundo inclusivo está na educação”.

- PUB -

A obra, escrita em “encontros semanais, por partes”, contou com a “ajuda de Carlos Luís, que faz parte da direcção da Fundação Gil”. “Tenho fisioterapia uma vez por semana em casa e ele, numa dessas visitas, acompanhou a fisioterapeuta e achou muita piada às minhas ideias e características. Tem puxado bastante por mim”.

Mãe é “uma guerreira” e pai o pilar da família

A residir em Pinhal Novo, Palmela, Ricardo conta que a recepção do diagnóstico na infância exigiu algumas mudanças por parte da família ao nível da organização. “A minha mãe tomou a decisão de deixar de trabalhar. Abdicou do mundo laboral para me dar as condições necessárias, que, basicamente, era estar comigo 24 horas por dia. Nesse sentido, ela é uma guerreira”.

Já o pai “teve de continuar a trabalhar para sustentar a família”, enquanto os dois irmãos mais velhos de Ricardo nasceram “sem qualquer tipo de patologias semelhantes”. Recentemente, o jovem começou a “tomar um xarope inovador, que tem vindo a travar o progresso da doença”. “Tomo desde Fevereiro e já noto algumas diferenças. Por exemplo, já consigo estar sentado sem apoio”.

No que toca à educação, afirma sempre ter sido “uma pessoa muito sortuda” com as pessoas com quem teve oportunidade de privar na escola. “Uma das grandes paixões que tenho é o futebol, o que é algo engraçado porque nem todos imaginam uma pessoa de cadeira de rodas a jogar à bola”.

Contudo foi, “de facto, possível porque as crianças conseguiram adaptar-se às características” do jovem ao longo do seu percurso. “Apanhei sempre as pessoas certas”, garante.

O primo, a companhia da vida de Ricardo, de quem tem apenas dez dias de diferença de idade, descreve o jovem de Setúbal como alguém “bem-humorado, bastante brincalhão e que procura estar sempre activo.” “Tem o espírito de lutador e, acima de tudo, é muito ambicioso”, revela Lucas.

Ambição leva jovem a licenciar-se em Sociologia

É o espírito ambicioso que leva Ricardo a procurar sempre atingir os seus objectivos. Recentemente licenciado em Sociologia pelo ISCTE, o que acabou por se tornar “um azar feliz”, uma vez que a sua primeira opção era Psicologia, o jovem diz ter escolhido a área para poder “perceber de que forma é possível construir uma sociedade mais inclusiva”.

Apesar de ter a intenção de “continuar a estudar e tirar mestrado”, Ricardo quer agora parar “um ou dois anos para decidir o que fazer da vida”.

No que diz respeito à sua recente obra, escrita em “cerca de quatro meses, fora as ilustrações, que demoraram outros quatro meses”, a opinião tem sido “muito positiva” e as suas expectativas foram excedidas. “Conseguimos vender a primeira edição em cerca de três meses. No fim desta edição, também tivemos a oportunidade de ir a uma escola em Almada. Estávamos com receio, por serem miúdos do 1.º ao 4.º ano, mas foi incrível. Parecíamos dois heróis, com toda a gente a gritar os nossos nomes”.

Desde o momento em que a ideia passou para o papel, o livro demorou cerca de um ano a ser escrito e colocado à venda. “Vendemos 500 exemplares na primeira edição. Na segunda, que está a ser apoiada pelo grupo Roche, colocámos mais 500 livros à venda”.

Actualmente com actividade aberta como autor, Ricardo tem como objectivo principal “percorrer o país todo”. “queremos ir ao máximo de escolas possíveis. O sonho também é pôr o nosso livro lá fora”. Para tal, os primos estão já “em conversações com algumas editoras americanas”.

“Além disso, quero desenvolver a minha competência como narrador e dar palestras a empresas com tópicos como a inclusão e a motivação. Acho que facilmente posso contemplar um futuro nessa área”, assegura.

Em mente, o sociólogo tem a intenção de continuar a escrever livros e, quem sabe, até dedicar-se a algo “mais pessoal”. “Gostava de escrever algo mais direccionado para a minha condição. Uma coisa mais biográfica. Criei recentemente um blog para testar este meu lado e, até agora, as respostas têm sido muito positivas”.

 

Ricardo Monis à Queima-Roupa

Idade 23 anos

Naturalidade Setúbal

Residência Pinhal Novo, Palmela

Área Escrita e Sociologia

Com um livro já publicado, o objetivo é continuar a escrever e “percorrer todo o país”

- PUB -

Mais populares

Cavalos soltam-se e provocam a morte de participante na Romaria entre Moita e Viana do Alentejo [corrigida]

Vítima ainda foi transportada no helicóptero do INEM, mas acabou por não resistir aos ferimentos sofridos na cabeça

Árvore da Liberdade nasce no Largo José Afonso para evocar 50 anos de Abril

Peça de Ricardo Crista tem tronco de aço corten, seis metros de altura e cerca de uma tonelada e meia de peso

Homem de 48 anos morre enquanto trabalhava em Praias do Sado

Trabalhador da Transgrua estava a reparar um telhado na empresa Ascenzo Agro quando caiu de uma altura de 12 metros
- PUB -