Desde a sua refundação, nos anos 70, que a gente de São Domingos se empenhou em apoiar o clube como podia. Não só os moradores, mas também os estabelecimentos comerciais. Um destaque especial vai para o “Las Vegas”, um estabelecimento antigo e muito versátil (que hoje está encerrado) bem no coração do bairro de São Domingos, na Rua Edmond Bartissol.
O sr. Rui foi o primeiro proprietário deste espaço que, inicialmente, era uma casa de fados, pois a própria esposa do proprietário, Isabel, era fadista. O fado, nos anos 80, não estava tão na moda como nos dias de hoje, e era conotado negativamente por causa do ambiente “vicioso” à sua volta. Por isso, algumas pessoas do bairro começaram a especular que o “Las Vegas” era uma boîte, um local de perdição. Face aos boatos, Rui acabou por decidir: “Já que tem esta fama, vou ter o proveito!”. E começou a funcionar realmente como um bar de alterne!
As histórias à volta deste lugar de “libertinagem” são muitas: homens e rapazes perdidos à volta de bailarinas meio desnudas, mulheres e esposas revoltadas, barulho até às tantas. Então, dado que o bar criava alguns problemas na vizinhança (barulho e movimentos suspeitos), o “Las Vegas” resolveu apoiar e patrocinar o clube do bairro, oferecendo umas taças como operação de charme para acalmar o povo. O São Domingos Futebol Clube chegou a ter o patrocínio do estabelecimento, com o nome bem visível nas camisolas dos atletas que competiam nas corridas e nos jogos de futebol e futsal. Este patrocínio chegou já na altura de um outro dono do “Las Vegas”, o afrodescendente Domingos, que foi o último proprietário nos anos 90 e na primeira década do século XX, até o local fechar.
Apesar da peculiaridade “picante” do patrocínio, a ligação Las Vegas – São Domingos era um ótimo exemplo desta simbiose entre o bairro, os seus habitantes, a sua economia local e o clube.
Estas e outras histórias farão parte do livro do São Domingos Futebol Clube, a lançar no centenário do clube em 2021.
Eupremio Scarpa*
*investigador em história do desporto