Três expulsões ajudam a explicar derrota por 3-0 com o Boavista. Presidente fala em “encomenda” e classifica arbitragem de “nojo”
Na história recente não há memória de um jogo como o que aconteceu esta segunda-feira no Bonfim, estádio onde o Vitória foi derrotado pelo Boavista, por 3-0. Três expulsões no espaço de seis minutos – José Semedo (67), Zequinha (71) e Jhonder Cádiz (73) – acenderam o rastilho nas bancadas onde a ira dos vitorianos teve como alvo o árbitro Fábio Veríssimo.
No final do encontro, Vítor Hugo Valente foi à sala de imprensa tecer duras críticas à arbitragem. “O que se passou aqui hoje não foi uma vergonha, foi um nojo! O senhor Veríssimo foi um carteiro, com encomendas para hoje e para o próximo jogo. Sabemos o que se passou”, disse, revelando que os jogadores estavam no balneário a chorar.
Os incidentes registados levaram à intervenção da polícia de choque que impediu os adeptos de invadirem o campo de jogo. A partida esteve interrompida cerca de 10 minutos – entre os 73 (altura em que Jhonder Cádiz é expulso) e os 83 minutos – e só foi retomada devido aos pedidos de alguns jogadores do Vitória para que os adeptos se acalmassem.
A contestação começou quando o juiz de Leiria não permitiu que Mikel Agu entrasse em campo (foi o escolhido para entrar para o lugar do expulso José Semedo), tendo o Boavista conseguido colocar-se em vantagem no marcador nessa altura por Yusupha, aos 70 minutos. A partir daí, as coisas só pioraram, Zequinha foi expulso quando ia ser substituído e Cádiz viu o segundo cartão amarelo e a consequente expulsão.
A jogar contra oito elementos (sete jogadores de campo e o guarda-redes Makaridze), o Boavista ampliou o marcador por Perdigão e Gustavo Sauer, aos 90 e 90+13 minutos, respectivamente. O 3-0 complica em muito as contas da permanência do Vitória, enquanto o Boavista alcançou a continuidade entre a elite do futebol nacional.
No início do jogo, nada fazia prever o que aconteceu. Antes do apito inicial, ambos os clubes sabiam que um deles veria no final do encontro consumada a continuidade no escalão principal, independentemente do desfecho que se registasse. As contas eram mais simples para os ‘axadrezados’ a quem basta um empate para o atingir, enquanto os sadinos tinham de vencer.
Sem vencerem há quatro partidas, os vitorianos tinham como objetivo reencontrar-se com os êxitos depois de ter vencido pela última vez na recepção ao Marítimo (1-0). Daí para cá, tiveram uma derrota com o Benfica (4-2) e dois empates com o Portimonense (1-1) e Santa Clara (0-0). Já os portuenses traziam como motivação o triunfo, 3-1, na ronda passada na receção ao Moreirense.
Na partida que marcou o regresso do treinador Lito Vidigal a Setúbal, depois de ter deixado o comando técnico em Janeiro, acabando por rumar ao Boavista, os adeptos sadinos fizeram questão de apupar o técnico com apupos no início do jogo quando este se dirigiu para o banco de suplentes. Lito Vidigal não ficou indiferente e retribuiu… com aplausos para a bancada central coberta.
Dentro das quatro linhas, ambas as equipas entraram cautelosas. Por razões evidentes, o Boavista foi a equipa que jogou mais na expectativa. O primeiro remate intencional à baliza foi de Éber Bessa, aos 14 minutos. A bola saiu próximo da bandeirola de canto não criando qualquer perigo para os axadrezados.
Ao contrário desse primeiro lance, no minuto seguinte, o Vitória acercou-se com perigo da baliza contrária. Um cruzamento de Zequinha na direita para Jhonder Cádiz quase originou autogolo de Jubal que, na tentativa de tirar a bola da zona de perigo, levou a bola a passar sobre a trave.
Aos 16 minutos, o Boavista, que surgiu em Setúbal para jogar claramente com o cronómetro, visou pela primeira e única vez no primeiro tempo a baliza de Makaridze. O remate intencional de Neris foi travado de forma segura pelo guardião georgiano.
Até ao intervalo, o Vitória rondou a área do Boavista várias vezes, sendo que a melhor jogada desse período acionteceu aos 25 minutos. Zequinha, de trivela, lançou Jhonder Cádiz que fugiu a Edu Machado e cruzou para o segundo poste, onde surgiu Nuno Valente a rematar muito perto do poste esquerdo da baliza de Bracali.
Aos 29 minutos, André Sousa tentou um cruzamento remate que saiu sobre a trave. Aos 34 foi a vez de Artur Jorge subiu à área para cabecear perto do ferro, depois de um livre directo apontado por Éber Bessa. A última tentativa de chegar ao golo do Vitória, antes de Fábio Veríssimo apitar para o intervalo, foi protagonizada por Nuno Valente, médio que testou a meia distância num remate que saiu ao lado do poste esquerdo.
Nos primeiros minutos da segunda parte a toada manteve-se com o Vitória a assumir por completo as despesas do jogo. Depois de um primeiro aviso de Zequinha, aos 47 minutos, os sadinos quase marcaram, aos 52, quando o mesmo jogador assistiu Jhonder Cádiz que rematou, com o peito, ao lado do alvo.
De forma tímida, o conjunto treinado por Lito Vidigal, que tinha comandado o Vitória até à 18.ª jornada, chegou à baliza de Makaridze num remate cruzado de Yusupha, aos 64 minutos, que saiu ao lado do poste esquerdo.
Aos 67 minutos, surgiu a expulsão de José Semedo por entrada dura sobre Gustavo Sauer. Logo a seguir, veio o golo (1-0) e mais duas expulsões e a revolta dos adeptos que manifestaram até muito depois do jogo o seu desagrado nas imediações do estádio. Além da derrota e das circunstâncias em que esta aconteceu, o Vitória fica agora impedido de utilizar os jogadores expulsos na próxima jornada, em Chaves.
O presidente Vítor Hugo Valente disse que “quem pensar que empurra o Vitória [para a descida de divisão] está enganado”. Além disso, prometeu autocarros gratuitos para os adeptos que queiram apoiar a equipa em Trás-os-Montes.