Jorge Prazeres está de volta à 1.ª da AF Setúbal, desta feita para treinar o Comércio e Indústria depois de na época passada ter deixado o campeão [Fabril] na primeira posição com uma vantagem muito dilatada, numa saída que nunca foi explicada.
Que razões estão por detrás destas duas decisões?
A minha saída do Fabril nunca foi explicada por respeito há instituição e ao grupo de trabalho. Toda a gente conhece a forma de estar e ser do presidente. As trocas de treinadores são constantes por duas razões. Por tudo e por nada. De qualquer forma o que realmente conta para a história é que eu peguei num grupo de jogadores que transformei, com a minha equipa técnica, numa equipa coesa e ganhadora. Aquele grupo fez em 4 meses o que outros clubes demoraram 4 anos. Todo o esforço que a estrutura fez em me tentar apagar da foto, apenas colhe naquele círculo restrito. Até a questão que evocam do plantel escolhido pelo Mister Boris não é correcto na sua extensão, por quanto 5 dos 12 jogadores mais utilizados foram levados por mim. O grupo de trabalho foi inexcedível, mantendo-se firme, apesar de toda a loucura e instabilidade criada. Deixei a equipa com 12 vitórias consecutivas, 12 pontos de avanço, melhor defesa e melhor ataque, mas não chegou.
Como chega ao Comércio?
Tive dois convites do CNS. Um deles era um convite há muito desejado. Um clube histórico, com um presidente e um director desportivo que são simplesmente fantásticos, no apoio e na protecção que fazem as suas equipe técnicas, nos bons e maus momentos. Algo que tem faltado nas equipas que treinei, com raras excepções. A alteração da hora do treino para o período da noite, retirou-me a possibilidade de ficar. A minha família e o acompanhamento dos meus filhos é prioridade para mim. O Comércio surge porque na direcção existem pessoas por quem nutro muita amizade há anos. Nunca me passou pela cabeça voltar a treinar na distrital. O CNS é um campeonato semiprofissional, com muita qualidade e onde me sinto muito bem, pelo desafio constante. A direcção do Comércio, depois da subida, perguntou-me se haveria alguma chance de eu poder assumir e ajudar no crescimento sustentado do clube, com base na minha experiência profissional e desportiva, acabei por ceder, não auferindo nenhum tipo de remuneração, porque o meu amigo Gonçalo Tavira tudo fez para eu ficar. Até os horários da formação foram alterados para poder encaixar as minhas responsabilidades.
Mas o mister Carlos Ribeiro disse que tudo já tinha sido acertado antes.
Costuma-se dizer que presunção e água benta, cada um toma a que quer. Eu podia ser deselegante e chegar ao nível de quem me antecedeu, mas prefiro manter algum recato. No entanto, apenas digo que gosto de aprender sempre com os melhores, o que não é obviamente o caso. As duas visitas que fiz ao campo, por sinal foram para ver se as minhas máquinas poderiam fazer alguma coisa pelo relvado, e ajudá-lo. A passagem para a Várzea quiçá teve algo a ver com isso. No jogo da subida, cheguei ao intervalo e só lá fui porque fui convidado pelo Gonçalo Tavira. Tem que se ter em muito boa conta para pensar que eu andava a canibalizar o seu lugar. Renovaram 90% dos jogadores do ano passado, questionem se eles queriam ficar caso se mantivesse o mesmo treinador. Para bom entendedor meia palavra basta.
Com o plantel que está a construir, o Comércio vai ser candidato à subida de divisão?
Um grupo de jogadores não é uma equipa coesa e vencedora. O facto de termos 2/3 atletas que tiveram carreiras desportivas no alto rendimento, não pode alterar o conceito e objectivo da época. O plantel tem qualidade para fazer um campeonato tranquilo. Queremos como equipa, transformar o mais rapidamente possível o potencial intrínseco em qualidade efectiva e trabalhar muito, de forma humilde com ganas de fazer mais e melhor todos os dias. Quando formos todos uma família, vamos ser muito difíceis de bater. Mas, há outras equipas que pelo processo anterior de consolidação são mais candidatos. O Oriental Dragon desde logo pelo investimento impressionante, um naipe de jogadores pagos a peso de ouro e um treinador competente; o Alcochetense pelo grupo que foi campeão da segunda volta do campeonato passado e se reforçou cirurgicamente, sob a batuta de um treinador que terá oportunidades em campeonatos superiores muito rapidamente; o Barreirense que se reforçou com jogadores com muito “coração” e “atitude” a juntar à qualidade já existente e a um público que empurra muito a equipa, são os grandes candidatos. Depois há o Sesimbra e o Vasco da Gama que têm plantéis muito estáveis, com excelente dinâmica e que em casa são terríveis. Todos eles são mais candidatos que o Comércio.
Há algo mais que queira acrescentar?
Apenas dizer que há dois anos atrás quando o Comércio falhou a subida eu assisti ao jogo e vi as bancadas completamente lotadas. Estavam mais de 1400 pessoas. Gostava muito de ver o campo da Bela Vista sempre bem composto. Podemos não ganhar sempre mas vamos correr muito em todos os jogos. Temos matéria-prima de qualidade e o Comércio é claramente o segundo clube da cidade. Vamos todos fazer jus ao lema do clube. Somos raça que nunca se vergará.