Treinador que assinou o contrato e a rescisão ao mesmo tempo está arrependido do que fez e aponta o dedo a toda a estrutura do clube também por outras situações.
Marco Bicho foi contratado na parte final da época passada para comandar o Oriental Dragon nas derradeiras jornadas da Liga 3. O trabalho realizado foi satisfatório e daí o convite para continuar a dirigir o clube esta época no Campeonato de Portugal. Fez toda a pré-época mas na semana em que a equipa se preparava para fazer o seu primeiro jogo oficial [para a Taça de Portugal, com o 1.º Dezembro] foi despedido.
Segundo Marco Bicho, esta é a segunda vez que acontece no mesmo local (Pinhal Novo), em clubes diferentes (Pinhalnovense e Oriental Dragon) mas com o mesmo protagonista.
“Tudo começou logo no início da época com a questão do treinador de guarda-redes, eu opus-me e começámos a construir o plantel mas no primeiro jogo-treino com o Vitória Futebol Clube, que perdemos por 8-0, pediram-me para mandar embora dois jogadores. Eu não gostei da decisão, reflecti durante dois ou três dias e depois disse que se isso acontecesse me ia embora também”, começou por explicar o treinador.
Redução de vencimento a jogadores
Entretanto, prossegue Marco Bicho, “vim a saber que o contrato que tinha assinado ainda não havia dado entrada na Federação Portuguesa de Futebol e, como é evidente, senti que a minha situação não estava confortável. Ainda para mais porque fiz uma coisa que não deveria ter feito mas que é usual neste clube, assinar na mesma altura um outro contrato de rescisão. Isto não é legal e eu estou arrependido de o ter feito mas entendi expor agora o caso para deixar o alerta a outros treinadores que venham eventualmente a ser convidados para trabalhar neste clube”.
Mas, voltando um pouco atrás, “foi dito também que os jogadores que eu tinha ido buscar estavam igualmente na calha para sair. O dono do clube, senhor Chen, sugeriu que fosse retirado dinheiro aos jogadores, houve um elemento da estrutura que tentou rebater a sugestão mas o director desportivo reforçou a ideia do patrão, dizendo que se é para baixar, então baixa-se. Resumindo, para além de ser desumano, demonstra também uma grande falta de ética”.
“Foi tudo feito nas minhas costas”
Aos ouvidos de Marco Bicho chegou a informação que quando ainda se encontrava ao serviço do clube tinham sido contactados dois treinadores para o substituírem. Por isso, considera que a sua saída era inevitável.
“Esta é a segunda vez que sou despedido uma semana antes de começar o campeonato e a minha imagem tem que ser protegida porque não foi por incompetência. Confesso que a equipa técnica estava a trabalhar sobre brasas e que sentíamos que a qualquer momento algo poderia acontecer, se os jogadores saíssem. Para testar o que estavam a planear, em determinada altura disse que já não sairia mesmo que os jogadores fossem embora. Resultado, 15 minutos depois recebi uma chamada a comunicar que já não contavam comigo como treinador. Portanto, cheguei à conclusão que foi tudo feito nas minhas costas, o que será de lamentar porque uma pessoa que desempenha o cargo de director desportivo e que supostamente devia estar sempre em sintonia com o treinador tenha feito uma coisa destas. Logo aí se vê que não havia confiança nenhuma em trabalhar comigo”, refere Marco Bicho que adiantou também que em determinada altura lhe disseram que não havia orçamento para mais ninguém e depois da sua saída foram contratados mais três jogadores”.
Marco Bicho manifestou também o seu desagrado pela forma como é aplicada a política de dispensas no clube, e cita apenas dois exemplos: “queriam mandar embora um avançado que na nossa opinião, no momento, era o melhor da equipa, nós dissemos isso ao director desportivo mas ele vira-se para nós e diz, então vai o outro avançado embora. Outra situação tem a ver com o facto de numa semana não terem inscrito um defesa porque era mau jogador e na semana seguinte já o inscreveram porque era rápido. Foi com estes exemplos que fomos lidando praticamente todas as semanas”.
“Brincar com a vida das pessoas”
“O Oriental Dragon é um clube como os outros e tem todos os direitos mas acho que a Federação Portuguesa de Futebol deve tomar medidas para defender os jogadores e os treinadores. O que aconteceu, volto a frisar, é desumano, as pessoas são contratadas para trabalhar durante uma época e de um momento para o outro são afastados, sem mais nem menos. Neste caso não houve o mínimo de respeito, são todos responsáveis incluindo o advogado que o ano passado só falava mal dos jogadores. As pessoas têm que saber o que se passa no futebol”, fez questão de salientar.
A finalizar esta nossa conversa Marco Bicho mostrou-se receptivo e disponível para abraçar outro projecto mas deixou o aviso. “Quem quiser trabalhar comigo tem que proceder de forma correcta. Eles aqui fazem isto há vários anos e já fizeram comigo mas eu como tenho confiança no meu trabalho não fiquei preocupado com isso. Aqui a questão não tem nada a ver com a rescisão porque eu ia-me embora na mesma mas tenho que expor o que se passa no futebol e denunciar os intrujas que cometem estas ilegalidades porque não se deve brincar com a vida das pessoas”.