O Comércio Indústria que, no próximo dia 24 de Junho, comemora o seu 102.º aniversário, recebeu da sua equipa de futebol sénior uma prenda antecipada, o título de Campeão Distrital da 2.ª Divisão e o consequente regresso ao escalão máximo do futebol setubalense, de onde havia saído na época de 2016/2017.
“Olhando para a classificação dá sensação de ter sido fácil mas só nós é que sabemos as dificuldades que tivemos, ao longo destes 10 meses de trabalho. Havia adversários com melhores condições mas nós demonstrámos em campo que éramos melhores porque tivemos muita vontade e grande dedicação. Portanto, não foi tao fácil como pode parecer”, começou por dizer ao Setubalense – Diário da Região, Carlos Ribeiro, o treinador da equipa campeã.
“Durante os primeiros dois meses tivemos todas as condições para trabalhar com um campo maravilhoso, daí a réplica que demos às equipas da 1.ª divisão na fase de grupos da Taça AFS em que encostámos completamente o Barreirense ao seu meio campo e em que ganhámos ao Alcochetense, jogos em que a qualidade do plantel ficou bem patente. Depois, quando o futebol juvenil começou a treinar e a jogar, o campo ficou em más condições e as dificuldades começaram a surgir. Mas convém dizer que aquele é o campo do Comércio Indústria e as equipas do futebol juvenil também são do Comércio Indústria. Por isso, não adianta estar a chorar, tinha que ser mesmo assim, não havia outra alternativa”, lembrou o treinador que na fase final passou a jogar na Várzea, no campo cedido pelo Vitória Futebol Clube a quem muito agradeceu porque foi fundamental para o sucesso.
Duas ou três peças importantes
O Comércio Indústria assumiu-se desde o início como candidato à subida de divisão correndo algum risco, mas o treinador desvaloriza a situação.
“Não tínhamos nada a esconder porque o nosso objectivo era mesmo esse. No ano passado já tínhamos assumido e este ano voltámos a fazer o mesmo. Não considero um risco ter assumido o objectivo porque o clube está no centro de uma cidade onde existem muitos jogadores e desses cerca de 90% gostariam de jogar no Comércio Indústria, como ficou comprovado no início da época quando fizemos dois treinos de captação onde apareceram mais de 90 jogadores, em cada um deles”.
Carlos Ribeiro adiantou que assumiu a candidatura porque tinha plena confiança no plantel.
“Já tínhamos uma base que vinha da época anterior. E, a estes juntámos mais duas ou três peças que considerávamos importantes, extremos rápidos que tivessem por alvo a baliza contrária e que criassem alguns desequilíbrios no ataque e ainda um jogador com características difíceis de encontrar no futebol distrital, que segure bem a bola e não dê grandes hipóteses aos defesas adversários, como é o caso do Djá. E, assim, com maior ou menor dificuldade, conseguimos chegar onde queríamos”.
Espinha atravessada na garganta
Sobre a forma bastante competitiva como decorreu esta fase final o treinador da equipa setubalense confidenciou que “esperava que o campeonato ficasse partido ao meio, com três equipas na corrida e as restantes a perderem o comboio. Mas um ou outro resultado menos esperado baralhou por completo o campeonato e isso foi bom para nós. Houve equipas que surpreenderam pela positiva ganhando fora, na casa do Seixal e na Costa da Caparica, e isso fez com que esta fase fosse mais equilibrada”.
Carlos Ribeiro, porém, ficou com uma espinha atravessada na garganta, na Costa de Caparica onde perdeu com os Pescadores. “Poderíamos ter alcançado outro resultado porque não fomos nada inferiores ao adversário mas falhámos algumas situações claras de golo. Esse resultado atrapalhou um pouco as nossas contas mas não perdemos a confiança e ganhámos os dois jogos seguintes, com o Almada e o Alcacerense, na Várzea, e ficámos mais tranquilos porque os nossos adversários ainda tinham que jogar uns contra os outros”, rematou.
Sintético na Bela Vista
O nosso jornal falou também com Paulo Cacela, Chefe do Departamento de Futebol do clube setubalense que anunciou a colocação de um piso sintético no Campo da Bela Vista.
“O ano passado morremos na praia mas este ano conseguimos corrigir alguns pormenores, voltámos a apostar na mesma equipa técnica e, com uma estrutura mais forte, construímos um grupo fantástico”, disse a propósito Paulo Cacela que considera que o regresso à 1.ª Divisão vem com um ano de atraso.
“Esta direcção, que tomou conta dos destinos do clube há dois anos, encontrou o clube numa situação muito difícil, aos poucos fomos endireitando a nau e neste momento podemos dizer que é gratificante ver aquilo que foi conseguido”, fez questão de salientar o responsável pelo futebol do clube que chamou também a atenção para a importância do futebol de formação.
“Agora fala-se muito na subida de divisão e no título conquistado mas é preciso não esquecer que o Comércio não é só futebol sénior. Temos mais de 200 atletas, uma estrutura de formação muito alargada e acabámos de conseguir o nível 3 do Certificado da Entidade Formadora, coisa que na cidade de Setúbal ninguém mais conseguiu. Isto é bem demonstrativo do trabalho que estamos a desenvolver, a nível da formação. O cidadão comum diz que o Comércio está na 2.ª Divisão e tem um relvado em más condições e esquece-se do resto mas eu diria que o Comércio está vivo e com muita saúde. Para esta época tínhamos dois objectivos, um já está conseguido, agora falta o outro, que é a implementação do sintético no Campo da Bela Vista. Tudo indica, portanto, que vamos finalmente ter o Comércio no Comércio”, deixou bem vincado.