O “clã Tomé” é um dos nomes com maior ligação ao desporto de Setúbal, incluindo com o São Domingos Futebol Clube. Fernando Tomé esteve nas fortíssimas equipas do Vitória dos anos 60 e 70, mas o talento vem de trás, da família do popular Bairro Santos Nicolau, apenas separado do Bairro de São Domingos pelo cemitério. O pai e os tios jogaram todos pelo União Argentino, clube popular do bairro: Adriano Tomé, do Vitória e das Minas da Panasqueira (onde foi mineiro); João Tomé, pai de Fernando, “ás” no Sporting da Covilhã e presidente dos “Amarelos” no seu bairro; José Luciano, o mais novo, das reservas do Vitória.
Foi o segundo mais velho, José António Tomé Petronilho, nascido em 1918, a jogar na equipa do bairro vizinho. Figura típica do Bairro Santos Nicolau, jogou no Club Foot-Ball Setubalense, passou a craque do São Domingos e, daqui, voltou para “casa”, para o União Argentino.
Leiteiro de profissão, jogava a defesa no Setubalense antes de sair para o São Domingos em 1940. Tão importante como o seu talento, José António era caracterizado pela impetuosidade, sendo suspenso logo no início da época. Talvez por isso tenha começado a jogar em posições cada vez mais ofensivas. Ainda no Setubalense, registara suspensões por “rasgar o cartão” (talvez a protestar uma decisão do árbitro) e por “jogo violento”. Garantia: “Ou passa a bola ou passa o jogador”.
Por essa fama que gerou, tinha problemas com os “homens de preto”, como o árbitro Libertino Domingos, que o expulsou mais do que uma vez. O episódio mais caricato passou-se no Campo dos Arcos. Ao preparar-se para entrar no retângulo de jogo, perguntou a um colega: “Quem é o árbitro hoje?”. “É o Libertino Domingos”. “O quê? Esse filho da puta?”. O árbitro ia a passar nesse preciso momento, ouviu e expulsou-o no aquecimento! Uma história que adorava contar, rematando sempre com: “Devo ser o único jogador do mundo expulso antes do jogo começar”.
Estas e outras histórias farão parte do livro do São Domingos Futebol Clube, a lançar no centenário do clube em 2021.
João Santana da Silva*
*historiador