Não são novas as deficiências que se registam nos estabelecimentos escolares públicos do concelho de Montijo. Quer em termos de infraestruturas, quer em termos de pessoal para assegurar o seu regular funcionamento. Com efeito, praticamente todas as escolas do concelho têm ou tiveram problemas que conduzem, agora ou na altura, a maior ou menor contestação popular. Assim de repente, e recorrendo à memória recente, lembro-me: das obras intermináveis da Escola Jorge Peixinho e da Escola Luís de Camões; dos problemas na Escola Poeta Joaquim Serra e Escola do Bairro da Liberdade; da falta de condições na Escola Primária do Afonsoeiro e da Escola do Alto Estanqueiro; da Escola do Esteval, que embora de construção recente já apresenta sinais de degradação, bem como recorrentes episódios de violência; das coberturas de fibrocimento (ilegais no país desde 2005) que se mantêm em alguns estabelecimentos; das intervenções mal programadas, no tempo e na forma, nos espaços escolares; da falta generalizada de trabalhadores não docentes. A lista é extensa e podia continuar, mas é irrelevante, pois é bem percetível os problemas com que se depara o concelho Montijense em termos de funcionamento da sua rede educativa pública. A paixão pela educação está a tornar-se num relacionamento conturbado para toda a comunidade.
Os recentes acontecimentos na Escola D. Pedro Varela voltam a colocar na ordem do dia um problema que ciclicamente conduz à indignação de pais e alunos. O fecho a cadeado do portão da escola por parte dos alunos, no dia 29 de Novembro de 2018, deixa bem vincado que a paciência atingiu o limite. Nessa mesma noite, a Assembleia Municipal de Montijo foi das mais concorridas que há memória, com os pais e encarregados de educação dos alunos da citada escola a encherem o espaço destinado ao público. Muitos ficaram em pé fora da sala e alguns fizeram uso da palavra no período estipulado legalmente para esse efeito. Para os pais e mães das crianças que frequentam aquela escola, pouco interessa saber se a culpa da situação decadente daquele estabelecimento de ensino é do Ministério da Educação ou da Câmara Municipal. Escolheram o palco da Assembleia Municipal por ser o mais imediato e próximo. Mas o que interessa realmente é que se solucionem os problemas que levam já semanas, meses, anos. Isto causa nesta comunidade educativa em concreto angústias e frustrações permanentes. Assim, é perfeitamente admissível que alguns protestos de pais e mães tivessem sido vociferados de forma veemente na Assembleia Municipal e que chegassem mesmo a interromper o regular funcionamento dos trabalhos. Nem todos temos o sangue frio necessário para calar as injustiças que vivenciamos e fazer de conta que não ouvimos as justificações vazias de um edil que normaliza e dá como resolvida uma situação que persiste há tempo demais.
Na escola D. Pedro Varela falta muita coisa. Mas neste preciso momento falta pessoal não docente que permita o regular funcionamento do estabelecimento, nomeadamente garantir o serviço de bar ou de papelaria. O Presidente da Câmara refugia-se em rácios destes funcionários superiores aos exigidos por lei. Não duvido que seja verdade esta afirmação. Mas este é mais um caso em que a teoria não tem reflexo prático. Ou seja, o quadro da escola até podia ter mais trabalhadores do que alunos, a realidade é que por qualquer razão, seja por baixa médica seja por outro motivo, estes trabalhadores não se encontram ao serviço. E isso é indiscutível.
No caso de Montijo, o município assumiu as competências relativamente a algumas áreas referentes à escola pública. Uma das responsabilidades autárquicas é a contratação de pessoal não docente. Claro que a autonomia das escolas deve ser preservada e que a Câmara não se deve imiscuir na sua gestão. Quero pensar que a autarquia encetou esta relação de forma consciente, pelo que não se pode demitir de responsabilidades quando as coisas se complicam. É tempo de decidir. A comunidade assim o exige.