Hoje vamos falar de (mais) um jornalista assassinado. Jamal Khashoggi. Morto por pensar de forma diferente.
Jamal Khashoggi nasceu na Arábia Saudita em 1958. Foi correspondente internacional em países tais como o Afeganistão, Argélia, Kuwait, Sudão e no Médio Oriente.
Foi-se progressivamente distanciando do regime saudita, tendo culminado com o exílio voluntário em Inglaterra e mais tarde nos Estados Unidos, onde chegou a escrever no Washington Post.
Durante este mês de Outubro, quando entrou no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, para tratar dos papéis para o seu casamento, já não regressou. A noiva, que não entrou, deu o alarme, quando constatou que Khashoggi não saiu da dependência consular saudita.
Segundo o New York Times, Jamal Khashoggi terá sido torturado e morto imediatamente.
Mais recentemente e por pressão da Turquia, o corpo do jornalista foi encontrado nos terrenos do Consulado, completamente desmembrado e com a cara desfigurada.
A Arábia Saudita é um dos regimes mais retrógrados que existem no mundo, com particular relevância para a forma vergonhosa e indigna como são encaradas as mulheres. Estas são consideradas cidadãs de segunda categoria, não podendo solicitar um passaporte, viajar, casar, abrir uma conta bancária, iniciar algum tipo de negócio, ir a uma consulta médica, sem terem a permissão do seu “guardião homem” ou tutor, em geral, algum homem da família, pai, tio, irmão ou marido.
Para além de retrógrado e autocrático, é também um regime assassino. Esta foi uma morte premeditada, por ordem directa das mais altas esferas sauditas.
Jamal Khashoggi foi mais uma voz crítica, que pagou com a vida, elevando para cinquenta e seis o número de jornalistas assassinados em 2018.
Todavia, não existe nenhum regime autocrático, ditatorial e assassino que condicione a natureza humana.
Foi assim com o Comunismo e com a sua forma mais extrema, o Estalinismo. Milhões de mortos, assassínios em massa, deportações, Genocídio, na União Soviética, China, Cambodja, Coreia do Norte, etc. A KGB, a Stasi, a Securitate, a Brigada Especial Nacional, Alexandre Soljenitsine, o Arquipélago de Gulag, Lech Valesa, Václav Havel, a Praça Tiananmen, o derrube do Muro de Berlim…
Foi assim com o Fascismo e com a sua forma mais extrema, o Nazismo. A barbárie nazi, a vergonha e o ultraje que foi o Holocausto. Seis milhões de judeus assassinados. Deportações, Genocídio. A Gestapo, a ORPA, a Brigada Político-Social, a PIDE, Picasso, Guernica, Jean Moulin, Óscar Schindler, Tuvia Bielsky, Anne Frank, Winston Churchill, Sandro Pertini…
Fascismo e Comunismo; faces opostas da mesma moeda.
Contudo, não há Comunismo, nem Fascismo, nem monarquias ou repúblicas autocráticas, violentas ou assassinas que amordacem a liberdade de pensar autonomamente, de sentir, de discordar ou de contestar. A discordância é quase sempre encarada como ameaça ao poder instalado e nunca como massa crítica dos quais os regimes se devem servir para procuramos fazer um mundo mais justo e melhor.
Se existe algo que a História da Humanidade nos ensinou é que o espírito humano não se pode acantonar, nem condicionar, nem amordaçar. Mais tarde ou mais cedo, irrompe, quebra barreiras e inunda, por vezes desenfreadamente, os nossos espaços físicos, políticos, afectivos e emocionais.
Fica aqui uma homenagem muito sentida a todos os jornalistas mortos, por se insurgirem corajosamente com as tiranias deste nosso Mundo.